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30 de Abril de 2024

Higienismo de Dória e a população de rua

Publicado por Justificando
há 7 anos

Dória publicou hoje no Diário Oficial, às pressas e sem qualquer discussão pública, alterações muito graves no decreto de zeladoria urbana que afetarão duramente a população em situação de rua.

O decreto n. 57.069, de 2016, foi construído depois de muita crítica à gestão Haddad, que cometeu equívocos enormes àquela época no tratamento com a população de rua. Defensoria, MP e entidades da sociedade civil discutiram um marco legal para restringir o “poder de polícia” da GCM contra a população de rua. Apesar dos seus limites e dificuldades de implementação, foi um avanço importante na efetivação dos direitos humanos desses segmentos vulneráveis.

Esse decreto consagrou o princípio da mediação para solução dos conflitos, que foi agora excluído. Além disso, o princípio da transparência das ações públicas com ampla divulgação de informações à população também foi alterado na nova redação.

Sob esse decreto, as ações de “zeladoria” deveriam ser preferencialmente realizadas das 7h às 18h, de segunda a sexta, para evitar ações, por exemplo, enquanto as pessoas estivessem dormindo; agora, estão liberadas as ações em qualquer dia e horário sem justificativa.

Além disso, era vedado subtrair das pessoas em situação de rua “itens portáteis de sobrevivência, tais como papelões, colchões, colchonetes, cobertores, mantas, travesseiros, lençois e barracas desmontáveis”. A redação anterior estabelecia, ainda, que, “em caso de dúvida sobre a natureza do bem, os servidores responsáveis pela ação deverão consultar a pessoa em situação de rua”.

Ambos dispositivos foram suprimidos nessa modificação de hoje. Ou seja, as forças de segurança poderão retirar itens de sobrevivência das pessoas em situação de rua, o que sabemos que pode levar até ao óbito sob condições de clima muito frio.

Outro ponto bastante grave foi a supressão o item que obrigava, em caso de resistência das pessoas em situação de rua, que “o diálogo será adotado com primeira e principal forma de solução de conflitos, não sendo admitidas atitudes coercitivas que violem sua integridade física e moral”.

Abre-se, assim, ainda mais margem para a atuação arbitrária das forças de segurança contra essa população já tão sujeita a diversas formas de violências.

É preciso destacar, ainda, que antes o decreto permitia que fossem recolhidas “barracas montadas durante o dia, desde que não sejam removidos pelo possuidor ou proprietário”. A nova redação fala apenas em “barraca”, sinalizando que poderão ser imediatamente retiradas sem qualquer possibilidade de a própria pessoa retirá-la.

Apagar pichações e grafites já seria bastante grave. Mas o higienismo da gestão Dória vai muito além disso, quer “apagar” pessoas do espaço público da cidade. Todo governo conservador mobiliza o discurso da “limpeza pública”, da “higienização social” e do “saneamento moral” para atacar populações vulneráveis e consideradas indesejáveis, como pessoas em situação de rua, prostitutas, pessoas LGBT, negros e outros.

É preciso denunciar amplamente essa medida para que as alterações sejam revertidas. A “cidade linda” do Dória se anuncia contra os seres humanos e na base da repressão. Não é isso que queremos para São Paulo. Não é isso que nossa cidade merece.

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/higienismo-de-doria-e-a-populacao-de-rua/420362999

64 Comentários

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Discurso esquerdista horroroso. Ninguém está sendo repreendido, e sobre as pichações acho que na verdade os pichadores é que deveriam ser punidos sendo obrigados a prestar serviço de limpeza do espaço público, limpando as próprias pichações e as de outros. Ninguém é obrigado a conviver nem aceitar pichações em seu patrimônio, ou no patrimônio público. A cidade está suja, horrorosa, largada e com mostras de descaso. O Dória está mostrando que há sim gente que se importa com a cidade. Os moradores de rua deveriam ir para os albergues, mas eles querem ficar vagando sem destino pela cidade, diminuindo a segurança do espaço público. Quero ver o autor do texto andando à noite na cracolândia ou em outros locais repletos de moradores de rua e dizendo que se sente seguro. continuar lendo

Você não sabe debater ou discordar de um tema sem essa agressividade inicial? continuar lendo

Bruno Dias, quem foi agressivo foi o autor do texto, e de fato estamos fartos do discursinho de politicamente correto não fazer nada pelas pessoas que sustentam esse país. Apesar de reconhecer que algumas pessoas possam sim ser prejudicadas, a grande maioria não quer compromisso nem sacrifício; apenas se contentam com algumas esmolas e vivem a vida do jeito que querem. Vícios encontram terreno fértil nesse tipo de atitude. A escravidão às drogas e álcool vêm em seguida. continuar lendo

Fico muito satisfeito quando vejo artigos como esse, pois é claro e óbvio que a (necessária) Esquerda está desesperada para refutar o trabalho do Dória. De acordo com a cartilha, ele sendo empresário, deve ser demonizado sob qualquer circunstância, independente do que esteja fazendo.

