Filha de piloto assassinado durante sequestro de avião da Vasp será indenizada pela Infraero
A 3ª Turma do TRF da 4ª Região aumentou, na semana passada, de R$ 100 mil para R$ 250 mil a reparação por dano moral à filha do co-piloto da Vasp Salvador Evangelista, morto em 1988 durante tentativa de sequestro de avião da companhia que fazia a rota Belo Horizonte-Rio de Janeiro.
A corte tenta assim compensar Wendy Fernandes Evangelista, que era criança quando o pai foi assassinado dentro do avião ao tentar desarmar o sequestrador. A ação tramitou na Justiça Federal do Paraná. Wendy, a autora, reside em Curitiba.
O caso ocorreu em janeiro de 1988, quando o tratorista desempregado Raimundo Nonato tomou o avião, um Boeing 737-300, e fez refém a tripulação. O objetivo de Nonato era jogar a aeronave contra o Palácio do Planalto, pois culpava o então presidente José Sarney pelas dificuldades econômicas que passava. Ele alvejou a cabeça de Evangelista quando este tentou desarmá-lo.
Após muita negociação, o comandante conseguiu descer em Goiânia (GO).
Após decisão favorável a Wendy em primeira instância, a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) apelou ao TRF-4 alegando que, na época, não era sua atribuição guarnecer os aeroportos com medidas preventivas, que foi um caso fortuito e que já teria se passado muito tempo, visto que Wendy entrou com a ação somente em 2007. A autora ambém apelou pedindo majoração da indenização.
O relator do processo no tribunal, desembargador federal Fernando Quadros da Silva, entendeu que a Infraero foi omissa, pois o sequestrador entrou no avião portando arma de fogo sem qualquer dificuldade. Silva também refutou o argumento de que teria passado tempo demais para indenizar.
O fato danoso é incontroverso, diante de todos os documentos e depoimentos testemunhais colhidos nos autos, escreveu Silva em seu voto. Para ele, a morte do pai causou enorme abalo emocional na filha, justificando o aumento do valor indenizatório.
O advogado Jair Aparecido Avansi atua em nome da filha do falecido piloto. (Proc. nº 0033907-22.2007.404.7000 - com informações do TRF-4).
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Leia a matéria seguinte
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O voo, o sequestro, os tiros a bordo e o desfecho final
Da redação do Espaço Vital
* O voo Vasp 375 foi feito por um Boeing 737-300 da Vasp, sequestrado em 29 de setembro de 1988 por Raimundo Nonato Alves da Conceição. Ele pretendia colidir o avião com 105 pessoas a bordo contra o Palácio do Planalto em Brasília.
* A aeronave partiu de Porto Velho (RO) rumo ao Rio de Janeiro, fazendo escalas em Brasília, Goiânia e Belo Horizonte. Na fase final da viagem, entre a capital mineira e o Rio de Janeiro, houve o sequestro.
* O maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição, na época com 28 anos, veio de uma família pobre do interior do Pará e havia perdido seu emprego de tratoreiro em Minas Gerais. No final da década de 1980, o Brasil enfrentava péssima fase econômica e elevados índices de desemprego e inflação. Então, Raimundo decidiu punir quem achava ser culpado pela má situação pela qual ele e o País passavam: queria lançar um avião contra o Palácio do Planalto.
* Raimundo comprou um revólver calibre 32 e embarcou no voo VP-375. Na época, aparelhos de raios-X não eram utilizados para verificar bagagens para voos nacionais, o que permitiu a passagem livre do passageiro.
* Raimundo Nonato anunciou o sequestro: disse que queria entrar na cabine e baleou Ronaldo Dias, um comissário de bordo que tentou impedi-lo. Disparou várias vezes contra a porta da cabine, a arrombou e entrou. Ao entrar, Raimundo baleou o engenheiro de voo, Gilberto Renher, que teve a perna fraturada pelo tiro. Sem que o sequestrador percebesse, o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva acionou pelo rádio o código 7700, que na linguagem da aeronáutica, indica sequestro.
* Quando tentava atender à resposta do Cindacta pelo rádio, o co-piloto Salvador Evangelista foi baleado pelo sequestrador e morreu na hora. Em seguida, Raimundo apontou o revólver para o piloto e exigiu que a aeronave fosse desviada imediatamente para Brasília.
* Raimundo acabou desistindo de jogar o avião contra o Palácio do Planalto, mas impediu o comandante de pousar o avião quase sem combustível no Aeroporto Internacional de Brasília e na Base Aérea de Anápolis. Quando se aproximou de Goiânia, o piloto fez duas manobras acrobáticas (um "tonneau" e um parafuso) que foram testemunhadas por um caça Mirage. Obteve sucesso na segunda manobra, o que permitiu um pouso rápido no Aeroporto Internacional Santa Genoveva à 13h45.
* Em terra, o sequestro e as negociações continuaram por várias horas. O sequestrador chegou a exigir um avião menor para fugir, mas por volta das 7h da noite, quando descia a escada do avião usando o comandante como escudo, acabou sendo baleado três vezes pela equipe de elite da Polícia Federal. Morreu dias depois, vítima de uma infecção por anemia falciforme, sem relação com os tiros, segundo o legista Fortunato Badan Palhares.
* Fernando Murilo de Lima e Silva, o piloto que evitou a tragédia, foi homenageado em outubro de 2001 pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas e recebeu o troféu Destaque Aeronauta por ter evitado a morte dos mais de cem passageiros que estavam a bordo do Boeing 737.
2 Comentários
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Este texto possui erros, no começo diz que o copiloto Salvador foi baleado ao tentar desarmar o sequestrador, na verdade ele foi baleado ao se abaixar para pegar o microfone do rádio para responder uma chamada, o código de transponder para sequestro é 7500, e não 7700, o sequestrador foi baleado subindo em outro avião e não descendo do Boeing e a causa da morte não eh aquela, ele muito provavelmente foi assasinado, pois estava bem de saúde e o próprio legista q analisou o corpo tem vasto histórico de polêmicas associadas a causas de morte. continuar lendo
Olá querido, apenas uma reparação: de fato o código de sequestro é 7500, mas o Comandate Murilo usou mesmo o 7700, uma indicação de ameaça por perigo grave e iminente. Talvez ele ainda não soubesse do que se tratava, naquele momento.
Sobre o sequestrador, o laudo foi apontado como anemia falciforme, que não poderia ter relação alguma com os tiros que ele levou. Realmente, há muita suspeita nesse óbito. O legista contratado sequer era do Goiânia. continuar lendo