Trabalhador rural é baleado durante ocupação de fazenda no sul da Bahia e pode ficar paraplégico
Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília Um trabalhador rural foi atingido por um tiro na coluna durante uma ocupação indígena a uma fazenda no sul da Bahia. O dono da propriedade registrou a ocorrência na manhã de hoje (2), na delegacia da Polícia Federal (PF) em Ilhéus (BA). Segundo policiais civis e federais ouvidos pela Agência Brasil, esse é um dos vários incidentes quem vêm sendo registrados ao longo dos últimos meses em função da disputa por terras entre índios tupinambás e produtores rurais da região.
A vítima foi levada para o Hospital de Base de Itabuna, onde está internada. De acordo com o cirurgião-geral José Henrique de Carvalho, seu estado é grave. "O prognóstico médico é muito ruim. Ainda estamos aguardando o resultado da ressonância, mas não está descartada a possibilidade dele não voltar a andar, pois uma vértebra foi seccionada, com lesão de coluna", disse o médico. Morador de Itabúna, o médico disse que o conflito por terra entre índios e produtores rurais "é muito grave". Segundo o cirurgião, no domingo outras pessoas foram levadas para o hospital com ferimentos menos graves, resultado de confrontos em outras ocupações.
Segundo o prefeito de Buerarema, Guima Barreto, ao menos 67 pequenas propriedades rurais de Buerarema, Ilhéus, Una e de São José da Vitória haviam sido ocupadas até ontem (1º). A maioria delas fica em Buerarema, onde, de acordo com Barreto, o quadro está feio.
A situação está se agravando. Se nada for feito vai haver mais derramamento de sangue, disse Barreto, se referindo à ocorrência registrada ontem (1) e aos protestos como o do último dia 24, quando casas foram incendiadas e ao menos uma loja e uma agência dos Correios foram depredadas e uma loja de abastecimento Cesta do Povo foi saqueada pela segunda vez. À frente da manifestação estavam produtores rurais cujas propriedades foram ocupadas e segmentos da população que se sentem afetados pela ação indígena.
A ocupação de fazendas foi a forma encontrada por índios tupinambás para exigir do governo federal a conclusão do processo de demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença. A área, de 47.376 hectares (um hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente a um campo de futebol oficial), foi delimitada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em 2009. Para que a reserva saia efetivamente do papel é necessário que o Ministério da Justiça expeça a portaria declaratória, reconhecendo a área como território tradicional indígena. A última etapa do processo é a homologação pela Presidência da República. Se aprovada, a reserva abrangerá parte do território de Buerarema, Ilhéus e de Una.
Diante dos confrontos e tumultos, o efetivo da Polícia Militar (PM) foi reforçado. Há duas semanas, agentes federais e da Força Nacional foram deslocados para o município. De acordo com Guima, ainda há, no centro de Buerarema, ao menos 15 barracas ocupadas por produtores expulsos de suas terras.
O governo federal tem que estar ciente de que quem cala consente e que a única forma de acalmar os ânimos é anulando o processo em que a Funai reconheceu a área como terra indígena e fazendo um novo processo, com consulta à Embrapa e aos ministérios da Cidade e da Agricultura. E enquanto isso for feito, a Justiça decretar a reintegração de posse aos produtores, disse Guima.
A Agência Brasil não conseguiu contactar nenhuma das lideranças indígenas na região.
Edição: Fábio Massalli
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