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30 de Abril de 2024

Piratas com trânsito livre

há 10 anos

Por Extra

RIO — Avenida República do Chile, Centro do Rio, 16 horas. Um ônibus encosta no ponto reservado a taxistas em frente a um dos acessos à estação Carioca do metrô. Na porta, um homem vestindo bermuda, camiseta, chinelos de dedo e óculos escuros anuncia, ao berros, o itinerário da linha irregular que tem como ponto final o bairro de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. É o início de mais uma jornada da viação pirata.

Todos os dias à tarde, o trecho de pouco mais de cem metros entre o prédio da Caixa Econômica Federal e a estação do metrô no Largo da Carioca é transformado numa espécie de rodoviária pirata, onde coletivos antigos e malconservados — alguns com multas e IPVA atrasados há sete anos — fazem o transporte de passageiros livremente, partindo com intervalos de até meia hora, sob a vista grossa de PMs e guardas municipais.

MOVIMENTO MAIOR À TARDE

O serviço irregular também é feito durante as manhãs, entre 6h e 9h, mas é a partir das 16 horas que a movimentação dos piratas fica mais intensa, inclusive, com coletivos parados em fila dupla na Avenida República do Chile. O vaivém dos piratas se prolonga até 22 horas. Repórteres do GLOBO acompanharam por três dias — de segunda à última quarta-feira — a atividade ilegal.

Nesse período, 23 coletivos foram flagrados realizando o transporte irregular de passageiros, circulando livremente pelo Centro e também pelas avenidas Vieira Souto, em Ipanema, e Atlântica e Princesa Isabel, em Copacabana. Apesar de 14 dos coletivos estarem em situação irregular, com multas e licenciamento anual atrasados, nenhum dos veículos foi abordado por patrulhas da PM ou qualquer outro tipo de fiscalização.

Cinco dos coletivos que faziam a ligação entre bairros da Zona Sul do Rio com os municípios de Queimados e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, acumulam juntos R$ 16 mil em multas atrasadas. Três deles tinham feito o último licenciamento em 2007, conforme pesquisa realizada a partir de dados do Detran.

Na Avenida República do Chile, onde todas as tardes a movimentação dos coletivos ilegais remete a uma rodoviária pirata, com veículos parados em fila dupla, a situação não é diferente. Seis dos ônibus que fazem ponto final diariamente na região estavam com IPVA atrasado e multas acumuladas. Um deles não passa por vistoria há dez anos.

A falta de documentação e o mau estado de conservação, contudo, não afugentam os passageiros, que pagam valores até acima do praticado pelas empresas regulares: entre R$ 5 e R$ 10, neste caso quando o coletivo tem ar-condicionado. Para o usuário, o principal atrativo está na rapidez do percurso:

— O ônibus convencional custa R$ 3, mas vai parando em todos os pontos, leva mais de duas horas para chegar a Campo Grande. Isso quando não pega engarrafamento. O pirata é expresso — diz a diarista Lúcia Pereira, de 38 anos.

A justificativa usada pela moradora da Estrada do Monteiro, em Campo Grande, geralmente é repetida pelos demais usuários do transporte ilegal. Principalmente, os passageiros que recorrem aos piratas vindos da Baixada Fluminense.

A equipe de reportagem flagrou duas linhas irregulares em atividade, ligando o Jardim de Alah ao município de Queimados e ao bairro de Cabuçu, em Nova Iguaçu. O itinerário aparece em placas afixadas à frente dos coletivos, que circulam pela orla. Parte do percurso é feita com a porta aberta. De pé nos degraus, o cobrador anuncia aos gritos o itinerário e a tarifa: R$ 10.

— Tem ônibus que aceita até vale-transporte e bilhete único, mas cobra uma taxa. Moro em Queimados e prefiro o pirata porque pego o ônibus na esquina da minha rua e vou direto até o trabalho, em Copacabana. Sem ele, tenho que pegar um ônibus para o Centro do Rio e depois outro para a Zona Sul — argumenta o pedreiro José Carlos Vieira, de 41 anos.

Para aceitar o “dinheiro eletrônico”, os piratas lançam mão de uma parceria ilegal com vans que contam com validadores. Há casos ainda em que os passageiros descarregam o cartão, pagando taxa de 15%, e utilizam o serviço de transporte irregular durante um mês.

A tecnologia também serve para driblar a fiscalização. Os piratas utilizam radiotransmissores e a internet, por meio de smartphones, para trocar informações e evitar blitzes. Na tarde da última segunda-feira, ao notar que seu coletivo havia sido fotografado na Avenida Atlântica, um dos motoristas alertou os demais piratas, que passaram a circular sem exibir a placa indicando o itinerário.

De acordo com a assessoria do Departamento de Transportes Rodoviários (Detro), de janeiro até a primeira quinzena deste mês, 140 ônibus piratas que operavam irregularmente linhas intermunicipais foram apreendidos em fiscalizações na Região Metropolitana e em municípios do interior do estado. O órgão não tem uma estimativa do número de piratas em circulação no estado.

PREFEITURA DIZ QUE É CASO DE POLÍCIA

Ainda segundo o Detro, a fiscalização dos ônibus piratas que circulam pela capital é feita pela Secretaria municipal de Transportes, ficando sob atribuição do órgão estadual apenas a repressão aos que fazem o transporte intermunicipal.

A Coordenadoria Especial de Transporte Complementar da prefeitura argumenta que tem atribuição de fiscalizar apenas as vans, mas que, eventualmente, recolhe coletivos piratas. Contudo, o órgão não tem poder para multar esses veículos.

Já a assessoria da Secretaria municipal de Transportes afirma que atua na fiscalização de ônibus regulares e se, eventualmente, localiza em suas operações coletivos piratas, estes são encaminhados à polícia, uma vez que tal ação constitui crime: “Ônibus piratas são um caso de polícia e fogem a alçadas da secretaria, que atua com base no Código Disciplinar que regula a frota regular do município”.

Fonte: http://www.idec.org.br/em-ação/noticia-consumidor/piratas-com-trânsito-livre

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