Trabalho Infantil: Pesquisa revela que quanto mais cedo se começa a trabalhar, menor será a remuneração no futuro
Qual é a melhor idade para se ingressar no mercado de trabalho? É comum a crença de que começar cedo pode ser a garantia de um bom futuro profissional. No entanto, um estudo recente publicado pela especialista Ana Lucia Kassouf, da Universidade de São Paulo (USP), revelou justamente o contrário: pessoas que começam a trabalhar durante a infância e adolescência acabam tendo salários menores na fase adulta.
A partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (relativos aos anos de 2001 a 2009 e de 2011), o estudo de Ana Kassouf compara a renda de trabalhadores adultos que possuem o mesmo nível de escolaridade mas ingressaram no mercado de trabalho em idades diferentes. Os resultados mostram que, quanto mais cedo o indivíduo começa a trabalhar, mais baixa é sua renda.
O impacto financeiro do trabalho infantil
A pesquisa mostra diferentes graus de prejuízo, que variam conforme o gênero e o nível de escolaridade do grupo de trabalhadores observado. Entre as mulheres com apenas o ensino médio completo, aquelas que começaram a trabalhar antes dos 16 anos têm salários, em média, 12,1% mais baixos do que as que iniciaram após essa idade. Já entre os homens nessa mesma situação, a perda salarial daqueles que começaram antes dos 16 anos é de 7,5%. Na comparação entre pessoas que concluíram o ensino superior, os prejuízos do trabalho precoce são maiores: as mulheres que iniciaram antes dos 16 anos apresentam renda 19,3% mais baixa, e os homens, 20,9%.
Em outros recortes da amostragem, a pesquisadora analisa a renda de pessoas que começaram a trabalhar antes dos 9 anos de idade, e nesses casos o prejuízo decorrente do trabalho infantil revela-se ainda mais alarmante. Para os que concluíram apenas o ensino médio, estima-se que a renda de quem começou a trabalhar com 8 anos ou menos, em comparação com a de quem ingressou no mercado de trabalho após completar 17 anos, é cerca de 23,8% inferior para as mulheres e 17,2% para os homens. Para os trabalhadores que começaram a trabalhar antes dos 9 anos e concluíram o ensino superior, comparando-se com os que iniciaram após os 23 anos, há uma redução de renda de 43,7% para os homens e de 40% para as mulheres.
Prejuízos no processo de aprendizagem
A pesquisa de Ana Kassouf revela que, mesmo quando a vítima do trabalho infantil consegue concluir seus estudos, ela terá prejuízos, pois seu salário será, em média, menor do que o dos trabalhadores com o mesmo nível de escolaridade que não passaram por esse problema. Os resultados sugerem que o trabalho precoce traz prejuízos à qualidade da educação e deficiências no processo de aprendizagem, por exemplo, para pessoas que tiveram que trabalhar durante o dia e estudar à noite. O estudo reforça a ideia de que o trabalho infantil é uma mazela social que deve ser combatida, e de que seus supostos benefícios não passam de mitos.
Neste domingo, 12 de junho, celebra-se o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil. A data é um convite à reflexão sobre essa grave ameaça aos direitos humanos. No Brasil, estima-se que o trabalho infantil atinja mais de três milhões de crianças e adolescentes atualmente.
Saiba mais
O trabalho é proibido para menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14. O aprendiz tem um contrato especial, de no máximo dois anos, que visa à formação técnico-profissional, aliando trabalho e educação. A partir dos 16 anos, o adolescente pode trabalhar com carteira assinada, mas fora do horário noturno e em atividades não classificadas como insalubres e perigosas, o que só é permitido após os 18 anos. Antes dos 14 anos, o trabalho só é possível com autorização judicial. É o caso, por exemplo, de artistas mirins.
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