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3 de Maio de 2024
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    Nossa História Adriana Tito Maciel, 28, E Munira Khalil el Ourra, 29

    Mãe

    Em uma situação incomum, Munira foi doadora de óvulos, fertilizados in vitro, gestados por Adriana . E ambas aparecem como mãe nos documentos das crianças

    RESUMO

    O procedimento foi feito antes da resolução do Conselho Federal de Medicina que garantiu, no mês passado, o direito de casais do mesmo sexo à reprodução assistida. O caso da troca de óvulos e o registro de dupla maternidade, autorizada em 1ª instância pela Justiça paulista, é tido como um caso singular no Brasil. As crianças hoje têm 1 ano e 8 meses.

    Nos conhecemos através de uma amiga. Marcamos um barzinho e, depois desse dia, nunca mais a gente se largou. Já morando juntas, sempre comentei que queria muito ter filhos. A Munira também, mas ela nunca quis engravidar. E eu dizia que tinha vontade de engravidar. Até então, eu não sabia que era infértil, só fui descobrir no decorrer do tratamento.

    TROCA DE ÓVULOS

    Quando a Adriana descobriu que era infértil, ficou deprimida, muito triste. Como era o sonho dela gestar e ela nunca poderia realizar esse desejo, a alternativa foi a de usar meus óvulos. O médico disse: "Tem uma luz no fim do túnel. A Munira doaria os óvulos para você?".

    FILHOS DAS DUAS

    Nosso plano era eu engravidar com os meus óvulos, a gente não tinha pensado na possibilidade de pegar o óvulo da outra. Fiquei mal, me dei conta de que não ia poder ter filhos com meu DNA. Mas a gente parou para pensar: eu vou gerar, vai ter um pedacinho de mim também.

    E, querendo ou não, estamos juntas, a gente vai construir uma família como outro casal qualquer. A Munira vai doar os óvulos, eu vou gerar, acho que saiu melhor que a encomenda. É como se fosse um pai e uma mãe, né?

    QUEM É A MÃE?

    Antes de eles nascerem, eu e a Adriana entramos na Justiça com o pedido da dupla maternidade para garantir respaldo para eles, tanto para bens quanto para a guarda por nós duas. Demorou bastante, quase dois anos, o que gerou constrangimento.

    A gente levava as crianças ao médico ou à escola e perguntavam "quem é a mãe?". Nós duas. "A mãe de verdade?" As duas. Sabe quando você vê cara de interrogação?

    DÚVIDA

    Na gravidez, começou a surgir a dúvida: a gente vai registrar como? Pelo fato de eu estar gestando as crianças, a certidão ia sair só no meu nome, o que não ia ser justo para a Munira.

    A parte mais difícil do tratamento ficou para ela, que teve que tomar as injeções de hormônio. E o DNA também é dela. Aí decidimos procurar uma advogada e nos informar. Ela disse que era o primeiro caso que via, que a gente ia abrir jurisprudência.

    DESISTÊNCIA?

    Foi uma luta difícil para mim e para a Adriana, houve momentos em que eu pensei em desistir, achei que a Justiça nunca fosse reconhecer.

    DUAS MÃES

    Vai sair mãe e mãe. Não vejo a hora de ir ao cartório refazer essa certidão.

    Eu e a Munira brigamos muito pelo direito dos nossos filhos e espero que outras famílias consigam o direito de registrar seus filhos.

    APOIO FAMILIAR

    A gente já tem o reconhecimento da nossa família, dos amigos. Mas, juridicamente, é muito importante [a dupla maternidade].

    O Eduardo e a Ana Luiza vão ter os direitos de todos os lados, o meu e o da Munira.

    É uma coisa mórbida, mas é real: se algo acontecesse comigo, as crianças iam ficar com quem? Jamais minha mãe ia tirar esse direito da Munira, mas tudo dependeria da minha mãe.

    CONFUSÃO

    Quando eu ou a Munira mostrarmos o registro das crianças, a pessoa vai ficar confusa com o "mãe e mãe".

    "Ué, cadê o pai?". Não, as coisas mudaram um pouco. "O nome do pai é Munira?" Não, é o nome da mãe [risos].

    EXEMPLO MASCULINO

    [As crianças] não entendem a situação, mas entendem que têm duas mães, chamam eu e a Adriana de mãe. Não entendem que não têm o pai, mas têm muito exemplo masculino, os tios estão sempre perto.

    Estão bem assistidas. Queremos que elas cresçam na verdade: não tem papai, mas a mamãe deu um jeito de trazer vocês.

    PRECONCEITO

    Não tivemos preconceito algum por parte da clínica ou do médico, muito pelo contrário. [Quando conseguimos] algumas pessoas mandaram e-mail, dizendo que a clínica não queria fazer esse tipo de tratamento.

    Quando via que era um casal homossexual, já nem aceitava.

    Uma delas citou para mim e para a Adriana que o médico mandou que elas procurassem um homem.

    HUMILHAÇÃO

    É muito humilhante você ter que passar por essas situações relatadas a mim e a Munira para ter um filho.

    NOVA RESOLUÇÃO

    Vai mudar um pouco a mentalidade dos médicos, que terão um respaldo maior. Vamos ver se acaba um pouco com esse preconceito, porque é grande a procura pelo que eu e a Adriana fizemos.

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/nossa-historia-adriana-tito-maciel-28-e-munira-khalil-el-ourra-29/2556596

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