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16 de Junho de 2024
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    Esperança contra estupidez - Jornal do Commercio (Esporte)

    LUTA PELA VIDA Torcedor do Náutico Lucas Lyra está em coma induzido, em estado grave, após ter sido baleado

    Orações, vigília e muita fé. É assim que tentam se confortar os parentes e amigos do torcedor do Náutico Lucas de Freitas Lyra, 19 anos, baleado na cabeça no último sábado, antes do jogo do Timbu contra o Central, após confusão entre integrantes das uniformizadas Jovem (Sport) e Fanáutico. Ontem, todos passaram o dia no Hospital da Restauração, no bairro do Derby, área central do Recife, onde o jovem está internado em estado grave.

    Lucas foi submetido a uma neurocirurgia ainda no sábado à noite. Até as 22h30, fechamento desta edição, ele estava sedado, em coma induzido e em observação na Unidade de Suporte Avançado de Neurocirurgia do Hospital da Restauração. As próximas 48 horas são fundamentais para a recuperação da vítima.

    Como não poderia ser diferente, a mãe do jovem, Cristina Lyra, e a irmã mais velha, Mirella Lyra, ficaram muito abaladas após a visita, que acabou por volta das 16h. Elas receberam o carinho dos amigos e parentes e saíram do hospital sem condições emocionais de falar com a imprensa. A porta-voz da família foi a prima de Lucas, Marcela Brito.

    "Lucas é um menino estudioso, trabalhador e apaixonado pelo Náutico. Inclusive, tem o símbolo do clube tatuado na panturrilha. A gente fica muito triste, porque muitas coisas poderiam ser modificadas. Nossa família está passando por isso agora, mas outras pessoas já tiveram esse sofrimento. E isso vai se repetir caso nossos representantes continuem permitindo isso. A gente vê o projeto da Copa do Mundo e da Copa das Confederações e pede mais atenção. Não dá para sair na rua com medo", enfatizou Marcela.

    A indignação com a situação também revoltou Fátima Brito, que se autodenominou "tia de coração" de Lucas. "A humanidade está à mercê dessa violência. Também gosto de futebol, mas no meu tempo não existia isso. Mas agora essas torcidas (organizadas) viraram uma indústria. E a população fica à deriva", afirmou Fátima Brito, que mora na Várzea, assim como a família de Lucas.

    O CASO

    Lucas, o irmão mais novo Joel, e mais alguns amigos foram ao jogo do Náutico contra o Central, sábado à noite. Minutos antes de a bola rolar nos Aflitos, ele estava próximo a torcedores alvirrubros que agrediam quem passava em frente à sede social alvirrubra com camisas do Sport. Membros da Torcida Jovem do Leão, que estavam em um ônibus de linha da empresa Globo e vinham da Ilha do Retiro, onde acompanharam o duelo com o Campinense-PB, entraram em confronto com integrantes da Fanáutico, na Avenida Rosa e Silva. Houve provocações e arremesso de pedras, paus e garrafas contra o veículo. Durante a confusão, um dos seguranças que fazia a escolta do coletivo disparou dois tiros. Um deles acertou a cabeça de Lucas. (M.L.)

    Familiares pedem doação de sangue

    A família de Lucas de Freitas Lyra iniciou campanha nas redes sociais para doação de sangue para o jovem que continua internado em estado grave, no Hospital da Restauração. A doação pode ser feita de segunda a sábado, das 7h15 até as 18h30.

    O doador não precisa estar em jejum prolongado, basta ter feito uma refeição leve antes da doação. Precisa ter, no mínimo, 16 anos completos e pesar mais de 50 kg. O tipo sanguíneo não precisa ser compatível com o de Lucas, já que o sangue será substituído pelo compatível.

    As doações podem ser feitas no Hemocentro de Pernambuco (Hemope), na Rua Joaquim Nabuco, 171, no bairro do Derby. Integrantes da Jovem e da Fanáutico estão combinando uma ação solidária hoje pela manhã.

    "Esta campanha também tem um pouco de protesto. É uma situação inadmissível. É como essas doações significarem um gesto solidário, simbolizando toda a dor das vítimas", disse uma familiar de Lucas, que preferiu não se identificar.

