Painel sobre acordos internacionais e mudanças climáticas abre seminário da Comissão de Saúde
Na abertura dos trabalhos, o presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente disse que o objetivo era “pensar em políticas públicas, programas e ações para mitigar os impactos das mudanças climáticas, buscando soluções que apontem para um novo modelo de desenvolvimento baseado na sustentabilidade”.
O primeiro painel do seminário trouxe o coordenador do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jefferson Cardia Simões, que abordou o tema “Mudanças climáticas globais e os impactos sobre o meio ambiente e a população: compromissos nacionais e acordos internacionais”. Ele iniciou sua fala afirmando que o Rio Grande do Sul estava atrasado no assunto. “Atrasado em termos de visualizar o futuro do Estado”, declarou. O pesquisador explicou que mudanças climáticas sempre ocorreram e sempre iriam ocorrer, por vias naturais, mas que o que se verificava hoje era uma intensificação dessas mudanças. “Estamos em um momento em que é preciso pensar o futuro do Estado, especialmente um Estado com uma dependência muito grande da Agricultura”, disse Simões. “Como (as mudanças climáticas) irão atingir as diferentes culturas nas próximas duas ou três décadas e como mitigar essas mudanças”, acrescentou. “Se não tivermos essa visão, o nosso caminho será muito duro, e vamos perder mais ainda espaço no cenário econômico brasileiro”.
Conforme o pesquisador, o Rio Grande do Sul não deu a devida importância aos dados referentes à sua história climática dos últimos 200 anos. “Não há como falar em variabilidade climática do futuro sem ter o conhecimento do passado”, disse. “Não há substrato”.
Cenários para a América do Sul
Com relação aos cenários atuais e possíveis para a América do Sul, explicou que algumas culturas, como a do café, por exemplo, poderiam “descer” mais para o Sul e se tornar inviáveis onde ocorriam hoje. Já se observava, segundo ele, um aumento da umidade no Rio Grande do Sul. A temperatura média do Rio Grande do Sul poderia ir de 14-16 graus para até 20 graus em algumas áreas. “Isso é observável”, disse, assim como a amplitude diária (diferença entre a temperatura mais alta e mais baixa no dia) e o aumento dos dias do ano com chuva em Porto Alegre.
Especialista em regiões polares, o pesquisador explicou ter sido convidado a falar sobre os dados mais recentes da visão global das mudanças no clima e aproveitou para criticar o que chamou de campanha de desinformação organizada por grupos libertários, que culminou, segundo ele, com o que se vê nos Estados Unidos e também com o “desmonte da ciência no Brasil a uma velocidade nunca vista”. Ele citou a confusão de conceitos explicando que mudanças climáticas não eram sinônimo de aquecimento global ou de efeito estufa. Disse que o efeito estufa era um fenômeno natural que permitia que o planeta Terra tivesse uma temperatura média em torno de 15 graus e que a preocupação era com a intensificação desse fenômeno, ocorrida especialmente a partir da Revolução Industrial.
Consequências da ação do homem
O cientista descreveu pesquisas que realiza na Antártida, explicando que, pela coleta e exame de materiais, era possível comprovar determinadas mudanças ocorridas. Os resultados mostravam, segundo ele, que a concentração de dióxido de carbono e de metano nos últimos 200 anos, isto é, a partir da Revolução Industrial, era a mais alta dos últimos 800 mil anos e os anos mais quentes dos últimos mil anos eram os atuais. A concentração de dióxido de carbono teria aumentado 40% desde a Revolução Industrial e a de metano, 50%.
Ainda segundo o pesquisador, estima-se um aumento de no mínimo mais um grau e meio até o final do século na temperatura média global, nos melhores cenários, ou até seis graus nos piores cenários. Uma das consequências era o aumento do nível dos mares pelo derretimento das massas de gelo. Como exemplo da gravidade dessa situação, com consequências inclusive geopolíticas, mencionou o mar congelado do Ártico. Disse que o sonho das grandes descobertas era encontrar uma rota entre a Europa e a Ásia pelo Ártico, o que por 500 anos não se conseguiu em razão do mar congelado, mas que essa realidade estava mudando. O descongelamento estava fazendo com que países como a China investissem pesado no Ártico, visualizando a possibilidade dessa nova rota, que resultaria em economia de 100 mil dólares a cada viagem e redução de 5.200 quilômetros no caminho entre Roterdã, na Holanda, e Ulsan, na Coreia do Sul, por exemplo.
Críticas a Donald Trump
O pesquisador da UFRGS criticou a postura de Donald Trump, afirmando que as medidas populistas adotadas pelo presidente americano com o objetivo de agradar ao eleitorado mais conservador aliado aos irmãos Koch da indústria petroquímica que, junto com a Exxon, financiaram a campanha de desinformação dos últimos anos, estava fadada a falhar. O próprio Pentágono, segundo ele, não apoiava as medidas de Trump e cinco anos atrás já havia modificado sua política militar de submarino para a superfície no Ártico pelo fato de o mar congelado estar desaparecendo. Toda a comunidade científica também estava contra Trump, segundo o pesquisador.
Painéis à tarde
O seminário prossegue à tarde, das 14h às 17h, com mais dois painéis: Caracterização dos conflitos socioambientais frente às mudanças climáticas, com a professora Lorena Freury, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Desafios da produção de alimentos saudáveis frente às mudanças climáticas, com o professor André Gonçalves, do Instituto Federal de Educação de Santa Catarina.
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