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5 de Maio de 2024
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    Relatório do BC aponta detalhes da fraude no PanAmericano

    há 13 anos

    Rombo: Banco informava R$ 1,6 bi em créditos cedidos e compradores apontavam R$ 5,5 bi  

    Cristine Prestes | De São Paulo 

    O relatório preliminar do Banco Central (BC) sobre o rombo no Banco PanAmericano, concluído no ano passado, apontou para um desequilíbrio patrimonial de R$ 2,0786 bilhões no banco e de outros R$ 312,4 milhões na PanAmericano Administradora de Cartões de Crédito Ltda., somando R$ 2,39 bilhões. Até agora, os detalhes do rombo que motivou o aporte de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito em novembro não haviam vindo à tona. A descrição detalhada encontra-se em documento ao qual o Valor teve acesso e que aponta inconsistências relevantes na cessão de créditos da instituição.

    Segundo o BC, enquanto o banco de Silvio Santos informava um total de R$ 1,60 bilhão em carteiras de crédito cedidas, os bancos compradores dessas carteiras informavam que esse total era de R$ 5,59 bilhões.

    Os problemas não se restringiram às informações desencontradas sobre o valor das carteiras cedidas e compradas. O PanAmericano também apresentava informações conflitantes em seus balanços em relação a essas carteiras. Enquanto em um determinado mês algumas delas eram apresentadas como cedidas, em outras voltavam a fazer parte da carteira de créditos do banco - sem, no entanto, haver registro de qualquer recompra dos créditos. Segundo o relatório do BC, os ativos inexistentes no balanço do banco por causa dessas operações somavam R$ 1,4 bilhão.

    Outra fonte dos problemas contábeis do PanAmericano foi a forma de contabilização de contratos de empréstimo. Em alguns casos em que os tomadores de créditos estavam inadimplentes, esses valores devidos deveriam ter sido baixados da carteira de crédito e colocados na conta "bens não de uso próprio", que incorpora as garantias dadas nos empréstimos e assumidas pelo banco. Da mesma forma, há situações em que os contratos foram quitados antes de seu vencimento pelos clientes, mas que as parcelas futuras continuavam a fazer parte das carteiras de crédito, que eram cedidas. E, em uma terceira situação, saldos devedores refinanciados foram mantidos como cedidos. Somente esses três tipos de problemas nos contratos envolvem a quantia de R$ 673,7 milhões.

    No caso da administradora de cartões de crédito do PanAmericano, a fiscalização do Banco Central apurou que rombo chega a um total de R$ 312,4 milhões, decorrente de perdas em carteiras que não foram contabilizadas.

    O relatório produzido pelo Banco Central foi encaminhado à Polícia Federal, que abriu um inquérito para investigar supostos crimes financeiros cometidos pelos executivos que estavam no comando do PanAmericano até o fim do ano passado.
     
    Suposto desvio pode envolver contratos com companhias de diretores do banco 

    Uma das teses que surgiram durante as investigações que apuram as causas do rombo na contabilidade do Banco PanAmericano é a de que alguns de seus ex-diretores tenham desviado recursos da instituição - e que o modus operandi desses desvios teria sido a celebração de contratos entre empresas do grupo de Silvio Santos e companhias cujos sócios são esses executivos.

    O Valor apurou que no decorrer das investigações realizadas pelo Banco Central (BC) e pela Polícia Federal (PF) foram identificados contratos fechados entre o PanAmericano e empresas ligadas aos ex-diretores. Um dos alvos principais dessas investigações, segundo fontes ouvidas pela reportagem, é o ex-presidente do banco, Rafael Palladino.

    Palladino trabalhava no banco de Silvio Santos desde 1991 e foi afastado em meados de novembro, após a descoberta de irregularidades no balanço da instituição. Embora ocupasse o posto de diretor superintendente do PanAmericano, Palladino é sócio de diversas empresas registradas na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) e no Departamento de Estado da Flórida.

    Na junta paulista o executivo tem dez empresas registradas, algumas em seu nome, outras em conjunto com sua esposa, Ruth Ramalho Palladino, e as demais têm como sócias outras companhias de sua propriedade. Dessas, três são postos de combustíveis, uma de transporte de cargas, duas de eventos e promoções, uma de negócios imobiliários e as demais de participações de investimentos.

    Já as três companhias registradas por Palladino na Flórida - a Artech 526 LLC, a Ivy PH5 LLC e a Max America of Florida LLC - foram registradas entre o segundo semestre de 2009 e o fim de 2010. Em nome delas estão dois imóveis localizados em condomínios de luxo em Miami Beach, que foram adquiridos por pouco menos de US$ 2 milhões.

    Não se sabe, até o momento, se há alguma medida tomada pelas autoridades brasileiras para pedir à Justiça americana o bloqueio das propriedades de Palladino em nome de suas empresas no exterior. No Brasil, no entanto, o Valor apurou que quatro de suas empresas - a Max Control Evento e Promoção, a Max América Participações, a Max América Negócios Imobiliários e a RCF - Administração e Participações - tiveram suas contas bancárias bloqueadas por decisão da Justiça Federal. A suspeita é a de que tenha havido desvio de recursos do PanAmericano por meio dessas companhias mediante a prestação de serviços. As contas de Palladino e de outros quatro diretores e três funcionários do PanAmericano investigados também foram bloqueadas.

    Procurado pela reportagem, Rafael Palladino informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que dará entrevistas somente após prestar depoimento à Polícia Federal e à Justiça. (CP)

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