    Durante a tarde, por volta das 16h, o Sport colocou uma mensagem no seu site oficial. "Um torcedor de nome Lucas Lyra está precisando de nossa ajuda. Apesar de não torcer pelo Sport Club do Recife, somos solidários à situação e pedimos à torcida do Leão que doe sangue e ajude a salvar a vida deste jovem torcedor e de muitas outras pessoas", diz o texto. (M.L.)

    Câmeras registram ação

    Imagens gravadas por uma câmera de segurança da Secretaria de Defesa Social (SDS), instalada na Avenida Rosa e Silva, são a principal pista da Polícia Civil para esclarecer o caso do torcedor Lucas de Freitas Lyra, 19 anos, que foi baleado na cabeça, sábado à noite, em frente ao Estádio dos Aflitos, durante confusão entre integrantes de torcidas organizadas antes da partida entre Náutico e Central, pelo Campeonato Pernambucano. O material está sendo periciado desde ontem. O governador Eduardo Campos pediu prioridade nas investigações.

    As imagens gravadas pela câmera de segurança mostram em detalhes a confusão. Primeiro, um ônibus de linha da empresa Globo, que levava integrantes da Torcida Jovem do Sport, é parado por torcedores da Fanáutico em frente à sede alvirrubra. Os timbus começam a arremessar pedras, paus e garrafas contra o veículo. Nesse momento, aparecem homens vestidos com camisas pretas e com o nome "apoio" escrito nas costas. Um deles atirou contra a nuca de Lucas de Freitas Lyra.

    Para a Polícia Civil, não há dúvida de que os homens compunham escolta armada contratada pela Globo para evitar a depredação dos veículos. O grupo, se não legalizado, pode responder pelo crime de formação de milícia armada, assim como os representantes da empresa de ônibus (artigo 288 do Código Penal, que prevê pena de quatro a oito anos de reclusão). Já o atirador pode ser enquadrado por tentativa de homicídio (artigo 121, com prisão de seis a 20 anos).

    O atirador, que fazia parte da escolta, só não foi ainda identificado porque os rostos dos envolvidos na confusão ficaram encobertos por algumas sombras, uma vez que tudo ocorreu à noite. Até ontem, quase 20 pessoas já haviam sido ouvidas na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pelas investigações. "As imagens estão sendo periciadas para que a gente possa identificar o autor do disparo. Sabemos apenas que ele fazia a escolta para a empresa. Esse caso é uma prioridade para nós", garantiu Osvaldo Moraes, chefe da Polícia Civil de Pernambuco. (A.A.)

    Empresa nega apoio armado

    Proprietário da empresa de ônibus Globo, o vereador Carlos Gueiros confirmou a contratação de seguranças para fazer a escolta de veículos em dias de partidas de futebol ou de outros grandes eventos, como o Carnaval, para evitar a depredação de seus veículos. No entanto, negou que eles trabalhem portando armas.

    "As únicas armas que eles carregam são celulares fornecidos pela própria empresa para que possam ligar para o 190 em caso de algum problema com um de nossos veículos nas ruas", disse Gueiros, informando ainda que esse serviço vem sendo usado com êxito há cerca de um ano. "Reduziu bastante o índice de depredações", completou.

    Os seguranças que fazem as escoltas dos ônibus trabalham como diaristas e não são funcionários da empresa. Nem sempre o grupo que vai às ruas é o mesmo. Segundo Edvaldo Tales, gerente de operações e responsável pela contratação dessas pessoas, a escolha é feita de forma muito criteriosa. "Uma das exigências que fazemos é para que eles não trabalhem portando armas de fogo. Por isso, evitamos a contratação de policiais militares de folga. Muitos nos procuram para fazer um trabalho extra aqui, mas não aceitamos", explicou.

    Segundo Edvaldo, haviam apenas quatro homens fazendo a escolta do ônibus que levava torcedores do Sport e que foi parado por integrantes da Fanáutico na Avenida Rosa e Silva, anteontem, originando a confusão que culminou com o tiro na cabeça de Lucas de Freitas Lyra, 19 anos. Eles se apresentaram na madrugada de ontem ,na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e foram liberados após prestar depoimento.

