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2 de Maio de 2024
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    “Vaquejada tem de ser proibida imediatamente”, diz veterinária da USP

    “Todos os procedimentos que os peões impõem aos bovinos nas provas de vaquejada são abusivos tanto em relação à integridade e à saúde do corpo físico desses animais quanto em relação à sua estrutura mental ou psíquica, uma vez que estes animais são expostos, na arena, a perseguição e maus-tratos.”

    Esta é a conclusão final de um parecer técnico a respeito das provas de vaquejada que foi usado pela Procuradoria-Geral da República na ação que pediu a inconstitucionalidade de uma lei do Ceará que regulamentava o esporte.

    Irvenia Prada, professora aposentada da faculdade de medicina veterinária da Universidade de São Paulo (USP), foi uma das autoras do parecer.

    Em entrevista à Folha por e-mail, ela ratifica sua posição a favor do fim da vaquejada e contesta as ações que a Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ) está implementando para impedir maus-tratos aos animais.

    Qual sua opinião sobre a vaquejada? A senhora acha que ela deveria ser proibida no país?

    Irvenia Prada – Todos nós, ligados aos movimentos de proteção e defesa animal, desejamos que sejam abolidos todos os procedimentos que subjugam e exploram os animais. Com alguns, temos de “negociar”, pois não há possibilidade de que parem agora, como é o caso da produção industrial de alimentos de origem animal e a utilização de animais em testes e pesquisas. Mas, tolerar que os animais sejam utilizados em espetáculos de diversão, já é demais! Sim, eu sou de opinião que a vaquejada, assim como outros eventos que submetem animais a sofrimento deveriam sim, ser proibidos imediatamente.

    A senhora fez um laudo técnico que embasou a ação da Procuradoria-Geral da República contra a lei do Ceará que regulamentava a vaquejada. Ele foi encomendado pela PGR?

    Não, o parecer técnico sobre vaquejada que elaborei juntamente com a médica veterinária Dra. Vania Plaza Nunes não foi solicitado pela PGR. Ele nos foi solicitado pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, entidade à qual ambas somos ligadas. Esse parecer e outros anexos tiveram o objetivo de instruir o processo que já se achava em andamento.

    Do parecer técnico constou a análise crítica de repercussões negativas acontecerem tanto no corpo quanto na mente dos animais, quando submetidos aos treinamentos e provas da vaquejada.

    Defensores da vaquejada argumentam que é possível praticar o esporte minimizando os riscos aos animais. A ABVAQ diz que, por suas regras atuais –que incluem o uso de protetores de cauda, luvas que não cortam a cauda, um colchão de areia de 50cm para amortecer a queda etc.–, os animais não sofrem. A senhora acha possível realizar uma vaquejada sem que os animais sofram?

    Não, eu não acho possível a realização de uma vaquejada sem sofrimento dos animais. Os próprios defensores da vaquejada admitem a vivência de sofrimento nos animais, ao argumentarem que a regulamentação do evento possa “minimizar” os riscos dos animais. Apetrechos como protetor de cauda, luvas e colchões são recursos utilizados mais para aliviar a consciência dos praticantes –ou para “venderem” a imagem de que são cuidadosos–, do que de fato para suprimir o sofrimento dos animais.

    Um estudo da Universidade Estadual de Alagoas que mede o índice de estresse dos animais da vaquejada – medindo concentração de um hormônio específico, em repouso, antes e depois da corrida – mostrou que não há variação significativa, o que indicaria que os animais não são submetidos a sofrimento mental. Seu laudo investigou esse tipo de coisa? A senhora acha possível tal conclusão?

    O parecer técnico que elaboramos focalizou cuidadosamente as possibilidades de ocorrência de lesões físicas e de vivência de dor/sofrimento antes, durante e após o evento da vaquejada, concluindo que os bovinos utilizados nos treinamentos e nas provas de vaquejada têm estrutura física, organização neurossensorial e dimensão psíquica (mental) compatíveis com a vivência de dor/sofrimento ao serem submetidos às condições em que essas provas são realizadas e, ainda, às condições em que os repetitivos treinamentos acontecem. O hormônio a que você se refere é o cortisol e, se o experimento for realizado com rigoroso critério metodológico, o esperado é que ele sinalize sim a vivência de estresse agudo nos animais utilizados nas vaquejadas. De qualquer maneira, é sempre necessário que se analise com profundidade todo o contexto, o que fizemos com responsabilidade, no parecer técnico que elaboramos.

    Ao menos cinco conselhos estaduais de medicina veterinária (da Bahia, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e Alagoas) manifestaram-se favoráveis à continuidade da prática da vaquejada, desde que regulamentada – mesmo argumento usado pela ABVAQ. Como a senhora vê essa proposta?

    Se de um lado temos a manifestação favorável à prática da vaquejada, desses cinco conselhos regionais, de outra parte temos a manifestação contrária, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), em virtude do trabalho efetuado, a respeito, por sua Comissão de Ética. Temos também manifestação da Associação Brasileira de Medicina Veterinária Legal (ABMVL), que em 24 de outubro de 2016 emitiu nota pública quanto à inconstitucionalidade da vaquejada, inclusive destacando a propriedade do parecer que elaboramos, como segue: “O referido parecer técnico se constitui em verdadeira prova material, demonstrando, de maneira clara e detalhada, que os animais envolvidos na prática da vaquejada de fato experimentam dor, sofrimento, estresse e maus-tratos”.

    Por fim gostaria de dizer que desejamos e confiamos (todos nós, que trabalhamos em defesa dos indefesos) que os seres humanos, hoje responsáveis por esses eventos e deles participantes, passem a ver os animais com “outro olhar”, sentindo que eles não estão à nossa disposição, mas que merecem ser respeitados em sua capacidade de fruírem dor/sofrimento, no direito natural à sua integridade física/mental e em seu direito natural à própria vida. Essa é a forma de dignidade que, segundo nosso desejo, um dia a humanidade irá conquistar e, portanto, merecer.

    Fonte: Folha de SP

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    2 Comentários

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    Bom dia eu gostaria de primeiramente agradecer a Deus que foi o primeiro a protejer os animais e agora agradesso por Deus proporcionar a defesa desse veterinário da uspe a lutar para que acabe esse massacre nesas vaquejadas não tenho coragem de chamar parque por que tenho um pá de olhos dado pôr Deus não vejo crianças lá brincando eu vejo adultos lá maltratando cadê a justiça será que é preciso aguardar a chegada de Deus para que sejam feita a justiça tal veis não verei esse sonho acontecer más Deus sempre foi justiça e fará justiça eu sempre acreditei em Deus seja feito a sua vontade continuar lendo

    Bom Dia botar um rabo no vaqueiro um protótico e puchar como se fosse a calda do boi e botar pra correr ater acabar a vaquejada e ver tamanho a alegria dele simples continuar lendo