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3 de Junho de 2024
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    Língua Portuguesa

    Publicado por Carta Forense
    há 16 anos

    Há erros que se cristalizam no diaadia da comunicação oral. Isso se evidencia em coletividades que utilizam idiomas complexos, como o nosso, a par das demais nações lusófonas.

    O eminente lexicógrafo Houaiss define Barbarismo como o "uso sistemático de formas vocabulares inexistentes na norma culta da língua, por parte de falantes que não a dominam inteiramente". Os exemplos abaixo citados enquadram-se no conceito descrito.

    É comum a indicação da ocorrência de festas "beneficientes". Trata-se de um evento inexistente. A razão? A festa só poderá ser beneficente. A beneficência ou filantropia é a atividade caritativa ou que traz benefício. A pronúncia equivocada - "benefiCIENte" -, por certo, não trará nenhum. É de todo recomendável ajudar quem necessita... e por que não o fazer com gramaticalidade?

    Em outro giro, quando se quer dar um tratamento vago e indeterminado, referindo-se a outrem, usa-se a forma estereotipada "fulano, beltrano e ...". As reticências indicam que faltou a terceira referência, não é mesmo? Digamos que o suspense é propositado. A razão? Fala-se e grafa-se com imprecisão o termo omitido. Assimilemos: fulano, beltrano e sicrano - esta última com -s e sílaba -cra (e não "-cla"). Não há dúvida que a sonoridade da forma correta é estranha. Todavia, não se trata de boa ou má sonoridade, mas de correção ortográfica, e dela não podemos prescindir.

    É sabido que as palavras têm força demasiada. Assemelham-se ao pássaro que foge da gaiola, não mais retornando ao local de onde partiu. Há de haver cautela na anunciação dos termos. Nesse passo, tem-se ouvido a expressão "no que pertine...". Muita calma! Trata-se de menção a verbo inexistente em nosso léxico. Encontram-se, sim, dicionarizados os termos pertinente e pertinência, porém o verbo não foi previsto. Assim, seu uso deriva da imaginação. Deve-se evitar a forma, substituindo-a por "no que concerne...", "no que tange..." ou, ainda, "no que se refere...".

    Se as palavras são como pássaros que fogem da gaiola, certamente, "muitos deles encontram-se soltos por aí..." Note mais um barbarismo: os gramáticos e os dicionaristas não registram o uso vernáculo da locução "a teor de", ocupando o lugar das corriqueiras conjunções conformativas conforme, como, consoante, nos termos de, de conformidade com. Estas expressões são válidas; aquela, não. Portanto, há erronia quando se diz "a extinção do feito se deu a teor do art. 267 do CPC". Prefira "a extinção do feito se deu conforme o art. 267 do CPC" (ou com as outras locuções sugeridas).

    De fato, os equívocos mencionados são deveras curiosos. Não menos intrigante é a disseminação deles no falar diário. Situações há em que a forma correta - por ser tão rara diante do uso iterativo da expressão condenável -, pode causar estranheza e ser tida como a inválida, a incorreta. Note o caso de aficionado. O adjetivo deve ser assim grafado e pronunciado. Não existe a forma "aficcionado", com dois "cês". Assim, memorize: quem é entusiasta ou nutre simpatia por algo é um afiCIOnado e ponto final. Talvez o dislate derive da falsa correlação com o termo "ficção", porém não deve haver similitude entre as formas.

    Os ingleses têm uma emblemática máxima: "A imaginação é a inteligência se divertindo". De fato, não há nada mais fértil que nosso poder de criar, de imaginar. Entretanto, a comunicação deve se dar com o rigor das normas cultas. A inteligência pode se divertir, porém a "diversão" não deve provocar irritabilidade a quem se dirige, tornando o ouvinte irascível - aliás, um termo mal pronunciado por aí. Deve-se falar assim, e não com dois "erres" - "irrascível" - um vocábulo inexistente.

    Nosso diaadia apresenta-se repleto de encruzilhadas lingüísticas. Entre o que existe e o que não existe em Língua Portuguesa está a chave do uso escorreito do idioma. Talvez a "chave" da gaiola daqueles pássaros que voam por aí...

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/lingua-portuguesa/117118

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