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1 de Maio de 2024

Eles colocam a mão na massa pela natureza

Publicado por Carolina Salles
há 10 anos

Eles colocam a mo na massa pela natureza

A professora Adriana Generoso mobiliza alunos e a comunidade para destinar corretamente o lixo. O dentista Hélcio Zanetta Júnior cuida de 120 árvores. Cleusa Oliveira procura livros pelas ruas. Donizete Ramos retira garrafas pet do rio Preto. Dalva da Silva recolhe material reciclável na zona norte. E você, o que faz para melhorar o planeta? Independentemente da motivação e necessidade, esses cinco exemplos compilados em Rio Preto, Mirassol e Ipiguá revelam iniciativas que, de forma consciente ou não, causam efeito positivo no meio ambiente, lembrado mundialmente nesta quinta-feira, 5, com seu dia. A data é emblemática. Foi criada na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1972, para incentivar a população a refletir sobre suas atitudes.

Após séculos de uso indiscriminado dos recursos naturais, de excessos de toda sorte e agressões variadas na água, florestas, ar e terra, o planeta se encontra na ‘UTI’, em estado que inspira cuidados. Depende da humanidade para sobreviver ou entrar em colapso, o que ninguém em sã consciência deseja. As ações mostradas hoje começaram de forma solitária, a partir de observação, inquietação e desejo de mudança de uma realidade que não se sustenta mais. Afinal, não dá mais para tolerar gente que despeja garrafas nos rios, abandona objetos em bom estado, joga lixo na calçada ou derruba árvores.

O tema começou a ser abordado pelo Diário no domingo, 1º, em reportagem especial, e será encerrado no dia 8. Adriana, Hélcio, Cleusa, Dalva e Donizete são pessoas comuns que, cada qual à sua maneira, colaboram para que o meio ambiente seja poupado de novas agressões. Inspire-se e descubra uma forma para participar dessa transformação.

Ação retira 25 toneladas de lixo do rio Preto

A combinação desemprego e paixão pelo rio Preto causou um estalo em Donizete Ramos, 55 anos. Ele percebeu que era possível livrar a água de garrafas pet, descartadas de qualquer jeito, e ainda ganhar dinheiro com a venda desse material. Uniu a necessidade com a consciência ambiental.

Frequentador do rio há 30 anos, Ramos começou a retirar os materiais recicláveis em setembro do ano passado, na altura de Ipiguá. Conta principalmente com a ajuda da mulher e do compadre. Tudo é feito de forma rústica. Em suma: sacos enormes são preenchidos com auxílio das próprias mãos

Seguiram firmes até agora, apesar de todas as dificuldades que enfrentam no diaadia. Na semana passada, furtaram o barco que Ramos usava para percorrer grandes distâncias. Prejuízo de R$ 12 mil. Não sabe o que vai fazer para continuar o trabalho com o mesmo nível. Em média, a turma retira em torno de três toneladas por mês de bancos de areia que se formam no rio, ou seja, livraram o meio ambiente de 25 toneladas de plásticos. Porém, ainda há muito o que fazer. Foram mapeados pelo menos 14 depósitos flutuantes de lixo no curso das águas.

“Percebi que começou a ficar muito cheio de lixo. Fora isso, ninguém dá trabalho para um velho. Tiro meu sustento daqui. Vamos tocando a vida do jeito que dá. É uma pena ver isso”, conta Ramos. Durante a visita da reportagem, um cágado se debatia entre sacolas e garrafas. Não conseguia transpor a barreira criada pelo homem. Somente com ajuda, venceu a montanha de sujeira e seguiu seu caminho. Nas intervenções, encontra-se de tudo que se possa imaginar, como capacetes, plásticos variados, bolas e garrafas.

Por mês, a iniciativa rende R$ 2,5 mil. O valor é dividido igualmente entre Ramos, sua mulher, Cleonice, e o amigo Luiz dos Santos, 53 anos. O trabalho dos moradores de Ipiguá chamou a atenção e despertou ONGs, entidades e Poder Público para a necessidade de limpar o rio Preto. Há projeto, orçado em R$ 3 milhões, para providenciar uma ampla limpeza. Enquanto não sai do papel, Ramos e sua equipe recolhem tudo de forma manual

Dentista é guardião de 120 árvores

Cansado de testemunhar a falta de arborização de Rio Preto, o dentista Hélcio Zanetta Júnior, 56 anos, decidiu agir: sozinho, tornou-se protetor de 120 árvores, sejam adotadas ou plantadas por ele mesmo. O pequeno, mas importante tesouro verde, fica no canteiro central da avenida Juscelino Kubitschek, na altura do bairro Tarraf. É a forma que encontrou de contribuir com o meio ambiente. Zanetta é um homem consciente, engajado, preocupado com questões contemporâneas e que afetam a qualidade de vida, como calor excessivo, clima seco e o ar poluído. Esses problemas estão intimamente ligados à falta de árvores.

“Fico feliz em fazer esse trabalho, que é de formiguinha. Quando se está na cidade, perde-se um pouco a noção de que a gente precisa da terra para tudo. Ocorre um distanciamento da natureza. Com certeza, faltam árvores em Rio Preto.” Iniciada há sete anos, a atividade jamais foi suspensa. A cada 15 dias, o dentista promove limpeza, aduba a terra e controla a quantidade de formiga. Nada muda a rotina, mesmo se a agenda profissional não permite pausa. Nessas ocasiões, contrata um profissional para fazer o serviço. “É um trabalho pequeno. Só quando a gente começa a cuidar de uma planta, percebe como ela é frágil e demora para ser autossuficiente.”

