Soldados da borracha são condecorados no Centenário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré

A Assembleia Legislativa de Rondônia realizou nesta quarta-feira (06 de junho de 2012), sessão solene em comemoração ao Centenário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. O requerimento é de autoria do deputado estadual Hermínio Coelho (PSD), aprovado na sessão plenária do dia 2 de maio. Além das homenagens prestadas aos ferroviários, dois soldados da borracha foram distinguidos com o título de Cidadão Honorário do Estado de Rondônia. Ao contrário das concessões anteriores, os homenageados são pessoas oriundas das bases populares. Para o evento foram convidados os ferroviários e seus familiares, entidades ligadas ao setor cultural e histórico rondoniense, seringueiros, soldados da borracha e familiares. A sessão também foi prestigiada por alunos do Colégio Tiradentes ligado a Polícia Militar. A mesa diretora dos trabalhos ficou assim composta: deputado Hermínio Coelho, presidente; Juscelino Amaral, chefe da Casa Civil; tenente-coronel Romariz, representando o Comando da 17ª Brigada de Infantaria e Selva; juiz federal Antônio César Coelho, representando o Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região; Ricardo Leite, procurador do Iphan; professora Yeda Borzacov, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia; inspetor Donizete Aparecido Tambani, superintendente da Polícia Rodoviária Federal; e o professor Dante de Oliveira, presidente da Academia de Letras de Rondônia. Ao discursar na solenidade, o deputado Hermínio Coelho (PSD), destacou ser a Estrada de Ferro Madeira Mamoré nossa riqueza cultural, e neste sentido, a Assembleia Legislativa como Casa do Povo, deve no ano em que se comemora o seu centenário, dar destaque a epopéia de sua construção e os exemplos destes heróicos desbravadores - os ferroviários. A Estrada de Ferro Madeirá Mamoré inquestionavelmente é o maior patrimônio cultural do Estado de Rondônia, e para todos os rondonienses e rondonianos (os nossos irmãos imigrantes), este empreendimento é símbolo de empreendedorismo, da persistência, resistência, e coragem, requisitos estes que levaram a superação das adversidades, destacou o parlamentar. Além disso, prosseguiu o deputado, por questão de justiça, também deve ser evidenciado a ação dos soldados da borracha, que mesmo distante dos frontes de batalha, travaram a guerra mais violenta na inóspita Selva Amazônica. São estes os verdadeiros soldados aos quais a Assembléia Legislativa presta homenagens, declarou o presidente da ALE. Na seqüencia foi feito um breve histórico da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, pelo historiador Anísio Gorayeb. Ele defendeu durante sua apresentação que a estrada seja eleita patrimônio histórico da humanidade. Discursaram na solenidade: procurador Ricardo Leite do Iphan; professora Yeda Borzacov; seringueiro George Teles; arquiteto Luiz Leite; secretário da Secel, Francisco Leilson; advogado Juscelino Amaral. Continuando, foi assinado um documento pelo presidente da ALE, deputado Hermínio Coelho, defendendo a transformação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, em Patrimônio da Humanidade. O documento tem o seguinte teor: Excelentíssima Senhora Presidenta da República Federativa do Brasil e Excelentíssimo Senhor Representante da Unesco no Brasil A centenária Estrada de Ferro Madeira Mamoré é uma das mais fantásticas páginas da historia do Brasil e da engenharia mundial, que consolidou as fronteiras brasileiras, permitiu a ocupação de vastos territórios da Amazônia e deu origem a cidade de Porto Velho e ao Estado de Rondônia. Sua construção épica simboliza a cooperação entre mais de 50 nações, e a coragem do ser humano em busca do progresso e da prosperidade. Por suas características de excepcional valor histórico para a humanidade, requeremos ao Governo Brasileiro e à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sua inclusão na honrosa lista de Patrimônio da Humanidade. Rondônia, ano de 2012. Foram agraciados durante a sessão solene da ALE, com a mais alta honraria concedida pelo Poder Legislativo, com