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15 de Junho de 2024
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    Shoppings de Prudente exibem totens contra o trabalho infantil

    Os dois principais shopping centers de Presidente Prudente (Prudenshopping e Parque Shopping Prudente) passaram a exibir, a partir do sábado, dia 12 de Outubro, Dia da Criança, anúncios fake (falsos) de empregos para crianças. A ideia, conforme a Audi Comunicação, agência de publicidade que criou gratuitamente a campanha a pedido do Fórum de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil de Presidente Prudente e Região – FPETI-PPR, é chocar e, com isso, chamar a atenção da população para o problema, que ainda afeta, segundo os últimos dados oficiais disponíveis, 2,516 milhões de pequenos brasileiros em todo o País.

    Depois de ressaltar os malefícios causados pelo trabalho precoce, o projeto publicitário, aprovado pelas instituições que integram o FPETI-PPR, estabelece o conceito da campanha: "Para chamar atenção para esse quadro tão alarmante, a ideia é criar um anúncio fake, mostrando o sangue frio de quem contrata crianças e foca em habilidades desejadas de forma tão mesquinha".

    Foram desenvolvidas quatro versões de fake ads (anúncios falsos). Todas elas trazem no cabeçalho, com fundo preto e em destaque, a chamada: "VAGA DE EMPREGO" (em caixa alta e em negrito). Logo abaixo, a surpresa: "para crianças". Aí seguem os anúncios falsos e, no rodapé, a explicação: "Essa vaga não existe, mas o trabalho infantil continua sendo realidade na vida de muitas crianças". Por fim, o convite a denunciar pelo Disque 100, canal que trata da violação de direitos humanos do governo federal, e a assinatura dos promotores: FPETI-PPR, Programa de Combate ao Trabalho Infantil da Justiça do Trabalho, Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Ministério Público do Trabalho, o cata-vento de cinco pontas (símbolo mundial de enfrentamento dessa chaga social) e Governo de Presidente Prudente.

    Os anúncios

    O primeiro dos quatro anúncios de vaga de emprego para crianças é de uma Distribuidora de Balas imaginária. O título: "Distribuidora de Balas – Infância Perdida". Abaixo, a imagem de três balas coloridas e o anúncio: "Procura-se profissional mirim com boa oratória para vendas em semáforo. Exige-se resistência ao sol e longas jornadas em vias de grande fluxo. Diferencial: formação em dramaturgia para simular doenças crônicas". Como em todas as outras versões, há o alerta da falsidade e o estímulo a denunciar casos de tal natureza.

    Outra versão traz falsa vaga para trabalhar em uma suposta fazenda, associando-a ao resultado: "Infância Destruída". O falso anúncio traz enfeixados seis pedaços de cana e o chamado: "Procura-se profissional mirim com agilidade para cortar cana e colher café. Exige-se facilidade em suportar o sol e longos períodos sem comer. Diferencial: habilidade em dirigir trator ou caminhões".

    O terceiro anúncio de falso emprego é para uma vaga numa carvoaria. Sobre uma imagem distorcida de carvão, a sentença: "Infância Infeliz". Como nos outros, a chocante frase "Procura-se profissional mirim" inicia a propaganda que segue, de forma trágica: "para trabalhar mais de 14 horas por dia sem reclamar. Exige-se resistência ao trabalho duro e força para carregar carvão. Diferencial: habilidade em operar maquinário de corte".

    A última versão retrata o trabalho infantil doméstico. "Babá – Infância Roubada" é o título da chamada para o emprego que, nesse caso, é falso. Um ursinho, uma mamadeira, chupeta e fraldas contrastam com a infeliz oferta de trabalho: "Procura-se profissional mirim com maturidade para cuidar de outra criança. Exige-se facilidade em limpar cocô, dar banho e fazer papinha. Diferencial: alfabetizada, com habilidade em atividades recreativas". No mundo real, por vezes, nem alfabetizar-se a criança ou adolescente vítimas do trabalho infantil doméstico conseguem.

