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17 de Junho de 2024

"Eleição será resolvida pela rejeição do adversário", aponta Antonio Lavareda

Publicado por Consultor Jurídico
há 10 anos

"Os maiores determinantes do voto brasileiro são renda e escolaridade. Se fosse pelos mais escolarizados e de renda mais alta, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) teriam ido ao segundo turno", afirma Antonio Lavareda (foto), cientista polítco, durante sabatina no Roda Viva desta segunda-feira (6).

Para o cientista político, o próximo Presidente da República vai ser pleiteado pela classe C. De acordo com as condições expostas no cenário eleitoral, Lavareda pondera: "O PT vai tentar despertar o temor de que o voto em Aécio resulte em mudanças nas políticas sociais implantadas pelo atual governo".

A tática apontada pelo cientista político é a mesma utilizada pelos petistas para derrubar a candidatura de Marina. "A candidata teve a personalidade e o caráter atacados excessivamente. A presidente Dilma abalou os seus três pilares fundamentais na política: integridade, liderança e competência" . "A situação beneficiou muito o candidato do PSDB, já que Aécio permaneceu o tempo todo fora do foco dos ataques", analisa.

Segundo o pesquisador, a estratégia dos tucanos será voltada a "trabalhar a raiva, a indignação e aversão do eleitor em relação ao PT".

Em relação à candidatura de Aécio Neves, Lavareda acredita que o eleitorado de Marina é muito semelhante ao do senador. "Os eleitores dos dois candidatos querem mudanças. Acredito que será feita a prática do voto estratégico por aqueles que estão insatisfeitos com o PT e acreditam que o partido se distanciou demais de suas origens", ressalta.

O cientista político ressalta que o poder de transferência de votos de Lula na eleição deste ano não é tão fundamental como foi em 2010, quando indicou Dilma, desconhecida pela maioria dos brasileiros. "Apesar de ser um cabo eleitoral de grande força, o ex-presidente não é suficiente", diz ele.

Lavareda aponta que o segundo turno entre Dilma e Aécio envolve questões além da bipolarização entre eleitores petistas e tucanos: "Se nós somarmos os 40 mihões de brasileiros que não compareceram às urnas aos 20 milhões que votaram em Marina, veremos que há um grande contingente que não se encaixa na polarização entre os dois partidos", analisa.

"Essa eleição será resolvida pela capacidade de alavancagem da rejeição do adversário", pondera Antonio Lavareda. E conclui: "Vai depender, para o bem e para o mal, da qualidade das campanhas políticas dos dois candidatos."

A bancada do Roda Viva é formada por Eliane Cantanhêde, colunista da Folha de S. Paulo e comentarista do telejornal Globonews em Pauta; João Gabriel de Lima, redator-chefe da Revista Época; Sérgio Roxo, repórter do jornal O Globo; e Ricardo Galhardo, repórter de política do jornal O Estado de S. Paulo.

Entrevista concedida pelo cientista político Antônio Lavareda ao programa Roda Vida, da TV Cultura, apresentado pelo jornalista Augusto Nunes. A entrevista foi veiculada nesta segunda-feira (6/10), às 22h. A transcrição foi feita do vídeo abaixo, que tem cortes. Por esse motivo, alguns trechos dos diálogos estão incompletos.

Leia a entrevista:

Terminou ontem a primeira etapa da mais surpreendente, acirrada e emocionante eleição presidencial desde 1989. O acidente aéreo que matou Eduardo Campos (PSB), a entrada de Marina Silva na disputa, as oscilações de Dilma Rousseff (PT), a queda e a ascensão de Aécio Neves (PSDB), as trocas de posições entre os dois principais adversários da presidente e outras mudanças súbitas na paisagem eleitoral tornaram o resultado imprevisível até que começasse a contagem dos votos. Porque ocorreram tantas reviravoltas? Como explicar a curva descendente de Marina ou o avanço impressionante de Aécio Neves? Que fatores mantiveram Dilma Rousseff na liderança da corrida? Por que os institutos de pesquisa erraram tanto? Como justificar as diferenças desconcertantes entre os números da apuração e os índices das pesquisas boca de urna? Quais são os trunfos e desvantagens dos candidatos que se enfrentarão no segundo turno? Quais são as chances de cada um? Em busca de respostas essas e muitas outras perguntas, o Roda Viva de hoje entrevista o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda. Em seu laboratório de neurociências instalado no Recife, esse especialista no comportamento dos eleitores continua estudando as motivações que determinam a escolha feita na hora do voto.