o título de Cidadão Honorário do Estado de Rondônia, os soldados da borracha Antônio Barbosa da Silva, baiano (88 anos) e José Romão Grande, piauiense (89 anos), presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros. Também foram homenageadas as seguintes personalidades: Manoel de Araújo Martins, presidente da Cooperativa dos Ex-Ferroviários da REFMM; arquiteto Luiz Leite, presidente da Associação dos Amigos da Madeira Mamoré; Eliana Teles de Menezes, vice-presidente da Associação dos Amigos da Madeira Mamoré; George Teles de Menezes, vice-presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros; e Dionísio Schckness, ex-maquinista da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Denúncia Na solenidade comemorativa ao Centenário da Estrada de Ferro Madeira Mamore, o arquiteto Luiz Leite de Oliveira, fez uma série de denúncias, destacando as bandalheiras e outras práticas criminosas com relação ao patrimônio histórico e cultural. Denunciou o arquiteto: Com o tombamento do Iphan, esperávamos que a ferrovia histórica estivesse salva. Mas não foi isso que vimos, prevaleceu a permissividade. Fomos espetacularmente ludibriados. Houve uma enorme influência político-partidária na questão: instituições culturais e ambientais, entre as quais o Iphan, o Ibama, Ministério Público Estadual e Federal, Advocacia Geral da União, o Serviço de Patrimônio da União, até uma parcela do Poder Judiciário, se deram as mãos. Obviamente tiveram alguns momentos de lucidez, mas isso não impediu que prosperasse obviamente da coisa pública. A Estrada de Ferro Madeira Mamoré foi vitimada por uma política de terra arrasada, que não poupou o Cemitério da Candelária, de seus túmulos multinacionais, foi totalmente destruído e desrespeitado, cedendo espaço para a sanha cruel de derrubar florestas e violar túmulos. Além disso, aterrar os restos mortais, aterrar e represar as várzeas, igarapés, derrubar a floresta, derrubar edificações históricas como ocorreu com a velha fábrica de borracha, serrarias das onze horas, o prédio do plano inclinado, a descaracterização dos almoxarifados, oficinas, o aterro do pátio ferroviário e sua desfiguração descarada por praças e a transformação em piseiro político. Na verdade estamos estarrecidos com o Iphan, tanto nacional quanto a desastrada superintendência regional de Rondônia, cujo papel é marcado pela inércia, pela conivência, e pela distorção das leis que protegem o patrimônio. Sentimo-nos abalados com atos que desfiguram esse patrimônio, por meio de pareceres de gaveta, casuísticos, capazes de autorizar o vandalismo oficial. De maneira como vem ocorrendo, honesto e justo seria o Iphan sair de Rondônia, pois não nos serve. Em vez de salvar, ele mata. Ao final da solenidade o deputado Hermínio Coelho ao se referir aos eventos comemorativos do Centenário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, declarou: Agora este importante patrimônio continua dependendo de ação concreta de gestão pública visando sua revitalização e preservação. Assim sendo, é que por intermédio desta sessão solene, se pretende render as devidas homenagens a estes heróicos e bravos ferroviários, bem como extensivamente aos soldados da borracha. Reivindicação Dos Soldados Da Borracha A sessão solene ao final foi transformada em audiência pública, quando os soldados da borracha, através de sua entidade representativa efetivaram uma série de reivindicações. Pelo Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros, participaram do evento os seguintes diretores: Antônio Barbosa da Silva, George Teles de Menezes (Carioca), e Vagner Martins Brasil. O vice-presidente do Sindsbor, George Teles apresentou as reivindicações atuais dos soldados da borracha: equiparar o soldado da borracha ao ex-combatente, garantindo atendimento médico nos hospitais das Forças Armadas; a revisão da pensão hoje de dois salários mínimos para R$ 4.500,00; e o recebimento de indenização, dinheiro este que foi desviado pelo Governo e empregado em outras áreas. Apenas nos estados de Rondônia, Acre, Amazonas e Pará existem os soldados da borracha, totalizando um contingente de 12 mil associados