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2 de Maio de 2024

Líderes no Congresso defendem fim do foro privilegiado

Levantamento revela que 65% dos líderes e vice-líderes no Congresso são a favor do fim da norma que garante a autoridades o direito de serem julgadas por um tribunal, e não por um juiz de primeira instância

há 10 anos

São Paulo - A recente decisão do Supremo Tribunal Federal de transferir do plenário para as duas únicas turmas da Corte o julgamento de ações penais contra deputados, senadores e ministros de Estado trouxe à tona novamente o debate sobre o chamado foro privilegiado. Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo revela que 65% dos líderes e vice-líderes no Congresso são a favor do fim da norma que garante a autoridades o direito de serem julgadas por um tribunal, e não por um juiz de primeira instância. Apenas 14% das lideranças se disseram contrárias ao fim do foro especial. Outros 17% informaram não ter ainda posição definida sobre o tema, e um líder defendeu “posição intermediária”. O Estado ouviu os 18 líderes ou vice-líderes da Câmara dos Deputados e as 17 lideranças do Senado, questionando-os se são a favor, contra ou não têm posição definida em relação ao fim do foro privilegiado.

Na Câmara, 11 parlamentares afirmaram ser favoráveis ao fim do foro e dois se disseram contrários à extinção da norma. Cinco deputados informaram não ter posição definida sobre a questão, sendo que um deles defendeu o fim do foro privilegiado apenas para alguns crimes. No Senado, 12 parlamentares defenderam o fim da prerrogativa e três afirmaram ser contra. Dois senadores declararam não ter posição fechada sobre o tema. Muitos parlamentares que defendem o fim do foro alegam que, apesar de a norma ajudar a acelerar o julgamento dos processos, como ocorreu com o mensalão federal, a prerrogativa diminui as possibilidades de defesa das autoridades, pois o julgamento já começa na última instância do Poder Judiciário. “Isso é resquício da época da ditadura militar, quando tinha que resguardar os parlamentares”, diz o líder do PRB na Câmara, George Hilton (MG). Para o líder do PSOL no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), essa é uma “prerrogativa parlamentar descabida, não republicana”.

'Inchaço'

Para alguns deputados e senadores, o foro especial gera um “inchaço” de processos no Supremo. Para o líder do PV no Senado, Paulo Davim (RN), a prerrogativa “sobrecarrega a Corte Suprema com coisas bestas que poderiam ser resolvidas na primeira instância”.

Segundo o tribunal, em maio havia 99 ações penais contra parlamentares à espera de julgamento e aproximadamente 500 inquéritos contra políticos em tramitação na Corte. “É humanamente impossível julgar tudo”, afirma o líder do bloco do PR, PT do B e PRP na Câmara, Bernardo Santana (MG).

Apesar de defender o fim da norma, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), pondera que o foro privilegiado deve ser “centralizado” no procurador-geral da República, para evitar “perseguição política”. Parlamentares que se dizem contrários ao fim da norma alegam que o foro não pode ser interpretado como privilégio ou facilidade para impunidade. “Longe disso. É uma garantia aos parlamentares de terem um julgamento tanto quanto possível mais justo”, defende o líder do PSD na Câmara, Moreira Mendes (RO). Ele diz, no entanto, ser favorável à decisão do STF de transferir processos contra autoridades para as turmas.

Defensores da manutenção do foro dizem ainda que ele evita que parlamentares e ministros sofram eventual perseguição de magistrados de primeiro grau.

Líderes do PSDB na Câmara e no Senado alegam que o foro deve ser mantido, pois a prerrogativa acelera o julgamento contra autoridades. “Imagine um senador ou deputado federal julgado em ação penal que comece na primeira instância. Duraria no mínimo 20 anos”, diz o líder tucano no Senado, Aloysio Nunes (SP). Para ele, a norma garante julgamento mais isento. Muitos parlamentares revelam que só passaram a ser a favor da continuidade do foro após o julgamento do mensalão, processo que durou sete anos para ser julgado pelo STF. “Se não fosse o foro privilegiado, até agora o mensalão estaria se arrastando pelos tribunais estaduais”, afirma Aloysio Nunes.

