O desastre das éticas modernas
Um dos traços definidores da Filosofia moderna é a negação de forma substancial nos entes extramentais. Se não há substância nas coisas, estas ficam depauperadas, desprovidas de ousia, de riqueza insondável. Assim, não fazia sentido seguir com a investigação metafísica árdua e metódica; os filósofos modernos não podiam senão vasculhar sofregamente o seu próprio eu, até o ponto de elaborarem gnosiologias hipertrofiadas, resistindo à incontornável tentação do solipsismo a fim de não perderem os seus fenomênicos admiradores. O seu grande entrave era que, para ser reputados como filósofos, tinham de elaborar uma ética a partir de seres sem finalidade intrínseca. E daí saíram éticas capengas, que variaram entre a utilidade rasteira e a postulação gratuita, as quais terminaram destroçadas sob o mostrengo martelo de Nietzsche. Perante a ética estilhaçada, muitíssimos reles mortais, destinatários finais da Filosofia, encontraram como válvula de escape para as suas angústias uma combinação de eterno retorno enlouquecedor e doses cavalares de psicotrópicos.
0 Comentários
Faça um comentário construtivo para esse documento.