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17 de Maio de 2024

O direito do trabalho e as pessoas transexuais

Publicado por Raisa Matos
há 6 anos

As discussões sobre as questões de sexualidade e gênero são frequentes na contemporaneidade e, com a evolução da sociedade, é necessário que se façam mudanças nas legislações, como forma de garantir às pessoas, de modo geral, um tratamento igualitário e digno.

As condutas reiteradas de preconceitos com as pessoas transexuais dificultam a sua inclusão social e, consequentemente, impedem o acesso ao mercado de trabalho, situação agravada pelo grande desconhecimento sobre o gênero por parte da maioria das empresas brasileiras, que ainda trata esta questão como um grande tabu.

Em uma sociedade que caminha para o progresso, a exemplo da decisão do STF, que reconheceu a união estável homoafetiva, em 2011; da resolução 175 de 2013 do CNJ, que proíbe a recusa dos cartórios para a realização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo; bem como, da recente decisão, também do STF, que autoriza a mudança do sexo e do nome no registro civil por pessoas transexuais – independente de cirurgia -, ficar omisso diante de um tema tão importante quanto à discriminação sofrida pelas pessoas transgêneros que buscam um trabalho formal, seria corroborar com o preconceito.

Mas, antes de falar sobre o assunto, é importante esclarecer algumas coisas. Afinal, o que é uma pessoa transexual?

O (a) transexual é aquela pessoa que nasce com um sexo anatômico, mas que se sente no corpo de outro alguém, desejando ter o sexo diverso, razão pela qual se representa como se pertencesse ao sexo biologicamente oposto àquele com o qual nasceu.

Transexual e Travesti não se confundem. O termo “travesti” também se refere aquela pessoa que nasce com um determinado sexo biológico, mas se identifica com o gênero diverso do seu nascimento, no entanto, apesar de realizar mudanças no corpo, não anseiam a mudança do sexo, diferentemente dos transexuais.

Feito os devidos esclarecimentos, surge outro questionamento: Juridicamente, no âmbito do Direito do Trabalho, qual a proteção dada às pessoas transexuais?

Infelizmente, não há qualquer disposição legal que trate especificamente sobre o tema, mas o assunto vem ganhando atenção e obrigando as empresas a tomarem atitudes que propiciem a inclusão e combatam a discriminação.

O Ministério Público do Trabalho, através da portaria nº 1.036/2015, regulamentou o uso no nome social em todas as unidades do Ministério do Trabalho e Emprego. Nome social, segundo o art. do Decreto 8727/2016, é a “designação pela qual a pessoa travesti ou transexual se identifica e é socialmente reconhecida”.

Ainda, de acordo com o artigo 4º da referida portaria, é garantido ao empregado (a) o acesso a banheiros e vestiários de acordo com o nome social e a identidade de gênero de cada um.

A política adotada pelo MPT representa um grande avanço e deve ser adotada por outras instituições e empresas, principalmente com relação as mulheres transexuais.

Falando em mulheres transexuais, os dispositivos celetistas de proteção ao trabalho da mulher poderiam a elas aplicados?

Entendo que sim!

É sabido que desde a sua promulgação em 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho traz um capítulo próprio de proteção ao trabalho da mulher, com o fim específico de coibir discriminações, corroborar com a sua inserção no mercado de trabalho e conceder tratamentos especiais, levando-se em considerações as suas características sociais e biológicas.

É fato que alguns dos referidos artigos trazem uma gama de discussões no âmbito do judiciário e tem sido, até hoje, objeto de recursos em trâmite no Supremo Tribunal Federal, principalmente pelo disposto no art. , I e 7º, XXX da Constituição Federal de 1988, de que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, por isso, equivocadamente, há quem defenda que não há que se falar em algumas “concessões” específicas à mulher, sob pena de incorrer em ofensa ao princípio da igualdade.

No entanto, o tratamento especial dado à mulher empregada em determinados casos específicos não ofende a Constituição, pelo contrário, a coloca em condição de igualdade com o homem no mercado de trabalho, embora existam aqueles que defendem que a proteção especial dada à mulher legitima a visão estereotipada do “sexo frágil”.

Diante do exposto, em observância ao princípio da igualdade, entende-se que há necessidade de aplicar as normas de proteção ao trabalho da mulher às pessoas transexuais. Tais normas foram historicamente conquistadas, como forma de propiciar a sua inclusão e manutenção no mercado de trabalho, levando-se em consideração aspectos biológicos e sociais vivenciados até hoje.

Sendo assim, a mulher transexual também merece tratamento especial, pelo que a elas também devem ser aplicados as normas de proteção ao trabalho da mulher!

Quer saber mais ou tirar dúvidas: https://www.matoseberbert.com/

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13 Comentários

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O grande problema é que nossos juristas e legisladores não enxergam a realidade. Se quiserem que os transsexuais sejam aceitos nas empresas, comecem os tratando exatamente da mesma forma que os demais empregados.

Vamos dar um exemplo, vamos supor que um empresário, dono de uma pequena empresa com 20 funcionários, e sem nenhum preconceito, resolva contratar uma mulher trans, ou seja, um homem que se identifica como mulher.

