Associações de bairros nobres lutam para proteger territórios
BRUNO RIBEIRO
DE SÃO PAULO
Não foi com gritos de "abaixo o metrô!" nem com pneus queimados que moradores de Higienópolis, a área mais valorizada do centro de São Paulo, reivindicaram o fim dos planos de construção de uma estação no coração do bairro. Foi com um discreto abaixo-assinado de 3.500 nomes.
É assim, sem muito alarde, que a elite de São Paulo tem feito valer sua vontade ante projetos que podem alterar o cotidiano de seu bairro. Em geral, as estratégias vão de reuniões de pequenos e influentes grupos à contratação de advogados e consultores.
Em Higienópolis, um dos temores dos 3.500 signatários era que a estação, que seria instalada na avenida Angélica, atraísse camelôs e aumentasse o número de "ocorrências indesejáveis". Havia também a alegação de que o bairro teria estações muito próximas --já está sendo construída uma parada a 600 metros dali, na rua da Consolação.
Só que o pleito ganhou ares de luta de classes com a adição de uma expressão, "gente diferenciada", usada por uma moradora em entrevista à Folha para descrever os "mendigos e drogados" que a estação atrairia.
Um protesto bem-humorado, chamado de "Churrascão da Gente Diferenciada", conquistou 55 mil adeptos no Facebook e levou cerca de 600 pessoas às ruas do bairro no último dia 14. Até a quinta-feira passada, o governo afirmava que o projeto da estação seria deslocado para a rua Sergipe.
"CÍRCULO INVADIDO"
Para a socióloga Mônica de Carvalho, professora da PUC, o fato de os bairros da cidade terem crescido isolados uns dos outros favorece a falta de abertura para quem é de fora.
"É criado um círculo de vizinhança, um grupo de convivência. As pessoas se olham e se reconhecem. Por um lado, é importante, porque é um modo de elas se apropriarem do bairro. Por outro, cria situações meio xenofóbicas: não querer que esse círculo seja invadido" , afirma.
Mônica lembra que isso não ocorre só em regiões ricas: "No Jabaquara, já entrevistei pessoas de classe média baixa que reclamam de o metrô ter levado gente 'estranha' para o bairro".
A diferença, diz João Whitaker Ferreira, professor de urbanismo da USP e do Mackenzie, é que a classe alta tem mais chance de ser ouvida. "Com mais contatos, eles são mais eficazes."
Segundo Ferreira, eles só precisam brigar se ...
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