Filha de Vaqueiros vira Defensora Pública

Joice Mayara de Oliveira Silva é filha de trabalhadores rurais e tem dois irmãos, José Augusto e Deyla Jordana. Tem 25 anos de idade e nasceu em Porto Nacional, município de Tocantins, localizado a cerca de 60km da capital do estado, Palmas. Quando começou a frequentar a escola, precisou morar na casa de parentes, já que os pais, José Luis e Maria Dilma, continuaram na zona rural, para trabalhar e sustentá-la. Mesmo longe dos pais, manteve o sonho de ter uma carreira promissora.

"Meus pais sempre trabalharam no campo, mais especificamente como vaqueiros. Ainda quando pequena, me mudei com meus irmãos para estudar na área urbana. Quando adolescentes, passamos a morar numa casa que tínhamos na cidade. Nossos pais continuaram pagando as contas e iam nos visitar quase toda semana", lembra a jovem que, no dia 30 de janeiro deste ano, tomou posse como defensora pública substituta no seu estado.

"Sempre estudei na rede pública de ensino. Nos últimos dois anos da vida escolar, refazia provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a fim de treinar meus conhecimentos. Fiz a primeira prova no segundo ano do ensino médio, tendo alcançado uma nota baixa, o que foi importante para detectar meus pontos fracos e me preparar melhor. No terceiro, submeti- me novamente ao Enem e, desta vez, obtive uma nota mais alta", conta.

Festa trocada por passagem - Essa boa pontuação trouxe a realização do seu sonho: a faculdade de Direito. "Estudei na Faculdade de Ciências Sociais do Ibmec, na capital fluminense, por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni). Escolhi o Rio porque fiquei encantada com a cidade, quando a conheci na adolescência" , contou, informando que, na época, seu pai vendeu uma de suas vacas para que, com o dinheiro da negociação, conseguisse celebrar os 15 anos da filha. "Mas não quis. Troquei a festa pela passagem de ônibus".

Ela afirma que os desafios em nada impediram as conquistas. "A minha dedicação trouxe bons resultados. Consegui aprovação em concursos para estágios públicos, como na Procuradoria Geral do Estado (PGE-RJ) e no Ministério Público Federal (MPF). Ingressei na Fundação Escola Superior da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (Fesudeperj), na qual estudei por meio de bolsa. No início, tive alguns colegas que pretendiam fazer concurso também. A Defensoria era a carreira que mais admirava."

"Percebi que meu nível de conhecimento não estava aquém do dos meus amigos já formados. Então, fiquei mais empolgada e continuei me dedicando. Na época, estudava na faculdade pela manhã, até as 13h, estagiava na parte da tarde, das 14h às 18h, estudava à noite na Fesudeperj, das 18h30 às 21h30, depois voltava para a faculdade e ficava lendo jurisprudência até as 23h. Eu morava perto da minha instituição e não tinha computador em casa, então ficava estudando o máximo de tempo lá”, conta Joice.

Como técnicas de estudo, a jovem diz que participava de núcleos de estudos, repletos de debates e discussões construtivas, além do apoio dos amigos que compartilhavam materiais. Contudo, ela sabe que nenhuma ajuda seria suficiente se não existisse esforço próprio."O que me auxiliou a ser aprovada para a Defensoria Pública, no décimo período da faculdade, foi a minha dedicação ao longo do curso. Eu aproveitava todas as oportunidades para estudar. Não acumulava dúvidas das aulas."

Ajuda inestimável - Ela não se esquece de agradecer as principais ajudas durante a sua preparação."Deus sempre me concedeu a graça de ter pessoas que, além de acreditar em mim, estimulavam-me. Os principais foram o meu tio Juarez Reis, os professores Miguel Baldez e Flávia Zangerolame, os quais me deram livros durante toda a faculdade; e a todos os meus amigos que conheci quando eu estava estudando na Escola da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e em todas as outras instituições pelas quais passei", reconhece Joice.

Questionada sobre o que a aprovação representava em sua vida, Joice é segura na resposta: ser defensora pública era sua meta de vida. "Atuar nessa carreira é um presente. Por enquanto, meu objetivo é progredir na carreira e me dedicar à família. Quero contribuir para o crescimento da Defensoria Pública do Tocantins. Estou lotada na Comarca de Goiatins, com uma rotina de trabalho pesada, devido à falta de servidores. Não descarto a possibilidade de fazer outros concursos, nos próximos anos."

Mesmo com excesso de trabalho, a defensora diz que a função é muito gratificante porque boa parte dos assistidos são desprovidos de dinheiro e de informação, além de poder auxiliá-los a terem determinados direitos concretizados."Após a nomeação, me sinto mais respeitada e valorizada no meu meio social. Sinto que minha trajetória de vida é um exemplo para algumas pessoas, isso é muito gratificante. Além disso, tenho condições financeiras de auxiliar minha família e de ter uma vida mais confortável."

Como mensagem aos concurseiros, Joice acredita que confiar em si próprio é o primeiro passo."Mantenha uma preparação constante para desenvolver as habilidades e superar as dificuldades. Treine bastante, resolvendo as provas anteriores dos concursos em que você deseja obter aprovação. Quando errar, não desanime, utilize os erros para se superar. Aproveite todas as oportunidades. Além do mais, cuide da sua saúde física e espiritual. Tenho certeza que obterá muitas vitórias!”, finaliza a tocantinense.

Fonte: Folha Dirigida (Diego Amorim)

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