Saúde mental é debatida na Jornada da Inclusão

Dimang Kon Beu/SES-MG Com o objetivo de fomentar a discussão sobre as formas de tratamento aos deficientes mentais e a internação em hospitais psiquiátricos, foi realizada uma mostra audiovisual, durante os três dias da programação da 3ª Jornada da Inclusão da Pessoa com Deficiência. Finalizado neste domingo (21), o evento contou com a presença do cineasta Helvécio Ratton e da coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Marta Elizabeth.

Na mostra foi exibido o filme "Em nome da razão", dirigido por Ratton, gravado em Barbacena, no ano de 1979. A obra denuncia o abandono, os maus tratos e a exclusão a que eram submetidos os pacientes. O diretor ressalta que o filme cumpriu o papel de registrar a forma como a sociedade trata a loucura que ela mesma produz. "É um registro do horror de uma época em que entre cinco a seis mil pessoas ainda eram internadas em hospitais a espera da morte," ressalta.

O cineasta comentou também a incapacidade das pessoas de conviver com o diferente. "O hospício funciona como um depósito para onde vão os indesejáveis. A sociedade exclui os que não se adaptam. Nesses hospícios, quem não tem família, é confinado para sempre," opina.

Durante a mostra, foi exibido ainda um documentário sobre a Dra. Nise da Silveira, psiquiatra que revolucionou os métodos de atendimento ao portador de transtornos mentais no Brasil. Inconformada com os procedimentos violentos como o eletrochoque, o coma insulínico e a lobotomia, Dra. Nise introduziu a terapêutica ocupacional como forma de tratamento através por meio da arte, do afeto e do sentimento.

A principal função das atividades aplicadas pela psiquiatra é criar oportunidades para que as imagens do inconsciente encontrassem formas de expressão. Para isso, nos ateliês de desenho, pintura, modelagem e xilogravura os portadores de transtornos mentais criavam livremente suas obras, de modo espontâneo, sem qualquer regra ou interferência.

Após a produção dos trabalhos, Dra Nise realizava a leitura das imagens, que, para ela, muitas vezes, são mais intensas e surpreendentes que a linguagem racional. A psiquiatra acreditava na necessidade de ver o outro lado do psicótico através da arte.

Um dos talentos descobertos nos ateliês de Dra. Nise foi Fernando Diniz, interno há 50 anos no Hospital Psiquiátrico Pedro II. Aos 78 anos, Fernando realizou o filme "Estrela de Oito Pontas", exibido na mostra. A obra foi realizada com base em seus trabalhos artísticos de desenho e pintura. O filme recebeu, em 1996, três prêmios no Festival de Gramado, o principal festival de cinema do Brasil, e também o prêmio de melhor animação no Festival de Havana.

Políticas públicas

Uma das políticas desenvolvidas pela SES é a Coordenadoria de Saúde Mental, instituída a partir da Reforma Psiquiátrica e dos movimentos de luta antimanicomial. A Coordenadoria visa garantir a implantação de uma rede de serviços capaz de substituir de forma eficaz o modelo do hospital psiquiátrico.

Hoje, no Estado, a rede de atenção conta com 140 serviços, 19 centros de convivência e 70 casas de moradia em 570 municípios. No entanto, segundo a coordenadora de Saúde Mental da SES, Marta Elizabeth, "é importante que a rede de serviços esteja integrada com ações de cultura e arte," ressalta.