Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
29 de Abril de 2024

O minimalismo e a advocacia contemporânea

há 3 anos


Uma das coisas que a pandemia certamente fez foi nos fazer refletir. Refletir sobre nossas vidas, nossos trabalhos, nossas ações e até mesmo nossa forma de pensar.

De uma hora para outra, nossas certezas e convicções foram colocadas em xeque. Aquilo que se aplicava com vigor há poucos anos, não funciona mais.

Nós, advogados, inclusive, temos visto florescer uma verdadeira revolução em nossa atividade.

A advocacia tradicional, generalista, recheada de muito luxo e pompa, está com seus dias contados.

A pandemia tem levado nossa atividade para um bem vindo mundo digital.

Hoje, o advogado passou a ter atuação nacional sem sequer precisar sair de seu Home Office, ou de seu escritório compartilhado.

De sua casa, ele pode fazer audiências, sustentações orais, peticionar, elaborar contratos, fazer vídeo conferências, participar de reuniões, ter acesso a uma quantidade infinita de livros e leis.

Um mundo de possibilidade se abriu diante de nossos olhos, mais precisamente, sobre uma tela de um computador e um celular.

Contudo, toda essa transformação tem gerado um efeito colateral muito severo.

A quantidade de informações que estamos consumindo hoje em dia é absurda.

Em função disso, muita gente tem sentido sintomas de cansaço fora do normal ao final do dia.

E esse cansaço pode ser consequência do que muitos chamam por aí de “obesidade mental”.

Infelizmente, essa nova patologia, se é que podemos chamar assim, tem causado um desgaste mental generalizado sem precedentes.

Então, se assim como eu, você vem se sentindo exausto por esse acúmulo de informações, talvez esteja na hora de você repensar suas escolhas.

E, uma boa maneira de começar essa mudança talvez seja adotando o estilo de vida minimalista.

O minimalismo é uma espécie de filosofia que começou como uma série de movimentos artísticos, culturais e científicos que percorreram diversos momentos do século XX.

Esse movimento teve, em seus primórdios, a ideia central de utilizar minimamente elementos estruturais na formação de expressões da arte, da comunicação, do design e da arquitetura.

Contudo, com o tempo, o movimento ganhou repercussão para além dessas áreas e passou a ser utilizado também como uma forma de agir e de pensar até mesmo em pequenos detalhes do dia a dia.

Para o minimalismo, menos é mais.

Portanto, quem se propõe a internalizar esse conceito geralmente tem como ponto de partida a diminuição dos níveis de consumo e o descarte de tudo aquilo que não possui utilidade imediata.

O foco é que a pessoa só possua aquilo que ela realmente faz uso. A necessidade vem sempre antes do ato de consumir.

Observe, contudo, que, ao contrário do que aparenta, o minimalismo não pretende ser algum tipo de movimento contra o capitalismo.

Ele, na realidade, não considera errado o ato de consumir. O problema está no excesso, no consumo feito por impulso e sem consciência.

Para tanto, como exercício até mesmo experimental, o movimento sugere que a pessoa se desfaça de todo o peso material e mental desnecessário que ela carrega consigo.

Descarregue toda a sua tralha, retire todo o excesso. Doe suas roupas velhas e empoeiradas, doe seus livros antigos, deixe de comprar cursos desnecessários, pare de seguir tantas pessoas, limpe sua estante.

Só assim será possível você se concentrar naquilo que é essencial.

Tendo poucas coisas para cuidar e para pensar, certamente você terá mais espaço para pensar com clareza.

Na advocacia, a filosofia minimalista, por incrível que pareça, não passa despercebida.

A ideia de que menos é mais pode estar presente em nosso meio jurídico, começando, inclusive, pelo que dissemos acima a respeito do trabalho digital.

Com um computador em mãos e uma boa internet, você já tem quase tudo que precisa para começar a trabalhar e isso é ser um pouco minimalista.

Nada de apetrechos desnecessários e parafernálias caras apenas para impressionar o cliente. O que importa e o que é essencial é o resultado alcançado.

Mas, vamos seguir adiante e explorar um pouco mais a aplicação desse modelo à advocacia.

Pensemos sobre nossas áreas de atuação.

Hoje em dia, dificilmente encontraremos por aí algum advogado generalista que sabe tudo e que consome toda e qualquer informação jurídica.

Por mais que nossa graduação seja generalista, na prática, percebemos que a especialização é o melhor caminho.

Quando você escolhe apenas uma área de atuação, você passa a concentrar esforços no aprendizado e na vivencia de suas peculiaridades de forma muito mais concentrada e efetiva.

Concentrando-se numa determinada área de atuação, você deixa de lado questões que estão muito longe de sua prática diária e passa a se apropriar das situações específicas daquela temática.

A partir disso, você será capaz de fornecer soluções muito melhores e mais eficientes aos seus clientes do que se ficasse a cada dia se aventurando por fronteiras desconhecidas.

E, não paremos por aí.

Vamos pensar, por exemplo, sobre nossa escrita.

Recentemente, deparei-me com uma peça inicial com mais de 60 páginas. Curioso, resolvi passar os olhos para tentar entender o motivo daquela peça ser tão longa.