    Campanha quer chocar para conscientizar

    Os últimos dados referentes ao trabalho infantil no Brasil são de 2016. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE publicou, em 2017, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Contínua, com dados de 2016, que, somados 716 mil crianças que trabalhavam para o próprio consumo e subsistência, que, por critérios metodológicos, foram excluídos das estatísticas pela primeira vez, revela que ainda eram explorados pelo trabalho precoce, naquele ano, 2,516 milhões crianças e adolescentes de 5 a 17 anos de idade.

    O IBGE promete, até o final do ano, rever os dados de 2016 e publicar os resultados da PNAD de 2017.

    O problema não é só brasileiro. No mundo, ainda são 152 milhões de crianças e adolescentes na mesma faixa etária vítimas do trabalho infantil, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho – OIT.

    Em Presidente Prudente, o FPETI-PPR foi criado em 6 de março de 2015, no mesmo dia em que foi instalado, pela Justiça do Trabalho, o Juizado Especial da Infância e Adolescência – JEIA da circunscrição prudentina, durante seminário que reuniu cerca de 500 pessoas, no Teatro "Paulo Roberto Lisboa". A partir de então, a luta contra o trabalho infantil se fortaleceu na cidade e região.

    O FPETI-PPR se reúne trimestralmente no auditório do Fórum Trabalhista de Presidente Prudente e congrega diversos órgãos e instituições, dentre os quais o JEIA e o Ministério Público do Trabalho, desenvolvendo inúmeras ações, como pesquisa recente, georreferenciada, que possibilitará a busca ativa de estudantes dos ensinos fundamental e médio da rede pública que estejam em situação de trabalho infantil, para que soluções sejam encontradas.

    A ideia da campanha foi apresentada pelo JEIA e aprovada pelos demais, para marcar o 12 de Outubro. O juiz Mouzart Luis Silva Brenes, coordenador do JEIA, explicou que "o Brasil comemora o"Dia das Crianças", anualmente, em 12 de outubro, oficializado pelo presidente Arthur Bernardes, através do Decreto nº 4.867 de 5 de novembro de 1.924". Ainda segundo ele, "a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu como Dia Universal da Criança, o dia 20 de novembro, em homenagem a data da aprovação da Declaração dos Direitos da Criança de 1.959".

    No Brasil, prossegue o juiz, "desde 1955, a partir de uma campanha de marketing por uma indústria de brinquedos, o dia 12 de outubro passou a ter uma conotação comercial e ser celebrado com presentes. Entretanto, lamentavelmente, em pleno século XXI, muitas crianças ainda não têm oportunidade de comemorar o ‘Dia das Crianças' por terem sua infância suprimida pela exploração do trabalho infantil".

    Nesse cenário, segundo o coordenador do JEIA, "devemos refletir sobre o mal que essa chaga social perpetua na vida de uma pessoa, pois a vítima do trabalho infantil, enquanto criança, é levada à evasão ou ao baixo rendimento escolar e, quando adulta, empurrada ao subemprego ou ao desemprego. Este ciclo vicioso de pobreza e de baixa qualificação profissional faz com que crianças, geração após geração, tenham roubado o direito de sonhar com a celebração do ‘Dia das Crianças' com presentes e muitas brincadeiras nas escolas e parques. É preciso nos conscientizarmos que a celebração da data perpassa pela erradicação do trabalho infantil".

    A procuradora Renata Crema Botasso, uma entusiasta da luta contra o trabalho infantil, tem participado também ativamente das ações desenvolvidas pelo FPETI-PPR, representando o Ministério Público do Trabalho.

    No caso da campanha, de forma inteligente, aproveitando a onda das fake news, a agência de publicidade valeu-se dos fake ads para, chocando, conscientizar sobre a necessidade de combater o trabalho infantil.

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