    No entanto, nas imagens gravadas por uma câmera de segurança da Secretaria de Defesa Social (SDS), aparecem cerca de dez homens vestidos com a camisa preta com o nome "apoio" nas costas - o uniforme utilizado pelo grupo nas escoltas. (A.A.)

    Promotor critica clubes, FPF e PM

    VIOLÊNCIA Promotor do Ministério Público e autor de ação que pede extinção das organizadas, Ricardo Coelho diz que falta vontade política no combate à violência

    Autor de uma ação civil pública que pede a extinção das três principais torcidas organizadas do Estado (Jovem do Sport, Fanáutico e Inferno Coral), o promotor do Ministério Público de Pernambuco, Ricardo Coelho, em entrevista ontem ao Jornal do Commercio, adotou um discurso duro contra Náutico, Sport, Santa Cruz, Federação Pernambucana de Futebol e Polícia Militar. Para ele, falta "vontade política" no combate à violência provocada por essas facções. Segundo o promotor, os clubes, a FPF e PMPE já possuem, inclusive, meios legais para proibir a entrada das organizadas nos estádios graças a uma recomendação feita no ano passado pelo Ministério Público para que as três organizadas sejam impedidas de frequentar as partidas.

    "Eles acataram essa recomendação nas finais do Campeonato Pernambucano do ano passado e houve êxito. Apesar de toda a rivalidade entre Sport e Santa Cruz, não houve um único incidente de violência registrado. Mas após o Estadual os clubes e a FPF voltaram a liberar o acesso dessas organizadas. Essa recomendação continua vigente e com base nisso, os clubes, a FPF ou a Polícia Militar podem de imediato voltar a proibir a entrada desses torcedores. O Ministério Público pode reforçar essa recomendação, mas é como tirar uma xerox da anterior", afirmou Ricardo Coelho, que foi ainda mais incisivo."Basta vontade política. Os três clubes e a FPF se mostraram a favor das organizadas e a Polícia Militar se omitiu. Isso foi o que levou o MPPE a entrar com a ação civil pública pedindo a extinção."

    Na ação civil pública que pede o fim definitivo das três torcidas organizadas, Ricardo Coelho afirmou ter relatado pouco mais de 800 crimes cometidos por Fanáutico, Jovem e Inferno Coral em um período de um ano, entre 2011 e 2012. A liminar que solicita a proibição imediata das facções foi indeferida em outubro, mas a ação principal deve ser julgada até o final do ano.

    "De uma forma muito modesta, contabilizamos pouco mais de 800 crimes em um ano praticados por essas torcidas. Mas com certeza, esse número real ultrapassa facilmente os mil. Basta perceber que em um único clássico entre Santa Cruz e Sport, no ano passado, 200 ônibus foram depredados. Só isso contabiliza 200 crimes. Mas em cada ônibus danificado há mais de um crime praticado como depredação do patrimônio público, roubo e lesões corporais, por exemplo", calculou.

    "Acredito que a ação que pede a extinção possa ser julgada no final do ano. Mas o caso desse rapaz pode ajudar a acelerar o processo. A pressão da sociedade será muito grande", acredita Ricardo Coelho (J.A.N.)

    Evandro adota cautela

    O presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Evandro Carvalho, refutou a possibilidade de voltar a suspender a entrada de torcidas organizadas nos estádios, pelo menos por enquanto. Ele adotou uma postura cautelosa para tratar do caso do torcedor Lucas de Freitas Lyra, 19 anos, baleado na cabeça em frente ao Estádio dos Aflitos, anteontem, antes da partida entre Náutico e Central, pelo Campeonato Pernambucano, durante uma confusão entre integrantes da Torcida Jovem do Sport, que passavam pela Avenida Rosa e Silva em um ônibus de linha da empresa Globo, e da Fanáutico.

