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3 de Maio de 2024

"Acidentes acontecem", diz autor de projeto que permite porte de armas

Comissão Especial da Câmara dos Deputados deve aprovar revogação do Estatuto do Desarmamento brasileiro nesta quarta-feira; para virar lei, projeto exige sanção presidencial

Publicado por Fernanda Favorito
há 9 anos

Por David Shalom

Desde que o Estatuto do Desarmamento entrou em vigor, em 2004, dezenas de projetos tramitaram no Congresso Nacional tentando derrubá-lo. Entretanto, nenhum deles se aproximou tanto de atingir o objetivo quanto o Projeto de Lei 3722/2012, de autoria do deputado federal Rogério "Peninha" Mendonça. Com o objetivo de trazer de volta à legalidade o porte de armas e facilitar a aquisição de revólveres e afins a interessados, o PL deve ser votado ainda nesta quarta-feira (10) por uma Comissão Especial do Legislativo. Caso aprovado, será encaminhado ao Senado e, posteriormente, à presidente, a quem cabe a decisão de sancioná-lo.

"Se vetarmos armas, logo logo vamos fazer o mesmo com carros", diz o peemedebista Peninha, ao comparar a letalidade de automóveis à de revólveres e pistolas. "Na minha cidade, no interior catarinense, outro dia uma mulher foi dar ré e atropelou o próprio filho. Ou seja, não é só a arma de fogo que mata. Na minha opinião, ela mais protege e, se estiver guardada, com munição separada, só traz aspectos positivos à vida do portador. Mas acidentes acontecem."

Sancionada pelo então presidente da República Luís Inácio Lula da Silva no dia 22 de dezembro de 2003, a Lei 10.826 aumentou a rigidez do controle de armas no País em relação à norma anterior, a 9437/97 – responsável por criar o Sistema Nacional de Armas, cujo objetivo foi dificultar o acesso a esses objetos e criar um controle maior sobre seus registros e portes no País.

Assim, de 2004 anos para ca, civis passaram a ter direito a armas de fogo somente quando guardadas em suas residências ou locais de trabalho. Circular com elas pelas ruas, mesmo em veículos particulares, passou a ser proibido. Campanhas de desarmamento foram promovidas com ampla divulgação do governo, levando parte da população até então armada a abrir mão de seu "arsenal".

De acordo com dados do Ministério da Justiça, de 2004 até o último domingo (7), 662.147 armas foram entregues por civis ao governo em troca de incentivo financeiro. Obstáculos também se somaram para dificultar ainda mais a aquisição de armamentos de fogo por civis, que passaram a enfrentar burocracia de meses para consegui-los e, em parte das vezes, viram a solicitação de porte vetada pelas autoridades.

É o que procura mudar o novo Projeto de Lei. Além do porte e da facilidade de aquisição, o PL aumenta de seis para nove o número de armas que cada cidadão pode ter; revoga a possibilidade de perda de porte caso o dono esteja embriagado com uma arma; derruba os testes periódicos que comprovam a aptidão da pessoa de continuar usando-a; eleva de 50 para 600 o número de munições que podem ser compradas anualmente; e reduz de 25 para 21 anos a idade mínima para se solicitar o porte.

O discurso dos defensores da medida é embasado principalmente no fato de, teoricamente, o projeto respeitar o desejo da maioria da população em relação ao tema. Para isso, tanto legisladores quanto representantes da sociedade civil citam enquetes virtuais, além do próprio Referendo de 2005, quando 63,94% da população brasileira votou contra a proibição total de vendas de armas a civis (mantendo a lei estabelecida no Estatuto do Desarmamento).

"O projeto do Peninha traz controles, fiscalização, e, principalmente, garante a aplicação daquilo que ficou provado no Referendo: a garantia de que o cidadão que queira ter armas as tenha", diz Bené Barbosa, presidente do Viva Brasil, um dos movimentos que defendem abertamente o uso de armas pela população como medida de proteção pessoal.

O grupo mantém uma campanha permanente em sua página na internet solicitando que seus apoiadores votem em enquetes promovidas pelo Legislativo a respeito do assunto. Até terça-feira (9), pesquisa no site da Câmara dos Deputados contava um total de 204.790 votos sobre o tema – 86,48% deles favoráveis à revogação das regras atuais.

"Sem arma, seja na rua, em casa ou em qualquer outro lugar, a chance de proteção é zero. E a população entendeu isso em 2005, quando foi chamada, obrigada pelo próprio governo a votar e depois viu o Estatuto ser mantido em vigor. Se o voto popular é o que vale temos de respeitá-lo."