Por mais que o empresário não tenha preconceito, será que seus clientes pensarão da mesma forma ? Se ela pessoa tiver contato com clientes será que alguns se sentirão ofendidos e deixarão de comprar desta empresa ? Por mais progressista, o que importa é lucro, senão a empresa fecha e todo mundo vai pra rua... e aí ?

Segundo, como irão reagir os demais funcionários ? Será que as mulheres se sentirão confortáveis dividindo o banheiro com um homem (independentemente de ter feito cirurgia ou não). Será que, para aceitar uma trans, teremos que mandar embora todas os funcionários antigos que não a aceitarem ?

Para finalizar meu exemplo, mais uma questão. Caso essa funcionária trans não atinga o desempenho desejado e a empresa tenha que demiti-la exclusivamente por causa do seu mau desempenho. Quais as chances dela entrar na justiça alegando discriminação e se vitimizando. Quanto a empresa vai ter que gastar, e qual será o desgaste para a imagem da empresa ?

Sinceramente, se eu fosse um empresário, eu não contrataria um trans... mesmo não tendo nada contra. Se querem incluir os transsexuais na sociedade o tratamento tem que ser igual ao de todo mundo, não pode criar cota, regras diferentes, nada, tem que tratar igual às outras pessoas, educar para respeitar e deixar a sociedade se adaptar. continuar lendo

Ubirajara, esse tipo de questões, e outras q diferenciam homens e mulheres, os grandes 'pensadores' que permitem a mudança de documentos e de 'sexo', como se isso de fato transformasse homens em mulheres, não pensaram. Sobre essas consequências sérias jurídicas, não houve ponderação, não se pensou no absurdo de deixar um homem que mudou documento para mulher se aposentar mais cedo. Para tanto, tenho solução: uniformize as aposentadorias. continuar lendo

Caro, Alex!

O Brasil a vida inteira lutou por diversos direitos, foram através dos movimentos que surgiram diversos direitos sociais, inclusive as cotas para negros. A criação de cotas para pessoas transexuais, não diminuem, tampouco tornas diferentes ou com tratamento diferenciado. A sociedade deve sim se adaptar, porque essas pessoas já fazem parte da sociedade, logo não precisam ser incluídas, e sim terem mais chances no mercado de trabalho obtendo dignidade. continuar lendo

Na minha opinião a pessoa nascida biologicamente mulher merece um tratamento especial quanto a gravidez e amamentação. Quanto a sua opção sexual, nada interfere no trabalho. Tirando questões biológicas todo mundo deve ser tratado igual e ter as mesmas oportunidades não importando cor, credo, opção sexual ou deficiência física. Criar diferenciações as pessoas de acordo com credo, cor ou opção sexual, pra mim não deixa de ser uma forma explícita de discriminação. A pessoa discriminada tem o direito de acionar a justiça e seus direitos como pessoa. Agora criar leis específicas para negros, leis para lgbt, pra mim o próprio poder judiciário está discriminando, apenas minha opinião. Eu tenho uma solução pra acabar com a discriminação --> A mídia e as autoridades pararem de discriminar, diferenciar as pessoas, não tocar mais no assunto. O governo proibir qualquer menção a qualquer tipo diferenciação de pessoa. Remover todas essas leis, deixar todo mundo igual. Imagine pegar uma cartilha e encontrar as seções: Tratamento para negros: bla bla... Tratamento para brancos: bla bla... Tratamento para héteros: bla bla... Tratamento para LGBT: bla bla... Tratamento para índios: bla bla... Será que isso não é uma discriminação??? continuar lendo

Perfeito o seu comentário; pensei em responder algo e não conseguia encaixar as ideias, mas o seu comentário falou tudo.
Como a matéria mesmo diz, "a pessoa sente" que nasceu no corpo errado, então passa a ser uma questão de escolha (como no caso da fé), e então não cabe leis e mais leis para proteger a escolha pessoal de um indivíduo... continuar lendo

Pergunto: no caso de transexual como fica a questão da aposentadoria? Vale a condição biológica do nascimento ou a condição de escolha? A pessoa nascida mulher é que opte por uma condição masculina terá que trabalhar 5 anos a mais para aposentar-se? E se for o inverso, a pessoa nascida homem e que opte por se tratada como mulher trabalhará 5 anos a menos? continuar lendo

Fisiologicamente falando, quem tem útero é mulher e quem tem próstata é homem, de resto é degeneração da espécie. Legalmente falando "todos são iguais perante a lei", exceto os políticos, e outras espécies raras. Proteger transexuais, travestis, homossexuais, GLBT, negros, pardos, índios etc em breve passa a constituir discriminação contra as pessoas comuns. Tá ficando difícil ser homem, hétero, "normal". continuar lendo

Eu já ando me sentindo discriminado e muito preocupado como pai. Tenho uma filha e não imagino ela usar um banheiro público dividindo o espaço com um homem que pensa que é mulher.
Acho que a sociedade deve dar um basta nisso.
O que está se formando é uma ditadura das minorias. Não podemos baixar a cabeça e aceitar certos absurdos.
A onda conservadora já é uma reação a tudo isso. continuar lendo

Eeeee representa ❤ continuar lendo