Como ele está, de fato, indo muito bem e agradando à imensa maioria dos seus eleitores, com apenas poucos dias de mandato, vejo a Esquerda nessa repulsa injustificada pois na verdade eles queriam estar no lugar dele, pois ela mesmo se vê como a "nova cara da política".

Não é não. continuar lendo

Sabe Vanessa, espero que um parente seu idoso, com deficiência cognitiva, não fuja , não desapareça, porque pelo seu conceito, se isto ocorrer, ele será massacrado na rua pelo seu Prefeito. Antes de ser agressiva (falta argumento) saiba que uma grande parcela de moradores de rua é composta por pessoas com um sem número de deficiências, por causas variadas. Para você são apenas um incômodo, uma poluição visual, um estorvo. Para mim são seres humanos. Aliás perdi a conta de quantas vezes ao longo dos meus 13 anos de Pronto Socorro recolhemos pessoas idosas, deficientes, que tinham "fugido", sem nome, sem sequer saber quem eram, para você deveriam ser removidos à força para albergues que você sequer se importa como são (afinal estas pessoas não são gente). Para mim deveriam ser acolhidos em cada situação que se apresente, devolvidos ao convívio familiar , à sua comunidade, enfim um TRABALHO SOCIAL, não um trabalho policial... continuar lendo

Concordo plenamente com o que Dória está fazendo na cidade de São Paulo, limpeza geral. As "artes Grafitas" devem ser expostas em lugares fechados e não público. Outro ponto é no tocante ao apoio daquelas pessoas que estão vivendo na vulnerabilidade e expostas a todo e qualquer tipo de dependências químicas. Essas, devem ser recolhidas e tratadas para posterior reingresso à sociedade. continuar lendo

Parabéns ao João Dória. Além de SP, tinha começar a limpar o Brasil inteiro dessa gente que não quer compromisso com nada e não contribui com desenvolvimento do país. continuar lendo

Cristina Maria Machado, você quis dizer, "sem" com esse mesmo?, sem lugar nenhum, sem nada, sem vergonha... ou se refere a "cem", 99 a 1. Quanto aos longos de 13 anos, que você se refere, me faz lembrar do número do partido dos trabalhadores que, durante esse período, arrasou com o Brasil e com a vida dos brasileiros e ainda continuamos num mar de lama. Criticar é fácil, fazer é o que eu quero ver, sem querer tirar proveito. continuar lendo

...em nenhum momento o decreto do prefeito fala em lgbt, em nunhum momento o decreto do prefeito fala em negro, portanto muito mimimi.
ps. gostaria que o autor falasse em quantos moradores de rua ele ajudou (ajudou mesmo) nos ultimos anos. continuar lendo

Rídiculo este comentário! Certamente o nobre colega não deve transitar pelas ruas da nossa Capital, tão pouco pelo Centro da Cidade.
Fiquei 2 anos fora e quando voltei, simplesmente encontrei um "lixão" a céu aberto o que outrora era chamado de cidade.
Ainda que seja visível as dificuldades econômicas que paira o país, nada justifica o caos que virou as ruas de são Paulo e seus amontoados de lixos e pessoas que se acomodam em qualquer lugar onde acham ser de direito levantarem suas "casas" ou "abrigos".
Se for pesquisar corretamente a origem e o conceito que levou o prefeito a tomar medidas de urgência, verificará que não estão simplesmente retirando os moradores de rua de seus lugares, mas também possibilitando a recolocação em lugares apropriados, bem como a atual gestão está dando condições de buscarem recolocação no mercado de trabalho. Antes de criticar busque informações e aprenda como cidadão a colaborar com as gestões vigentes... fica a dica continuar lendo

Antes de 2 anos as ruas não eram "lixões"?
Outrora era limpo?

Obs: O ato do prefeito deve ser avaliado com o passar do tempo, mas desconheço tal limpeza antes dos 2 (dois) anos. Pelo menos não lembro. continuar lendo

Lamentável discurso de mente de esquerda, simplesmente horrível, condenar o apagar das pichações é o fim da picada. continuar lendo