"Bancada da bala"

Com a iminência da votação pela Comissão Especial, dezenas de ONGs (Organizações Não-Governamentais) se juntaram para fazer um apelo contra a revogação das regras atuais. No final de novembro, o Instituto Sou da Paz, que participou ativamente da elaboração do Estatuto mais de uma década atrás, protocolou uma carta aberta endereçada ao presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN), e ao presidente da Comissão Especial que analisa a questão, Marcos Montes (PSD/MG), pedindo a rejeição do projeto.

Também assinam o documento outras organizações de direitos humanos, como a Conectas, a Viva Rio, o Instituto Igarapé, além de especialistas em segurança pública, como André Garcia, Álvaro Fajardo, Luiz Eduardo Soares e Renato Sergio Lima.

"Um dos maiores avanços do Estatuto foi a proibição do porte de armas para civis. A reação armada a assaltos é, em geral, mal-sucedida. Mesmo policiais treinados morrem reagindo. Todos os especialistas em segurança pública concordam com isso. E a forma como a indústria apela para dizer que o porte leva segurança ao portador é um conceito muito falso", avalia Bruno Langeani, coordenador de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Sou da Paz.

"Também existe o problema de o projeto não ter passado pelas comissões necessárias (de Segurança Pública, de Direitos Humanos, da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania). Assim, ele se focou em ouvir colecionadores de armas, associações de pecuaristas, representantes da indústria de armas, ou seja, gente que não tem nada a ver com o assunto. Os atores de real importância, como secretários de segurança pública e o próprio Exército, foram ignorados."

As ONGs contrárias ao Projeto de Lei também enfatizam a ligação dos deputados da Comissão com a indústria armamentista, tornando-a parcial. No total, dez dos 19 legisladores titulares que debatem a medida foram financiados por empresas do setor nas Eleições de 2010, 2014 ou em ambas. Entre eles, o presidente, Marcos Montes (PSD/MG); o 1º vice-presidente, Guilherme Campos (PSD/SP); e o 2º vice-presidente, João Campos (PSDB/GO).

"Nunca fui motivado por ninguém ligado à indústria e jamais recebi sequer um tostão dela", ameniza "Peninha", o autor do projeto. "Evidentemente, a indústria quer uma mudança na lei para vender mais. Mas o problema é que o Estatuto atual só fortalece o contrabando. Como o bandido, o marginal, consegue armas? Ora, obviamente este Estatuto acaba sendo aplicado apenas contra o cidadão comum, porque o cara contra a lei sempre consegue uma forma de adquirir a sua arma."

Não é, no entanto, o que mostram estudos do Sou da Paz. Pesquisa encomendada há um ano, por exemplo, mostrou que 78% de todas as armas apreendidas no Brasil são de origem nacional. Em sua maioria, fabricadas antes da aplicação do Estatuto do Desarmamento.

Além disso, diferente do estudo "Banir armas poderia reduzir assassinatos e suicídios?", publicado pela distante mas eminente Universidade Harvard, dos EUA, e usado como embasamento pelos defensores do uso de armas de fogo no País para mostrar a suposta falta de relação direta entre liberdade de porte e número de homicídios, o Sou da Paz e seus parceiros se defendem citando outra pesquisa, nacional, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicada em 2013. Segundo ela, o índice de mortes por armas de fogo caiu 12,6% em dez anos no País, do início da restrição às armas em território brasileiro até o ano passado.

"O Estado com mais cidadãos armados não tem menos crimes. Não há correlação entre os dois, o que já está mais do que provado" , diz Langeani. "Agora, em relação aos homicídios, fica claro que quanto mais armas, mais mortes. E é isso o que queremos evitar."

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Os adeptos ao desarmamento, sempre citam os assassinatos, crimes e outras violências e culpam as armas existentes, porque não divulgam os crimes esclarecendo sempre se foi com uma arma legal (alguém que possui registro e porte), ou se foi com uma arma ilegal. Já está mais do que provado que armas legais não cometem crimes. continuar lendo

Romualdo, posso estar errada, mas penso que uma arma na mão de um cidadão de bem, que pensa antes de usá-la, é mais uma na mão do bandido. Quantos casos vemos de arma mal utilizada pelo dono que a porta ilegalmente e comete um assassinato por uma mera batida no trânsito, pelos adolescentes e crianças que procuram, encontram dentro de casa e, acidentalmente matam amigos e parentes, armas que são levadas às escolas. Penso que é melhor não tê-las porque a sensação de segurança é falsa e, no mais das vezes, perniciosa. continuar lendo