Para minha surpresa, ou tristeza, sequer consegui terminar de folheá-la. A quantidade de termos jurídicos prolixos e rebuscados era imensa, o que tornava a compreensão do que se queria pedir bastante dificultosa.

Penso que nossa linguagem também precisa seguir essa linha minimalista. Muitos renomados escritores, inclusive, já disseram que escrever difícil é fácil, mas escrever de forma simples e efetiva são outros quinhentos.

O minimalismo pode nos ajudar a lapidarmos e melhorarmos nossa escrita. Se algo for escrito em excesso e não contribuir com o texto, de alguma forma esse “a mais” precisa ser descartado.

Conseguir passar a mensagem que pretendemos com o menor número de palavras é o caminho ideal para aumentarmos a efetividade de nossos textos.

Ser claro e convincente pode estar diretamente ligado a simplicidade. Lembre-se sempre: “Menos é Mais”.

Por fim, vale ainda dialogarmos um pouco a respeito do ponto que considero ser o mais importante, especialmente para nossa saúde mental: o minimalismo de influência.

Como dissemos, a quantidade de informação a que estamos submetidos hoje é colossal. Se não colocarmos um freio nesse assédio informativo certamente nosso destino será a estafa.

Temos que ser agentes ativos daquilo que queremos consumir. Não podemos deixar que algum algoritmo criado por uma empresa longínqua faça escolhas por nós.

Nós não somos produtos. Temos que nos impor limites para escolhermos conscientemente as informações que queremos receber.

E isso incluiu informações jurídicas também, por que não?

Ora, quantos não são os sites especializados em notícias e informativos jurídicos que vemos por aí?

A quantidade de leis, julgados, notícias e debates nas mais diversas áreas do Direito é imensa e querer abraçar todas elas é impensável e completamente contra produtivo.

Portanto, vale mais que você siga aquilo que de alguma forma irá agrega-lo dentro de sua realidade do que sair por aí lendo ou assistindo tudo que aparece na sua frente.

Aproveite o que lhe é pertinente e descarte o resto.

Faça filtros planejados e se concentre em consumir conteúdo da sua área de atuação.

Mas fique tranquilo, isso não quer dizer que você deve ser algum tipo de extremista pseudointelectual e que não possa consumir as piadas daquele comediante que você tanto gosta.

A questão aqui, como dito, e que ao fazê-lo, você deve ser consciente em suas escolhas e até mesmo organizado.

Que tal, por exemplo, você separar no seu dia um determinado período para que você possa curtir algum conteúdo mais descontraído?

Convido você a refletir sobre o assunto. Não saia rolando o cursor do seu celular ou do seu computador de forma aleatória.

Pense melhor nas suas escolhas. Afinal, as ferramentas digitais estão aí para nos auxiliar e não para nos confundir.

Se você gostou do texto, dê uma curtida e deixe seu comentário.

  • Publicações23
  • Seguidores57
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoArtigo
  • Visualizações874
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/o-minimalismo-e-a-advocacia-contemporanea/1181295354

Informações relacionadas

Carlos Eduardo Vinaud Pignata, Advogado
Artigoshá 4 anos

Recebeu uma ligação de cobrança do Banco? Conheça as armadilhas e aja como profissional.

Carlos Eduardo Vinaud Pignata, Advogado
Artigoshá 3 anos

Você já encontrou o seu Ikigai na advocacia?

Carlos Eduardo Vinaud Pignata, Advogado
Artigoshá 3 anos

Fraude nas compras à distância com cartão de crédito – Cuidados que o lojista deve ter

Blog do Jusbrasil
Artigoshá 4 anos

Advocacia digital: entenda o que é e como executar

Artigoshá 3 anos

Guia definitivo de instalação do PJeOffice no Linux

15 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

Não sei se os dias dos escritórios de luxo e com mta pompa estão realmente com os dias contados, mas que abriu-se espaço para pessoas que conseguem entregar qualidade com menos materialismo, isso é verdade, e ainda bem! continuar lendo

Excelente artigo!
Há pouco tempo eu tive contato com esse universo minimalista, tenho bastante interesse. Aliar o minimalismo à prática da advocacia pra mim já é algo novo (também porque eu sou um jovem advogado, acabei de receber a carteira, então tudo é novo!), de qualquer modo, parece-me que o minimalismo encontra bastante sentido em nossa área. Vou me debruçar mais sobre isso.
Em relação às redes sociais, eu já venho tentando fazer isso há um tempo, o menos é mais, cada vez 'mais' estou seguindo 'menos' pessoas e filtrando contéudos que realmente sejam proveitosos pra mim.
Enfim, o minimalismo está surgindo pra mim no momento certo, eu precisava disso, não sei se exatamente com esse nome, nem com ares de filosofia, mas a necessidade de desacelerar e jogar fora tudo que só está "enchendo linguinça" é urgente pra mim, e acho que pra tantas outras pessoas.
Obrigado. continuar lendo

Parabéns pelo artigo 👏

Por oportuno, sugiro a quem quiser melhorar a redação jurídica acompanhar um excelente professor:

Instagram @prof.osvacijr.

No perfil dele tem o link para o canal no Youtube continuar lendo

Texto excelente! Minimalista! Parabéns. continuar lendo