    Segundo Evandro Carvalho, o incidente foge de sua área de atuação, o futebol, uma vez que o disparo contra Lucas foi efetuado por um segurança particular da empresa de ônibus Globo, que fazia a escolta do veículo. "Esse caso não está relacionado diretamente ao futebol. A princípio é um assunto que foge completamente a minha alçada. Vamos acompanhar o trabalho de investigação da Polícia Civil e ver no que podemos ajudar", disse o dirigente.

    No ano passado, Evandro Carvalho proibiu as entradas das torcidas organizadas Jovem, do Sport, e Inferno Coral, do Santa Cruz, nos estádios durante as semifinais e finais do Campeonato Pernambucano. O que motivou essa decisão foi uma briga generalizada entre integrantes das duas facções nas imediações da Ilha do Retiro e também no Centro do Recife.

    "Suspendi as organizadas no ano passado e, se entender que há necessidade, farei isso de novo. Não vou me eximir de responsabilidades. O problema é que a legislação brasileira vigente deixa muitas brechas para interpretações contrárias a proibição dessas torcidas, o que atrapalha as nossas decisões. Em 2012, por exemplo, tive que enfrentar na Justiça vários mandados de segurança contra mim após a suspensão dessas facções. Precisamos chegar a um entendimento jurídico para tomar uma decisão definitiva", comentou o mandatário da FPF. (A.A.)

    Uma relação pra lá de perigosa

    PARCERIA Presidentes dos três grandes clubes do Estado contam com o apoio das mais controversas torcidas organizadas

    Como de praxe, as diretorias de Náutico, Sport e Santa Cruz evitaram fazer críticas diretas ao comportamento das principais organizadas dos clubes (Fanáutico, Jovem e Inferno Coral). Os cartolas também se mostraram contra a extinção das facções. Vale lembrar que, mesmo com os dirigentes negando qualquer envolvimento direto com os integrantes, é comum as torcidas terem, direta ou indiretamente, ajuda dos clubes. A Jovem, por exemplo, possui uma sala dentro da Ilha do Retiro, que, inclusive, foi incendiada no último réveillon por integrantes da Inferno Coral. Além disso, os atuais presidentes, Paulo Wanderley (Náutico), Antônio Luiz Neto (Santa) e Luciano Bivar (Sport), tiveram apoio das organizadas durante o processo eleitoral dos clubes.

    "Usei a camisa da Fanáutico logo após a minha eleição como uso a camisa do Náutico ou de qualquer instituição que seja benéfica ao clube. Nas organizadas existem pessoas boas e ruins, como em qualquer instituição. O Náutico não tem qualquer ligação com as organizadas. Dá apenas um apoio logístico quando solicitado em jogos fora do Estado", afirmou Wanderley, que negou que haja distribuição de ingressos.

    O mandatário timbu também afirmou que não tomará qualquer decisão isolada com relação as torcidas. "Se for fazer alguma coisa nesse sentido (proibir organizadas), tem que contar com o envolvimento dos três clubes, da Federação Pernambucana, do Ministério Público e da Polícia Militar."

    Por sua vez, o mandatário coral, Antônio Luiz Neto adotou um discurso ainda mais ameno com relação às facções. "Não sou a favor da extinção das organizadas. São instituições sérias, que inclusive realizam trabalhos filantrópicos. O que se precisa é de uma ação mais rígida para prender os marginais. Os bandidos que usam as camisas dessas torcidas", disse.

    Procurado pelo JC, o presidente do Sport, Luciano Bivar, manteve o celular desligado durante todo o dia de ontem. Por sua vez, o presidente do Conselho Deliberativo, Gustavo Dubeux, defendeu a ideia de um cadastramento dos integrantes das organizadas.

    "Sou a favor de um cadastramento para saber quem são as pessoas sérias e quem são os marginais infiltrados nessas torcidas. Não pode haver descontrole nesse monitoramento. No entanto, acho que o que aconteceu nesse episódio do rapaz baleado tem que ser analisado separadamente. Quem deu o tiro foi um segurança da empresa de ônibus, o que é inadmissível." (J.A.N.)

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/esperanca-contra-estupidez-jornal-do-commercio-esporte/100347521

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