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6 de Maio de 2024
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    Pais afetivos também são para sempre

    Mais uma de multiparentalidade

    Publicado por Iane Ruggiero
    há 6 anos

    Estudo de caso

    Essa decisão me lembra tantos casos de que participo tanto na minha advocacia de família, quanto na minha atuação como mediadora no CEJUSC. Me remete a questões muito importantes, que conversamos muito também em nossa equipe de trabalho de Práticas Colaborativas com as psicólogas.

    Uma delas, a importância de se dar um tempo após o fim de um relacionamento. Dar-se um tempo para sofrer o fim de algo importante que acabou (o luto, tão importante); para refletir sobre o que gostaria de fazer diferente no próximo relacionamento; para se conhecer sozinho, voltar a conectar-se consigo mesmo, com quem é, seus sonhos, conseguir cuidar de si mesmo de forma amorosa; a outra é a fluidez selvagem com que paternidade vem sendo tratada em alguns casos.

    Muitos desses casos são de pessoas que emendam sistematicamente relacionamentos, nunca estando sozinhas, nunca elaborando os aprendizados do relacionamento anterior e do seu fim, nunca assumindo suas responsabilidades, repetindo, assim, ciclicamente, padrões muito similares.

    Mas, o que mais chama a atenção (preocupa, na verdade) nesses casos é o quanto é comum que alguns pais e mães acreditem que, construindo um novo relacionamento, o passado deixa de existir. Em especial, o passado da criança.

    É comum vermos casos de pessoas que, diante da grande dor do fim de um relacionamento que não conseguiram elaborar, decidem "seguir em frente", unindo-se de forma conjugal rapidamente a uma nova pessoa.

    Quando são guardiões dos filhos, por vezes colocam essa pessoa instantaneamente no papel de pai ou mãe dos filhos (esses padrastos e madrastas instantâneos às vezes até registram os filhos que não são seus!). O desesperador é que, quando seus relacionamentos acabam, com a mesma instantaneidade, esperam que aquele pai afetivo deixe de ser pai: "Não é mais meu cônjuge, logo não será mais seu pai!"

    Quando não detentores da guarda e sendo afastados do convívio com os filhos, muitos resolvem"recomeçar", tendo mais filhos, esses sim, que morarão com ele/ela, como se só assim se pudesse ser plenamente pai/mãe e como se a vinda de um novo filho fosse capaz de suprir ferida da falta do outro...

    Não sei se foi o caso em questão. Mas me remeteu a essas situações que vivencio com tanta frequência. Sofro, principalmente, com a banalização dos sentimentos dos filhos e da sua história, sua origem, a sua paternidade e maternidade, tão relevantes para a sua personalidade.

    Se os relacionamentos amorosos são descartáveis, se essa é uma característica do nosso momento social, sem problemas para os adultos que buscam sua realização, desde que aprendam com cada experiência de modo que sejam, efetivamente, mais felizes a cada relacionamento.

    Mas a paternidade e a maternidade não são descartáveis. São eternas. São profundas. Fazem parte (até geneticamente) de quem você é. Pai e mãe não são alterados conforme as uniões conjugais dos genitores.

    É maravilhoso ver a Justiça reconhecendo a afetividade, o valor da paternidade de fato. Eu mesma tenho um pai afetivo, que foi construído, "gestado" ao longo de muitos anos de amor e dedicação.

    Mas é triste que muitas vezes ela seja mais uma paternidade descartável. Quantos pais precisará ter uma criança até que se torne adulta?

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/pais-afetivos-tambem-sao-para-sempre/572738826

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