Zuleica, respondendo o comentário feito ao Romualdo.
Assassinatos cometidos por uma mera batida por meio de arma de fogo? Pouquíssimos, mesmo porque se o cara é capaz de usar a arma para resolver uma mera batida ele já não tem condições psicológicas de possuí-la. Quantos acidentes ocorrem com crianças..? Pouquíssimos. Muito menos do que o desequilíbrio de forças provocado pelo desarmamento maciço da população. Hoje é muito facil um marginal colocar uma arma na cara de alguém porque sabe que a reação não existe, ninguém tem arma só ele e a policia que não tem condições de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. continuar lendo

Eu não quero uma arma para sair à rua armado. Quero apenas o direito, de se eu quiser, e eu puder, e quando for necessário, poder dar entrada nos órgãos necessários para eu poder comprar uma arma.

O contrário do que se advoga, o Brasil é campeão mundial de homicídios, e, a compra de armas tem todo este problema, e proibições. Ou seja, a relação de NÃO PODER ter armas, não contribui para números baixos de homicídios, afinal fica provado, que os crimes são cometidos com armas do tipo ilegais, roubadas, vendidas, adquiridas de forma ilegais, contrabandeadas. continuar lendo

Concordo, eu quero o direito de decidir por mim, ninguem pode me tirar esse direito. continuar lendo

É óbvio que as pessoas que querem restringir o porte de arma pelo cidadão de bem tem segurança particular ou por sua função tem o porte de arma.

Em uma analise bem objetiva os únicos que não podem portar armas são os cidadães de bem, Bandido pode, Policia pode, Judiciário pode, Politico pode, auditor fiscal pode, .........pode.

A verdadeira liberdade consiste em escolher o que fazer ou não fazer, e a verdadeira justiça é você ser responsável pelo que fez, então, quem não quiser que não compre armas.

No Brasil a entrada do governo PT (que aprovou a lei atual), que tem um projeto de poder, desarmar o cidadão passa a ser uma necessidade, li uma frase aqui mesmo no JusBrasil que resume a verdadeira intenção.

"Há uma razão por que os governos são tão empenhados em desarmar seus cidadãos: eles querem manter seu monopólio da violência a todo custo. A ideia de haver cidadãos armados é apavorante para a maioria dos políticos. Afinal, para que serve um monopólio se ele não pode ser exercido? Cidadãos armados impõem um limite natural à tirania do estado."

Olhando estudos e estatísticas (na internet está cheia) notamos que a violência só aumenta quando o violento tem a certeza de não encontrar uma reação.

"O problema não é você ou eu portar arma, o problema são os bandidos saberem que não portamos." continuar lendo

Hermógenes, bandido não PODE, tem. Policia DEVE ter, os demais as têm por força do cargo ou função. Cidadão de bem não sabe fazer uso de arma. continuar lendo

Olá Zuleica, Cidadão aprende a dirigir, aprende a pilotar avião, e também aprende a usar armas, não sou a favor do uso indiscriminado, mas quem quiser e for habilitado que use e seja responsabilizado pelo seus atos.
Errado é aceitar a imposição dos governantes ainda mais eles não garantindo nossa segurança.
Hoje eu tenho medo de ter um carro melhor, de ter uma moto de sair com meus filhos e até abrir o portão da minha casa e ser feito de refém por algum bandido. continuar lendo

Não faço a menor ideia do que seja um "cidadão de bem", mas imagino que o Sr. Hermógenes Rodrigues se encaixa perfeitamente na definição. continuar lendo

Olá Alexandre, não entendi se foi um elogio ou uma ironia.

O uso "cidadão de bem" é figurativo, aquele que vive honestamente, que sabe dos seus direitos, deveres e obrigações.

Então realmente eu me enquadro nessa classe. Abraços. continuar lendo

Ontem a mídia alardeava o honroso primeiro lugar do Brasil, no ranking dos países com mais homicídios por habitante. E, todos os dias os datenas e similares falam do cidadão baleado sem reagir. Após o Estatuto do Desarmamento, o número de homicídios aumentou exponencialmente. Jamais diminuiu. E também o de assaltos. Pudera. O meliante tem certeza de que a vítima está desarmada. Tive porte de armas por vários anos e jamais disparei um tiro. Sou altamente favorável a um exame psicotécnico ou similar, antes da emissão do porte. Porém lamento profunda e antecipadamente, o veto presidencial que virá, caso o projeto de lei vingue. continuar lendo