Planos de saúde e falta de transparência

Por José Fishenfeld
jose.fishenfeld@gmail.com

Sou arquiteto e tenho 88 anos. Sou idoso “duplamente”. Meu plano de Saúde é UNIMAX sem carência, coletivo UNIMED/SENGE. Pago em dia desde 1996. Sou saudável e uso muito pouco este plano.

No mês passado fui informado que o valor mensal seria elevado em 28,3%. Pretendia saber os valores pagos para os que me atenderam nas clinicas médicas, nos laboratórios, exames e etc. Assim eu poderia obter elementos para verificar a origem dos aumentos exagerados dos planos de saúde.

Para tanto compareci na Unimed tendo que passar por vários atendentes, e a informação foi de que é o SENGE quem deve informar. Fui ao SENGE - Sindicato dos Engenheiros e disseram que cabe à Unimed fornecer os dados. Lá se foi um tempo perdido e um desgaste desnecessário e, além disto, um desrespeito ao Estatuto do Idoso e, talvez, ao Código do Consumidor.

Depois de muita insistência o SENGE me enviou uma planilha Excel contendo dados minuciosos dos meus atendimentos desde 2013 até 2019, com 17 colunas informativas de (“A” a “U”). Mas em nenhum dos atendimentos indicados constam os valores pagos - que, justamente é o que quero saber. Voltei novamente às duas instituições, insistindo com a Unimed e o SENGE, que se negam a atender o meu pedido.

Continuaram a dar a mesma “informação”, num jogo de empurra-empurra, dizendo que é a outra instituição que deve informar. Questionei: por que não existir transparência, que hoje em dia é comum na maioria dos órgãos?

Ninguém respondeu! Na planilha comprova-se que o meu uso é reduzido e além disto não utilizei nenhuma vez durante os anos 2016 e 2017. O aumento previsto a partir de ontem, 9 de março, terá acréscimo de 28,3%, e mais algumas taxas no primeiro mês, conforme consta no DOC enviado pelo SENGE.

Minhas duas aposentadorias no INSS e IPE, neste mês são respectivamente R$ 1. 528,65 e R$1.654,95 - somadas, são R$ 3.183,58. O valor mensal conforme DOC, enviado pelo SENGE, indica um valor total de R$ 3.223,83, com a inclusão de quatro componentes. Mais do que a soma das minhas duas aposentadorias.

Exigi protocolos de atendimentos, mas as informações não são precisas, pois só informam o que lhes interessa. Diante disto tudo, também reclamei no PROCON. Fui muito bem atendido, inclusive conversei com o Doutor Luiz que tem se esforçado para solucionar o problema. Ocorre que o PROCON é um órgão público que está submisso a normas e prazos, que beneficiam as empresas que preferem esgotá-los para protelar informações.

Por outro lado, ouvi de diversos funcionários das empresas que seria conveniente a minha desistência na continuação do plano. Será que alguma outra operadora de saúde aceitaria um idoso com 88 anos?

Seguramente isto só aconteceria se o meu pagamento inicial fosse bem elevado, pois as empresas dizem que os idosos dão mais despesas do que os jovens, que não é o meu caso e por isto se negam a fornecer os valores que pagam pelos meus atendimentos, com os quais ficaria demonstrado que cobram exageradamente de mim, há muitos anos.

Tenho lido no Espaço Vital artigos sobre os aumentos exagerados nos planos - especialmente o da Dra. Ligia Bahia, publicado no dia 27.02.20 - senti-me animado a dar conhecimento de como agem as empresas do meu plano.

O artigo da Dra. Ligia Bahia traz verdades que atingem os idosos, que - se reagirem - inundarão o Judiciário já abarrotado de processos. Certamente inúmeras pessoas têm os mesmos problemas e por isto têm que ser revistos os critérios de aumentos, com redução dos valores exagerados para os idosos.

As operadoras não podem agir livremente, sem respeitar os contratados em especial dos idosos. Finalmente , ao que parece, só me restará o ingresso com uma ação judicial, para que eu seja atendido no meu pedido pela indicação dos valores pagos nos meus atendimentos, neste plano que pago há 24 anos ininterruptos.

Leia na base de dados do Espaço Vital:

“Idosofobia”: um pênalti contra os idosos, e a favor das operadoras dos planos de saúde