Roda VivaBoa noite. Estamos ao vivo em todo país pela TV Cultura, pelas emissoras afiliadas, pela Rádio Cultura Brasil, pelo portal UOL e pelo portal da Cultura no cmais.com.br/jornalismo. Hoje a nossa bancada de entrevistadores é composta por: João Gabriel de Lima, diretor adjunto da revista Época; Sérgio Roxo, repórter do Jornal O Globo; Eliane Cantanhêde, colunista da Folha de S.Paulo e comentarista do telejornal GloboNews em Pauta; e Ricardo Galhardo repórter de política do jornal O Estado de S. Paulo.

Roda Viva — [Áudio cortado — Augusto Nunes diz que as pesquisas de intenção de votos foram diferentes da apuração no dia das eleições.] Por que isso aconteceu?
Antonio Lavareda —
Augusto, eu acredito que na maior parte dos casos, as medições dos institutos são bastante acuradas; ou seja, os resultados divulgados das pesquisas, de uma certa forma, correspondem com bastante precisão ao que é registrado como intenção, como atitude, como opinião que depois se traduzirá ou não em voto efetivo. O que ocorre é que esses resultados, essas medições, são frequentemente transmitidas ao público como se prognósticos fossem, desconhecendo algumas outras variáveis, como a questão da consistência dessa intenção de voto, a questão relativa a fatores alheios à medição especificamente como por exemplo o cálculo estratégico de alguns eleitores que vão votar para derrotar um candidato e são mais interessados em derrotar um candidato do que escolher aquele candidato com que tem maior empatia ou maior simpatia. E até eventos e fatos relativos à mídia, relativos à freemedia, comunicação e notícias de última hora que podem impactar o traslado das intenções de voto para voto efetivo. Um outro ponto muito importante que às vezes os próprios institutos esquecem de enfatizar e a mídia também esquece de chamar atenção é que há um fenômeno chamado alienação eleitoral, que tecnicamente é a soma de votos brancos, nulos e abstenções. O montante da alienação eleitoral dificilmente é antecipado pelas pesquisas, mesmo as pesquisas da véspera do pleito. Como ocorreu nesse ano e em anos anteriores e que poderemos conversar sobre isso ao longo desse programa.

Roda Viva — Antes de passar a palavra para Eliane Cantanhêde, eu pergunto o seguinte: como explicar essa diferença numérica? Falando da eleição presidencial. O Ibope no dia quatro divulgou uma pesquisa mostrando que Dilma teria 46% dos votos válidos, Aécio teria 27% e Marina 24%, margem de erro de dois pontos para mais ou para menos. No dia seguinte, a presidente ficou com 41,59% dos votos válidos, Aécio com 33,55% e Marina Silva com 21,32%, ou seja, todos os números estão errados.
Lavareda —
Vamos arredondar os números para ficar mais fácil para o espectador: Dilma projetada 46 ou 45, por exemplo Datafolha projetou 45%, e na urna Dilma teve 42, Marina também o Datafolha e Ibope ambos projetaram 24 e na urna ela teve 21. Outros candidatos projetados 4 e na urna 3. E Aécio, a grande discrepância em às pesquisas de véspera de eleição, projetado 27 e Aécio teve de fato 34%. O que ocorreu nessas pesquisas da véspera da eleição? Essas pesquisas são realizadas com amostras que representam o conjunto do eleitorado, ou seja, o universo de eleitores, aqueles 142 milhões (...). Marina teve 16, perdeu 4 pontos, alguma coisa equivalente a 5 milhões de eleitores, e os outros candidatos nanicos perderam quanto? Não perderam nada, até porque a firmeza da decisão, da opção por quem vai votar em um desses nanicos é sempre — não só nessa eleição como nas outras — é sempre muito grande, aparece já desde a intenção de voto espontânea. E a alienação saiu de 13 para 27,2; ou seja, não votaram um pouco mais de 38 milhões de eleitores brasileiros, quase uma Argentina. E, nesse traslado e nessa ampliação de 13 para 27 se foram muitas intenções de voto que não chegaram à presidente Dilma, sobretudo no Nordeste, ela candidata com um forte apoio na base da pirâmide social, onde é maior a alienação eleitoral, mas é maior no norte do país e etc. Faltaram votos à candidata Marina e o candidato que vinha em viés de alta ganhou mais um ponto percentual. Na eleição anterior o candidato do mesmo partido, o candidato Serra perdeu 4 pontos percentuais no traslado intenção de votos de véspera de eleição para comportamento efetivo, para urna eletrônica. O que é importante é que os institutos e os veículos de comunicação discutam essa questão e nos próximos pleitos comecem a levar isso em conta de uma forma mais aberta, mais exposta à sociedade.

