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29 de Abril de 2024

Cultura da amoralidade: Uma aposta equivocada

Publicado por Amilcar Bernardi
há 8 anos

Vamos imaginar um sujeito totalmente neutro em relação aos valores sociais/culturais. Se isso fosse possível, teríamos um sujeito amoral. Suas escolhas seriam feitas de forma não relacionada à moral, aos valores do certo e do errado construídos pelas civilizações. Difícil imaginar tal coisa.

Entretanto, vejo cada vez mais uma tentativa irrefletida de impor uma amoralidade à sociedade. Uma espécie de cultura do “tanto faz como tanto fez”; uma explícita exacerbação da liberdade de escolha. Essa liberdade basear-se-ia na ausência total de preconceitos. Ora, toda a moral é um preconceito, ou seja, um conceito feito antes.

Vejo surgir uma cultura que afirma que toda a escolha é possível e que limites morais não são desejáveis. As pessoas afirmam que são livres e podem tudo, desde que não haja prejuízo a liberdade da outra pessoa de tudo poder. Acreditam que o único limite para a liberdade é a preocupação com a liberdade do outro.

Em um programa de TV um jovem pergunta à entrevistada, que era uma sexóloga, se sexo com animais traria algum mal à saúde física do praticante. Todos riram. A pergunta só foi possível porque transar com animais não pode, segundo o pensamento amoral, ser valorado de outra forma que não seja pelo prejuízo à pessoa. O que justificava a pergunta pela saúde física. Muitos que assistiram ao programa, questionaram a maldade com os animais. Interessante, a maldade, o julgamento moral da maldade, só seria possível em relação ao animal e não ao ato humano. Creio que o pensamento escondido era o seguinte: o animal sofre o mal porque não pode ser livre para escolher não ser agredido sexualmente. O jovem humano pode transar com o que e com quem quiser, afinal é livre: o problema é sempre dele.

Assisto também pelos jornais televisivos, inúmeras pessoas que matam outras, que roubam e violentam outras pessoas. Muitos deles dizem literalmente: tanto faz! Estes amorais (pelo menos em relação ao crime) não veem problemas em matar o outro, pois não percebem no outro valor algum. Cabe aqui os políticos amorais. Acredito que a liberdade moral de escolher não aceitar moral alguma, é um equívoco perigoso. Ser regido apenas pela ciência e pela lei, nos faz robôs. Qual o medo de termos uma sociedade regida por robôs, algo tão apresentado nos filmes de terror futurísticos? Eles nos matam porque não sentem nada. São amorais, portanto.

Inúmeras pessoas não conseguem decidir pelo certo nas suas ações. Por qual motivo? Porque não têm o hábito saudável de pensar sobre o que seria o certo e o errado. Fico imaginando professores, pais e adultos amorais: como ficam as crianças e os jovens? De toda a milenar história civilizatória, seria preservada somente a ciência e a ciência do direito. Com certeza um empobrecimento terrível. Claro que sei que o amoralismo é impossível. O que assusta é a insistência na cultura do amoralismo impossível. O que temo é a ideia de que seria melhor não ter moral alguma do que alguma moral que impeça a alguma liberdade.

  • Sobre o autorProfessor de Filosofia; palestrante
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3 Comentários

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Acredito que conceitos morais como evolutivos que são e mutantes portanto, irão se adequando aos caminhos da humanidade e formando novas culturas que não nos deixarão tão espantados como se comparados às culturas atuais.
Talvez a amoralidade seja ao fim o caminho, mas dentro de um contexto visualizado no devido tempo onde a evolução humana não se faça mais dependente de conceitos ou pre conceitos. continuar lendo

Abraços fraternos José Roberto! continuar lendo