Preso, Valério tumultua audiência do mensalão

Tribunal de Justiça baiano nega pedido de liberdade à defesa do empresário

Mesmo preso na Polinter da Bahia, o empresário e lobista Marcos Valério, via advogados, tentou nesta terça-feira (6) protelar, mais uma vez, a audiência do processo conhecido como mensalão mineiro, que tramita na Justiça de Minas desde 2009.

Praticamente no mesmo momento em que tentava postergar o andamento do processo em Minas, a Justiça baiana indeferia o seu pedido de habeas corpus, impetrado pela defesa, na tentativa de livrá-lo da cadeia, em Salvador, onde cumpre, desde o último sábado, prisão preventiva. A acusação é de fraude em registros de fazendas fantasmas na cidade de São Desidério, no Oeste baiano. A Justiça também negou o pedido de liberdade de seus ex-sócios Margaretti Maria de Queiroz Freitas, Francisco M. Santos e Ramon Hollerbach.

Descoberto pela Polícia Federal e Ministério Público Federal (MPF), o mensalão mineiro foi um suposto esquema de caixa dois que teria desviado dinheiro público para abastecer a campanha de reeleição malsucedida do então governador de Minas, Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998.

Apesar de ser a última audiência para ouvir as testemunhas arroladas pelo Ministério Público Estadual (MPE) de Minas, a defesa de Valério pediu seu adiamento, alegando que ele tinha o direito de presenciar a instrução do processo em que figura como réu. Titular da 9ª Vara Criminal do Fórum Lafayette, a juíza Neide da Silva Martins indeferiu o pedido e determinou a continuação da oitiva.

Em fevereiro deste ano, Valério não compareceu e pediu sua dispensa, o que foi deferido à época. Na primeira audiência, em novembro de 2009, ele compareceu, mas foi embora, tendo em vista que alguns réus não foram intimados. As pessoas brincam com a Justiça. Respeito o posicionamento da defesa, mas entendo que o objetivo é postergar o processo, protestou a juíza Neide Martins.

Mesmo com o indeferimento do pedido da defesa, teve início outro embate. Desta vez, envolvendo o endereço do réu. A defesa garantiu que ele foi intimado na quinta-feira, um dia antes de ser preso na Rua Expedicionário Nilo Pinheiro, na Pampulha. No entanto, não há documentos no processo que comprovem que Valério foi intimado de fato.

Depois de muita discussão, a juíza ainda teve que nomear um advogado de fora do processo, pois o defensor dos réus Cristiano Paz e Lauro Wilson, advogado Castelar Modesto Guimarães Filho, simplesmente faltou e não justificou sua ausência. Superado o tumulto, a única testemunha presente do MPE, o ex-presidente do Atlético Paulo Cury, de 83 anos, prestou depoimento e disse não se lembrar de nada. Enquanto isso, os advogados dos réus acompanhavam a audiência em clima de festa e com gargalhadas contidas. Dois deles chegaram até apostar R$ 10 onde seria a verdadeiro endereço de Valério.

No fim, a advogado do ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, presidente do estadual do PSB de Minas, refutou a tese de prescrição levantada pelo criminalista Marcelo Leonardo, defensor de Valério. Não vamos pedir a prescrição mesmo porque o doutor Walfrido confia na Justiça e tem certeza que será inocentado, afirmou Camila Vargas do Amaral.

Não há data para o julgamento final do mensalão mineiro. Agora, os réus poderão arrolar as testemunhas de defesa. A estimativa é que serão mais de 100 pessoas e não está descartada a possibilidade de testemunhas que foram fora do país. Depois das testemunhas de defesa, haverá um interrogatório dos réus. Ao todo, o processo tem 47 volumes e cerca de 16 mil páginas. (Hoje em Dia)