Roda Viva — Lavereda, eu conversei bastante ontem com o Mauro Paulino, que é o diretor do Datafolha, conversei hoje de novo com ele e queria fazer uma ressalva que o índice de acerto do DataFolha é muito grande e eu falo isso muito tranquilamente porque eu já achava isso, já trabalhava com os números do DataFolha muito antes de trabalhar na Folha de São Paulo, e ele registrou que nessa eleição houve uma coincidência muito grande dos últimos números das pesquisas tanto do Ibope quanto do DataFolha como do MDA da CNT, ou seja, pela primeira vez, sempre tem uma discordância aqui ou ali e pequenas variáveis, mas dessa vez houve uma concordância bastante grande e ele mostrou também os quadros e a curva dos três candidatos – na eleição presidencial — se a eleição continuasse e não fosse no dia 5, fosse no dia 10, como ia se aproximando a curva e as pessoas acham que os números estão magicamente dizendo o que vai acontecer na urna, mas os números vão mostrando tendências e uma das coisas — entra aí a minha pergunta — é que o Mauro Paulino diz que uma característica da evolução, da maturidade política brasileira, é que o eleitor é mais desconfiado, mais bem informado, ele quer mais dados até o último minuto, então está aumentando muito o número de eleitores que deixam para decidir nos últimos dias. Então...
Lavareda —
(...) Durante 45 dias o Brizola liderou. No início da campanha, o Brizola tinha o dobro das intenções de voto do Lula. O Lula foi subindo, subindo lentamente, mas, no início da última quinzena — e aquela eleição o primeiro turno era em 15 de novembro — o Lula já ultrapassou o Brizola e então nos últimos 15 dias a ordem de classificação já estava dada. Na eleição de 2002, isso ocorreu no início da campanha. No final de agosto, Serra já avia ultrapassado Ciro Gomes, saindo da terceira para a segunda colocação, aí no início de setembro Garotinho também ultrapassou Ciro Gomes e deu-se um processo de ascensão de Garotinho que na reta final, nas pesquisas realizadas na véspera e antevéspera daquele pleito situava um empate técnico, uma diferença de dois pontos apenas entre Serra e Garotinho, resultado que abertas as urnas foi ampliado para uma distância de 5 pontos que o candidato tucano teve sobre o candidato do PSB. Essa foi a primeira vez que esse processo de inversão se deu praticamente às vésperas do pleito. Se fosse como no passado, nos anos 80 que as pesquisas se fazia sete dias antes da eleição e depois somente a boca de urna ou no máximo uma pesquisa na véspera, o país ia assistir impactado essa inversão, ou talvez não, porque o anúncio das pesquisas também ajuda o eleitor a calcular seu voto estratégico. Foi muito importante a pesquisa realizada e divulgada uns dez dias antes da eleição e que apontava a formação já potencializada de uma ogiva com o declínio de Marina Silva e ascensão de Aécio Neves; e isso resgatou intenções de votos que havia perdido para Marina.

Roda Viva — Isso não aconteceu, por exemplo, no Ibope, que deu 19, 19 e 19 para o Aécio e, de repente, 27.
Lavareda
— O movimento no DataFolha e outros institutos foi um movimento realizado de forma mais discreta.

Roda Viva — Por isso que eu estou me baseando aqui no Ibope.
Lavareda
— Você tem questões amostrais às...

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