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9 de Maio de 2024

O Complexo de Barbie e a ditadura da beleza

há 9 anos

O presente ensaio visa fazer breves considerações sobre um fato social da sociedade contemporânea. Na sociedade pós-moderna há um fenômeno comportamental que é, na verdade, uma doença psicossocial, intitulada aqui como "Complexo de Barbie". Esse fenômeno ainda não foi detalhadamente descrito na literatura, nem foi ainda meticulosamente estudado, mas trata-se sem dúvida de um fato social, senão vejamos.

O referido distúrbio se trata de uma doença social e psíquica de abrangência global, em que, na sua maioria, pessoas do sexo feminino, não conseguem aceitar seu próprio corpo, visto que sofrem de uma neurose, o que as leva a ter como ideal o padrão inatingível de beleza (PIB) imposto pela mídia, em todas as suas formas: telenovelas, revistas, internet, desfiles de moda veiculados pelos meios de comunicação etc. Esse padrão inatingível de beleza, descrito pela primeira por Augusto Cury, renomado psiquiatra brasileiro (Cury, Augusto, A ditadura da beleza e a revolução das mulheres, 2005) está sendo amplamente difundido pela mídia global, de forma que mulheres esqueléticas são apontadas como o padrão ideal de beleza. Por sua vez, são veiculadas, nesse intuito também, imagens de homens, cujos corpos são musculosos, ou "esculpidos", às custas de muitas horas de academia, e de abuso de medicamentos (anabolizantes, inibidores de apetite, dentre outros).

Estes corpos esculpidos remetem à lembrança das esculturas do período clássico da Grécia antiga. Dessa forma o hedonismo ou helenismo (culto ao corpo, volta aos valores gregos antigos) impera na sociedade contemporânea. Junto com isso vem a super valorização da forma em detrimento do conteúdo. É importante lembrar que também na época do Renascimento essa cultura grega foi resgatada, podendo-se constatar esse fenômeno nas esculturas de Miguelangelo e nos relatos da história da arte do referido período. Da mesma forma, na sociedade contemporânea o recrudescimento dessa cultura pode ser observado.

Pode-se constatar, assim, que o emblema da figura mítica de Diana, escultura grega e figura mitológica dessa época clássica, ficou no inconsciente coletivo, pois além de influenciar artistas na época do renascimento europeu, influencia hodiernamente a sociedade contemporânea globalizada. Em substituição ao mito de Diana, a boneca Barbie vem sendo utilizada pela indústria do consumo moderna, em que, como brinquedo favorito de muitas crianças, desempenha um papel preponderante na manutenção da neurose pela busca do corpo "perfeito". Observa-se aqui com esse fenômeno que crianças, que deveriam brincar com bonecas modelos de bebês, celebrando sua futura maternidade, brincam ao invés disso, com a Barbie, o que vem provocar a erotização precoce das mesmas. Daí essa patologia receber a alcunha de "Complexo da Barbie".

Vale ainda ressaltar que essa doença social, geralmente, vem associada com outros distúrbios mentais, como depressão, ansiedade, bulimia, síndrome do pânico, e outros transtornos mentais, podendo levar, nos casos mais graves ao abuso de drogas lícitas e ilícitas, e até mesmo ao suicídio ou tentativa de suicídio. Além disso, há, associado a esses transtornos, um sério problema de baixa auto-estima: Quem é vitima do Complexo da Barbie não consegue aceitar seu próprio corpo, e nunca fica satisfeito com o mesmo. Tal fato leva a pessoa a buscar ajuda na cirurgia plástica, que na maioria dos casos, é supérflua, e ineficaz, pois não vem para corrigir um defeito físico existente, mas sim para alimentar a neurose da busca pelo corpo perfeito (ou do corpo da Barbie). Nesse diapasão, jovens vítimas da ditadura da beleza se tornam assim reféns da própria doença e reagem portanto de forma neurótica, tentando inutilmente alcançar um padrão de beleza que é irreal e inatingível.

Diante da exposição dos fatos, urge conscientizar a sociedade sobre esse problema, e difundir reflexões sobre esse distúrbio, no sentido de se trazer à consciência de que, na verdade, a beleza pode ser natural, e de que a natureza humana não precisa ser desvirtuada. Além disso, não é salutar se prestar culto ao próprio corpo, o que é uma forma de idolatria, pois aprisiona e traz ansiedade desnecessária; O excesso de ansiedade pode desencadear depressão. Daí a importância de se difundir conhecimentos sobre essa doença psicossocial global, prevenindo diversos distúrbios psíquicos.

Cabe ressaltar, porém, que, logicamente, existem casos em que há um defeito físico real, estético, congênito, no corpo (de nascimento) ou adquirido (acidentes como queimaduras etc), e que, em que tais casos, há uma necessidade verdadeira e real de se submeter a uma cirurgia plástica reparadora. Esses casos não se enquadram, portando, na neurose da busca incessante e irreal pelo corpo perfeito, a que se refere o presente estudo. Nesse diapasão, não há o que se questionar sobre a validade e a importância de se buscar hábitos saudáveis de vida, com o intuito de se prevenir diversos tipos de enfermidades metabólicas.

Concluindo, o ser humano se difere dos animais irracionais, pois o mesmo tem perfeita consciência do certo e do errado, do bem e do mal, tem liberdade de escolha e tem a capacidade, portanto, de questionar seus comportamentos. Pode, consequentemente, romper o cárcere da ditadura da beleza e buscar viver uma vida saudável, pois isso é sensato e salutar: mas sem exageros, sem recair nessa patologia social, que é a neurose pela busca do corpo perfeito, característica do hedonismo contemporâneo.

  • Sobre o autorRosângela Lobo Teixeira Zizler
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