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16 de Junho de 2024
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    Idoso perde espaço na família

    Uma vida tranquila, que possa reunir os filhos, netos e quem sabe, até bisnetos. Talvez seja esse o desejo de muitos que dedicaram a maior parte da existência à família. Mas hoje, quando é comemorado o Dia do Idoso, a realidade encontrada por muitos que chegam à velhice é bem diferente: brigas entre familiares, maus-tratos e abandono cada vez mais constantes.

    Segundo dados da Delegacia Especializada em Proteção ao Idoso da capital, em 2008, foram registrados 945 ocorrências referentes a desavenças familiares. Em 2009, houve um crescimento de 36,4%, com 1.289 famílias recorrendo à delegacia. Neste ano, de janeiro a julho, a polícia registrou 377 notificações de abandono e agressão ao maiores de 65 anos.

    A delegada Joana Margareth Penha, titular da delegacia, explica que os números representam a fragilidade da estrutura familiar para lidar com uma população que está envelhecendo. "As famílias não estão preparadas para cuidar de seus idosos", avalia.

    A preocupação na delegacia do idoso, conforme a delegada, é preservar os direitos dessa parcela da população, que cresce cada vez mais. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008, 11,77% dos mineiros têm mais de 60 anos. Minas fica atrás apenas do Rio de Janeiro (14,86%), Rio Grande do Sul (13,47%) e São Paulo (11,95%).

    Os números mostram também que o futuro deve trazer mais mudanças. Em 2008, para cada grupo de cem crianças de 0 a 14 anos, havia 24,7 idosos de 65 anos ou mais. A previsão é de que em 2050 o quadro mude e que haja, para cada cem crianças, 172,7 idosos no país.

    Direitos. Com a expectativa de vida cada vez maior, o Estatuto do Idoso tenta reprimir violências como a sofrida pelo aposentado já falecido Nozinho, 81, morador do bairro Jaraguá, região da Pampulha. Por dois anos, ele sofreu com os maus-tratos da cuidadora. "É inacreditável que uma pessoa tão carinhosa pudesse fazer tantas maldades", relembra a filha. O pai foi agredido fisicamente e moralmente pela responsável por cuidar de sua saúde.

    Após a morte do pai e a comprovação dos maus-tratos, a família ainda espera por justiça. "Não tivemos apoio do poder público para lidar com o trauma que passamos e não entendemos o motivo de tanta demora em resolver o processo", reclama a filha. Segundo Joana Penha, as investigações continuam.

    Já a aposentada Anna, 80, moradora da região Noroeste da capital, tem uma história de tristeza e abandono. Depois de passar metade da vida morando no Espírito Santo, ela voltou para Belo Horizonte e se deparou com falta de cuidados médicos e solidão. "Sinto falta dos meus filhos e netos", desabafa. Os filhos, segundo a aposentada, passam a maior parte do tempo brigando. "Desejo que tudo isso acabe", diz. A filha dela, Cristina Silva, tenta conseguir na Justiça o direito de cuidar da mãe. "Quero tirar minha mãe de tantas brigas e discussões".

    Descaso

    `Velhinho´ é visto como fardo

    A psicóloga Maria Aparecida da Silva, responsável pelo Lar dos Idosos Santo Antônio de Pádua, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte, afirma que uma das principais causas de violência contra o idoso está diretamente ligada ao sentimento de imediatismo muito presente hoje na sociedade.

    "Observamos que as pessoas estão cada vez mais individualistas e não se preocupam com o bem-estar dos seus velhinhos", avalia.

    De acordo com a especialista, o principal motivo do abandono aos idosos em asilos e casas de repouso é a dificuldade de relacionamento com filhos, netos, genros e noras. "É muito comum abrigarmos idosos que, segundo a versão dos familiares, estão afetando a harmonia da nova família", disse.

    Se, por um lado, as casas de repousos são vistas, muitas vezes, como abandono dos mais velhos, por outro, essa pode ser uma alternativa melhor que a violência. "O asilo acaba sendo o lugar de segurança e conforto para a terceira idade, que, muitas vezes, não tem apoio familiar", avaliou.

    Segundo Silva, dos 38 idosos que hoje moram no asilo, apenas dez recebem visitas de parentes em datas comemorativas. Outros 20 nunca são lembrados pela família. "Abandono é crime, previsto no Estatuto do Idoso, mas mesmo assim é o que mais acontece", disse. De acordo com a psicóloga, muitos velhinhos apresentam um estágio de depressão profunda que pode levar até a morte. (GS)

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