Há quatro meses, o ex-deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), réu no processo do mensalão mineiro - esquema que, segundo o Ministério Público, desviou recursos públicos para a sua campanha de reeleição ao governo mineiro em 1998 -, renunciou ao mandato e o Supremo decidiu mandar para a Justiça de Minas a ação penal contra o tucano, que perdeu a prerrogativa do foro privilegiado.

Casos especiais

O deputado Fernando Francischini (PR), líder do Solidariedade (SDD), disse ser a favor do fim do foro apenas para crimes contra a administração pública, de corrupção, desvio de dinheiro público e crimes eleitorais. O parlamentar defende, no entanto, a manutenção da prerrogativa para crimes contra a honra, como calúnia e difamação.

“É difícil denunciar autoridade com pouca materialidade como fazemos, por isso acho que, para esses casos, o foro deve ser acoplado à imunidade parlamentar”, justifica. Segundo ele, nesses tipos de crime a norma garante ao parlamentar a defesa em um “tribunal que tenha noção política, como deveria ser o Supremo”. A maioria dos líderes e vice-líderes afirmou que a opinião emitida era pessoal e não refletia a orientação do partido em caso de votação de alguma das propostas de emenda à Constituição (PECs) ou projetos de lei que tramitam no Congresso sobre o tema. Questionados, disseram que vão reunir as bancadas quando as matérias forem incluídas na pauta de votação.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que iria fazer um levantamento das matérias existentes na Casa sobre o assunto e só depois se pronunciaria. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), não foi localizado.

Fonte:http://www.em.com.br/app/noticia/política/2014/06/23/interna_politica,541676/lideres-no-congresso-de...

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Eles não são bobos!

No final das contas, o "foro privilegiado" é contrário à autoridade, pois ao suprimir a primeira instância (ou até duas, como no caso dos mensaleiros), o processo é mais curto, podendo levar a uma condenação com trânsito em julgado mais rápida.

Melhor é enfrentar um processo normal, que demora muitos anos, pois se desenrola em meio a um cipoal de recursos e incidentes processuais, podendo sempre levar à prescrição. continuar lendo

O foro privilegiado não é privilégio algum. Ações de improbidade administrativa, por exemplo, que não possuem foro privilegiado, arrastam-se por anos a fio no Judiciário. Um advogado arguto pode fazer um processo estender-se por anos nos dois primeiro graus de jurisdição (basta recorrer de qualquer espirro do juiz, mediante embargos de declaração, agravos de instrumento, agravos regimentais etc).
Ou seja, somente quem tem pouca prática de como os juízos de 1º e 2º grau estão abarrotados pensa que "foro privilegiado" é privilégio. Ao contrário. Concordo com quem disse que o mensalão só foi julgado em 7 anos por conta do foro privilegiado. Não fosse isto, dada a complexidade do caso, levaria anos e anos para transitar em julgado a decisão e mesmo para chegar ao STF.
Se o discurso que algumas vozes pregam é o da "Lei e Ordem", ou seja, de que se deveria acabar com os benefícios dos parlamentares, sustentar o fim do foro por prerrogativa de função é um tiro no pé, pois produzirá justamente o resultado contrário - mais benefícios, e não menos. continuar lendo

Gravíssimo engano. Fora do STF, sem foro especial, as autoridades da República jamais serão condenadas. O privilégio de foro não é do exercente do cargo, mas da função, que, quando agredida, reclama resposta rápida da Justiça. Tiro no pé da democracia. continuar lendo

Concordo com você José! continuar lendo

Agora, sejamos sinceros, se não fosse pela mão firme do Min. Joaquim Barbosa, à frente do STF na consecução desse processo chamado de "mensalão", nós jamais teríamos uma sentença no tempo alcançado ou, quem sabe, uma prescrição seria mais provável. continuar lendo

Sim, Ricardo Araújo. Se no STF já rendeu tudo isso, inclusive com rusgas e embates entre os Ministros, imagina se a AP 470 fosse começar no 1º grau de jurisdição? Prescrição quase certa! continuar lendo

Deve ficar mais barato comprar juiz de primeira instância. he he he continuar lendo