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16 de Junho de 2024
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    Profissionais de segurança pública têm dificuldade de conciliar dupla jornada, mostra pesquisa

    Publicado por Agência Brasil
    há 11 anos

    Isabela Vieira

    Repórter da Agência Brasil

    Rio de Janeiro- As profissionais de segurança pública têm dificuldade de conciliar a dupla jornada de trabalho - no quartel e em casa em função da falta de rotina nas escalas e os turnos à noite. A constatação é da pesquisa Mulheres na Segurança, do Ministério da Justiça, divulgada em fevereiro. Segundo a pesquisa, as mulheres policiais e as do Corpo de Bombeiros também sofrem com a falta de condições adequadas de trabalho.

    Como uma mulher trabalha 12 horas, menstruada, sem um banheiro? [Se] não temos um armário para deixar nosso uniforme [como] não correr risco [de ser identificada] com a farda na mochila? Como eu, [que tenho 1,60 metro de altura], tenho que decidir entre usar um colete [tamanho] extra G - que deixa as costas destruídas ou [correr o risco de morrer porque não o estou usando]?, questionou uma das entrevistadas.

    As denúncias se estendem à Polícia Civil do Rio, comandada pela delegada-chefe Martha Rocha. A corporação, que não forneceu dados sobre o percentual de mulheres em seus quadros, é denunciada por policiais e escrivãs de cortar gratificações salariais quando as funcionárias entram de licença-maternidade. Isso beira a covardia, [justo] quando mais precisamos, disse outra agente.

    Segundo o levantamento, a discriminação também faz parte da realidade dessas mulheres, seja na Polícia Militar, seja no Corpo de Bombeiros. Piadas ou constrangimentos de colegas ou do público são os sinais mais frequentes do problema. Uma inspetora da Polícia Civil conta que ouviu de um superior a seguinte frase: Mulher policial ou é piranha ou é sapatão.

    A pesquisa constatou que essas profissionais acabam assumindo postura mais rígida para se defender, o que no limite é uma contradição com a proposta da entrada de mulheres nas instituições policiais, na década de 1980, que era humanizar as relações, disse a socióloga Wania Pasinato, coordenadora do levantamento.

    Ela disse que ouviu o seguinte relato de uma das entrevistadas: Eu sorrio muito menos. Sorrir seria só expressar simpatia, mas pode gerar um constrangimento porque pode ser mal interpretado. Segundo Wania, as mulheres foram incorporadas à segurança pública, mas com a condição de se adaptar. As instituições não lhes deram nenhum recurso para que sejam mulheres policiais, completou.

    Edição Tereza Barbosa

    Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir as matérias é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil

    Polícias e Corpo de Bombeiros Rio negam críticas de que ignoram assédio a mulheres

    Isabela Vieira

    Repórter da Agência Brasil

    Rio de Janeiro- As instituições de segurança pública não reconhecem que as corregedorias e ouvidorias são insuficientes para enfrentar casos de assédio sexual, de assédio moral e de discriminação contra a mulher nas corporações. As práticas estão entre as principais queixas de profissionais das polícias Militar, Civil e do Corpo de Bombeiros. A constatação é da pesquisa Mulheres na Segurança, do Ministério da Justiça. Divulgada em fevereiro.

    O levantamento traçou um retrato das mulheres profissionais de segurança pública no país e constatou que não há canais de denúncia confiáveis, que não resultem em novas punições e constrangimentos para as vítimas, como a transferência. O documento sugere ao governo federal que receba e avalie os casos por meio da Secretaria de Políticas para Mulheres.

    O que nos surpreende é que em quase 50 anos da entrada de mulheres nessas instituições, não identificamos nenhuma instituição que tenha se preocupado em criar canais de denúncia e de enfrentamento da situação assédio tanto sexual quanto moral e de discriminação, disse a socióloga Wânia Pasinato, que coordenou a pesquisa. Ela estuda o tema há 20 anos.

    A primeira mulher promovida a coronel na Polícia Militar Rio de Janeiro (PMRJ), Kátia Neri Nunes Boaventura, que comemora este mês 30 anos de formação, é a única na cúpula da corporação. Ela acredita que as práticas de assédio não são exclusividade da instituição, mas avalia que o fato de a PM ter hierarquia contribui para confundir as coisas.

    Acho que as mulheres têm que se impor, se dar ao respeito, mas acredito que as pessoas possam ter passado por situações difíceis. Isso é uma coisa do mercado de trabalho, embora na polícia [Militar] a gente tenha uma certa diferença, que é a hierarquia, disse Kátia. A instituição tem 3,5 mil mulheres, de um efetivo de 45 mil policiais.

    Segundo a coronel, a instituição tem uma ouvidoria e uma corregedoria que recebe as denúncias e dá a elas o tratamento adequado. No entanto, ela não considera que as mulheres são desmotivadas a prestar queixas.

    Para a coordenadora da pesquisa, o assédio é um problemas das instituições de segurança pública, que se agrava por causa da hierarquia. É um peso a mais porque inibe uma reação, silencia [o subordinado], muitas vezes até de uma maneira violenta. Isso se aplica não só à PM e ao Corpo de Bombeiros, como também às Forças Armadas, reforçou a pesquisadora.

    No Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, onde profissionais também relataram assédio, o cargo de ouvidor é ocupado por uma capitã. Em nota dirigida à Agência Brasil, a corporação informou que ali existe excelente integração de homens e mulheres e que o regulamento já pune comentários preconceituosos" contra as mulheres, que são 16% da corporação - a maioria em cargos da área de saúde.

    O levantamento também constatou que as cotas restritivas à entrada de mulheres nas corporações militares são barreiras que dificultam mudanças nas políticas institucionais em favor da igualdade de gênero, além de impedirem que mais mulheres cheguem aos postos mais altos.

    A Secretaria de Políticas para as Mulheres, ao saber da recomendação da pesquisa, disse que analisa a gestão do atendimento de denúncias feitas pelas policiais e que a presença de mulheres na segurança corresponde à dinâmica geral do mercado de trabalho. A Polícia Civil não respondeu à Agência Brasil.

    Edição Tereza Barbosa

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/profissionais-de-seguranca-publica-tem-dificuldade-de-conciliar-dupla-jornada-mostra-pesquisa/100383392

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