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6 de Maio de 2024

Amores plurais são possíveis?

Publicado por Fabiane Bustamante
há 4 anos

Historicamente o casamento era indissolúvel, fomos criados com a ideia do amor monogâmico, que os casamentos eram eternos, independentes de amor, lembro-me na infância, sempre ouvi a minha avó paterna dizer: “o que Deus uniu, o homem não separa”. Ela sempre me contou das amantes que meu avô teve e que ela aceitou, pois, era esposa e tinha que permanecer com a família unida, afinal, o casamento era para ser eterno, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza.

Esta ideia de infinitude foi se desconstruindo com o tempo, para algumas pessoas, pois, ainda encontramos diversas pessoas, que defendem a família patriarcal e vivência ela acima de tudo!

Com passar dos anos, a sociedade foi descobrindo e se adaptando as novas configurações de vidas, a amante que era conhecida como concubina, passou a ser companheira. Passamos a reconhecer a união paralela ou simultânea.

Hoje é assegurado o reconhecimento das uniões homoafetivas no âmbito do Direito das Famílias, Sucessório, Previdenciário e Trabalhista.

Entre tantos avanços e ao mesmo tempo, vivenciamos retrocessos, diariamente, mulheres, LGBTI, idosos, crianças são violentadas, agredidas, enfim.

E agora precisamos romper e ter um entendimento mais holístico do fenômeno conhecido como poliamor, amor livre, amor plural etc., pautados em sentimentos com afetividades entre mais de duas pessoas.

Essa barreira talvez, seja uma das mais complicadas na atualidade, pois, é uma forma de se relacionar contra supremacia que questiona os modelos plurais e consideram somente as relações patriarcais.

As relações plurais, se pautam justamente pela liberdade e experimentação de acordo com os afetos e anseios dos envolvidos. O amor livre, sobretudo, escapa às categorias.

Sabemos que as relações monogâmicas foram criadas e o mito do amor romantizado perpetuará por muitos anos, para nós mulheres é bem mais difícil, fomos criadas para esperar o príncipe, o qual, era ele que tiraríamos das casas de nossos pais, que com ele nos sentiríamos seguras, com nosso próprio lar e família.

Sempre fomos consideradas o sexo mais fragilizado, mais “choronas”, reprimidas sexualmente, onde colocar as mãos em seu próprio corpo era errado e uma afronta, logo ouvíamos – “tira as mãos daí!”, mal conhecíamos nossa própria genitália.

Já os homens vivenciaram o avesso de tudo isso, para eles os amores livres, nunca foi um tabu, pelo contrário, os homens, desde a infância, são estimulados a se relacionarem livremente com seus órgãos sexuais e ter várias parceiras sem ter qualquer peso moral.

Faz-se necessário a desconstrução e considerarmos todos os aspectos necessários de se reestruturar nas relações, penso que é necessário assumir inicialmente nossos lugares sociais, reconhecer os nossos anseios e de nossos parceiros.

Acredito que para vivenciar o amor livre, não se deve temer a desconstrução das relações, dos afetos em todos os aspectos.

Precisamos dialogar sobre os amores livres, pois, eles existem desde sempre e estão desprotegidos juridicamente. Portanto, é de suma importância dialogar e aceitarmos que cada ser, vive e tem suas experiências, as relações vão tecendo combinados diferentes.

O amor livre é também pautado em afetividade, companheirismo, e ética com os outros parceiros. O fato é que, ao invés de rótulos, precisamos da validação estatal.

De fato, todos podemos amar de maneira livre, porém, com responsabilidade pelas suas ações, pois, desses vínculos advém filhos, daí a imposição da paternidade responsável, a prioridade da filiação socioafetiva e o reconhecimento judicial da multiparentalidade.

Penso, sobretudo, que é possível tecer redes de amor livre e fortalecê-las sempre se fundamentando em uma cumplicidade ética com outro. Amor não se divide, se soma, se multiplica.

Acredito e luto pelo não julgamento e pelo reconhecimento jurídico dessas relações, e que cada ser humano possa ter suas experiências, assim dizia o Professor:

“É experiência aquilo que “nos passa”, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação.” (Larrosa Bondía).

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