O dentista cuida de espécies nativas existentes no lugar, como jenipapo, jacarandá mimoso e paineira. Sempre que possível, acrescenta outras mudas. Até mesmo frutíferas. O objetivo é nobre. Quer proporcionar sombra e comida para os passarinhos. Atua sem apoio municipal ou institucional. Só fica chateado quando a Prefeitura faz a limpeza do terreno. Relata que os tratores, pilotados nem sempre com zelo necessário, arrancam pedaços das árvores, o que pode ser fatal. A despeito das dificuldades, ele sente enorme alegria ao usar parte do tempo com essa atividade. Deseja que a cidade seja mais verde, cheia de vida e humana

Dalva tira sustento da reciclagem

A reciclagem sempre fez parte da vida de Dalva Marcelino da Silva, 56 anos. Sua casa, no bairro Santo Antônio, ruiu após um temporal e foi reconstruída graças a doações, item por item, de material de construção, ou seja, objetos que seriam descartados, até mesmo de forma irregular. Agora, ela sobrevive do dinheiro da venda de utensílios encontrados pela cidade e de roupas usadas. Apesar das terríveis dores na coluna,

Dalva monta na bicicleta e vai embora. Todo dia é assim. Com chuva, ou calor de rachar. Não pode se dar ao luxo de deixar para depois. A geladeira não pode ficar vazia. Tem de alimentar os dois netos, de 8 e 10 anos, que cria. Sua filha, mãe deles, foi embora. “Sempre tem arroz, feijão e farinha. Comer carne é meio difícil. A gente passa dificuldade, mas não pode desistir.” O valor ganho é pequeno, praticamente metade de um salário mínimo. Não fosse a reciclagem, no entanto, não sabe como conquistaria os R$ 300 mensais que sustentam sua família. Estaria em maior dificuldade. Dalva fica surpresa com o tanto de objetos que encontra na caminhada em busca de recicláveis. “O povo joga fora um monte de coisa que dá para reaproveitar. Não devia ser assim”, afirma.

Emocionada mesmo Dalva fica quando se recorda do mutirão que reconstruiu sua casa. A moradia antiga, confessa, foi erguida apenas com terra. Nada de cimento. Não resistiu a um temporal de verdade. Por sorte, ninguém ficou ferido. Mas ela morou nove meses de favor em um projeto social. Foi o tempo necessário para pessoas de boa vontade se organizarem para refazer a moradia. Cada um contribuiu com o que pôde, o que havia disponível em seus domínios. “Graças a Deus, essas pessoas me ajudaram. É gente muito boa.” Ela gostaria de ter uma geladeira. Já procurou bastante, mas ainda não encontrou um exemplar em boa condição de uso

Professora cria projeto de coleta

Reciclagem e consciência ambiental podem ser aprendidos no ensino superior. Na Faculdade de Tecnologia (Fatec), o pensamento e a atitude seguem esse norte. Um projeto, que envolve oito alunos e duas professoras, está em curso para estudar a melhor forma de destinar corretamente o lixo produzido na própria instituição de ensino e em cem casas da vizinhança, no bairro Eldorado. Inicialmente, a meta é envolver 2 mil pessoas ligadas à faculdade, entre professores, alunos e funcionários, e 500 moradores. Já está em fase de elaboração o mapeamento de tudo o que é produzido. Na sequência, será definida a forma de coleta dos materiais - em ponto fixo ou em cada fonte. Nesse ínterim, os envolvidos serão orientados sobre a necessidade de separar o lixo.

“A ideia é fazer um trabalho a longo prazo. Criar a cultura da reciclagem. Tornar a Fatec referência no assunto para os alunos e a comunidade. É um projeto ambiental, social e de saúde”, afirma a professora de meio ambiente, Adriana Regina Generoso. Os alunos envolvidos na atividade extracurricular são dos cursos de agronomia e informática. As reuniões são realizadas aos sábados, a cada duas semanas. A iniciativa chamou a atenção da professora Regina Bocchi. Sua contribuição foi propor a ampliação do foco do trabalho: mostrar na prática que garrafas, plásticos e copos são focos potenciais para o desenvolvimento do mosquito Aedes aegypti, o transmissor da dengue. Os alunos preparam um artigo científico que será apresentado na Universidade Federal de São Carlos. A expectativa é iniciar a coleta em 2015.

A pesquisadora de livros

A paixão pela leitura incentivou Cleusa Aparecida Oliveira, 49 anos, a enxergar o lixo de maneira especial. Nas andanças pelas ruas de Mirassol, a simpática coletora não busca apenas garrafas, latinhas e papelão. Fica satisfeita quando tropeça nos livros. Sente que é sua missão salvar os exemplares do abandono e da indiferença. Durante dez anos, Cleusa fez parte de uma cooperativa de reciclagem. O trabalho foi suspenso no ano passado. Só que o exemplo dela perdura. Sozinha, criou uma biblioteca com títulos encontrados em calçadas, latões e terrenos baldios. Com o fim dos trabalhos, as 200 unidades que salvou foram doadas para a Prefeitura. “Fico chateada de pensar que jogam fora um rico material. Poderia ter outra finalidade.” Tímida, ela não gosta de se deixar fotografar.

Cleusa teve oportunidade de estudar até a sétima série. Mas nunca deixou de lado a paixão pelos romances e pela poesia brasileira. Já chegou a ler páginas iluminadas apenas por parcos pedaços de vela. Até hoje, tira o sustento da família do que (para muitos) não passa de sujeira. Nos meses de sucesso, embolsa R$ 500. Sonha em aumentar sua moradia, ver a família feliz e apresentar a leitura para as crianças do bairro Nova Esperança, em Mirassol. Cleusa acredita que os livros podem modificar o mundo.

Foto: Hamilton Pavam

Fonte: Raul Marques - http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Noticias/Meio+Ambiente/188523,,Eles+colocam+a+mao+na+massa++E...

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