Verdades e mentiras sobre o estuprador catarinense

Cronologia dos primeiros fatos

* Entre 29 de agosto e 10 de outubro de 2000 quatro mulheres admitiram ter sido estupradas em Joinville - e outras duas foram ameaçadas - entre os bairros Glória, América e Santo Antônio, supostamente pelo mesmo homem. As características do criminoso eram: 1m63 de altura, magro, mãos macias, bem asseado e fala com boa dicção. Ele se movimentava em uma bicicleta.

* 27 de outubro de 2000 - No início da tarde, a mãe de A.P. recebe a visita de dois homens em um veículo branco. Eles solicitam a presença do jardineiro, alegando que teriam uma oferta de trabalho para ele. Ao serem informados que o filho não estava, disseram que "voltariam mais tarde".

Mesmo dia, início da noite, os homens retornam sob o pretexto de mostrar ao jardineiro onde seria o serviço a ser executado.

No trajeto, o jardineiro constata que fora preso irregularmente e sem mandado judicial. Ele é levado a uma delegacia no bairro Boa Vista. Antes é conduzido a locais desertos, para forçá-lo a confessar um crime que não havia cometido.

* 5/11/2000 - O Deic divulga no programa Fantástico, da Rede Globo, um retrato-falado do suposto estuprador, elaborado com base no depoimento das vítimas e melhorado com o uso de computador.

* 6/11/2000 - A Secretaria de Justiça e Cidadania libera o retrato-falado para a imprensa estadual.

* 7/11/2000 - O trabalhador braçal A.P., 30 anos, denuncia que o retrato-falado reproduziu uma foto sua, feita dez anos antes.

* 8/11/2000 - O então secretário de Justiça e Cidadania de SC, Paulo Cézar Ramos de Oliveira, determina o recolhimento imediato do retrato-falado.

* 5/3/2001 - Volta o pânico a Joinville: um maníaco ataca de novo.

* 4/4/2001 - É preso o apontado "verdadeiro responsável pelos estupros": o mecânico ferramenteiro Marlon Cristiano Duarte, 26 de idade, reconhecido por todas as vítimas. Ao confessar os crimes, ele diz que "uma força maior me transformava antes de cometer os estupros". Ele pede perdão às vítimas. As penas aplicadas a ele somam 54 anos e seis meses, em regime fechado, por crimes hediondos. Marlon atualmente (2011) está preso.

* 22/3/2007 - O STJ concede ao ferramenteiro Marlon a progressão de regime. (HABEAS CORPUS Nº 51.207)

Verdades e mentiras a respeito do caso

* Após a divulgação do primeiro retrato-falado, em 10 de outubro de 2000, a polícia e a imprensa passaram a receber dezenas de ligações telefônicas de pessoas que garantiam estar vendo o estuprador naquele momento. A maior parte dos telefonemas era trote, pois o acusado teria de estar em três ou quatro regiões diferentes da cidade no mesmo momento.

* Pelos telefonemas descartados, o estuprador seria filho de um juiz ou de um empresário e sua identidade estaria sendo protegida pela polícia e pela imprensa.

* Outra linha de investigações seguiu um ex-policial portador do vírus da aids que teria sido afastado da corporação e estaria realizando sua "vingança".

* O estuprador teria preferência por atacar mulheres vestidas de branco.

* Uma mulher atacada pelo estuprador teria dado entrada no Hospital Dona Helena com hemorragia e teria morrido. O caso teria sido abafado pelo hospital, polícia e imprensa.

O drama da família do jardineiro

* O avô do jardineiro A.P. - apontado pela polícia e pela imprensa como o "maníaco" - morreu de uma parada cardíaca dias depois de o neto ser apontado injustamente pela polícia e execrado na televisão e no jornal.

* O pai de A.P. tentou, duas vezes, tirar a própria vida.