Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
2 de Maio de 2024
    Adicione tópicos

    43 anos depois, caso das mãos amarradas vai chegando ao fim

    Publicado por Espaço Vital
    há 15 anos

    Morreu em junho, no Rio de Janeiro, aos 72 de idade, Elizabeth Chalupp Soares, viúva de Manoel Raimundo Soares, o sargento das "mãos amarradas". Como o casal não teve descendentes, uma filha de criação (Fátima) - mas sem adoção formal - vai habilitar-se como sucessora.

    O óbito de ´Dona Betinha sem ter recebido os seus haveres causou indignação e mais motivos deu aos advogados João Francisco Rogowski e Rael Rogowski, para denunciar na primeira semana de julho o Estado Brasileiro à Corte Interamericana de Direitos Humanos por violação do Pacto de San Jose da Costa Rica e por crime contra a humanidade.

    No DJ on line, o STJ disponibilizou ontem (08) o acórdão do recurso especial da União, julgado no dia 1º deste mês e provido apenas para "afastar a incidência de juros compostos e reduzir o percentual dos juros de mora para 0,5% ao mês durante o período de vigência do Código Civil anterior".

    Ao extirpar parte dos juros, o ministro relator Herman Benjamin dispôs que os juros compostos não

    poderiam se transformar em encargo da União, mas sim por aquele (s) que praticou (aram) o crime - mas, no ponto, os sete denunciados escaparam pela via da prescrição reconhecida no Juízo criminal.

    Faltando o cálculo oficial da condenação - que está sendo feita pela Contadoria da Justiça Federal de Porto Alegre - a condenação fica próxima dos R$ 2,5 milhões.

    Uma história triste que começou em 1966

    * Centenas dos leitores do Espaço Vital ainda não eram nascidos - outros sequer estavam nos bancos universitários, ou recém davam os primeiros passos na Advocacia ou em outras tarefas como operadores do Direito - quando, no início de 1966, o sargento do Exército Manoel Raimundo Soares - participante do Movimento Legalista, que visava restituir ao presidente João Goulart o mandato tomado pelos militares, passou a viver na clandestinidade.

    * Em março daquele ano de 1966, Raimundo foi preso pela Polícia do Exército, em frente ao Auditório Araújo Viana, em Porto Alegre e levado para o Dops, onde foi torturado durante uma semana. Posteriormente foi transferido para a Ilha do Presídio, no Rio Guaíba. No dia 13 de agosto de 1966, ele foi novamente levado para o Dops, agredido ao longo de vários dias e assassinado por afogamento. O corpo foi encontrado no dia 24 de agosto. Soares tinha, então, 30 anos.

    * Em 1973, a viúva Elizabethe Chalupp Soares ajuizou uma ação requerendo pensão, ressarcimento pela União das despesas do funeral e indenização por danos materiais e morais. O processo foi transferido da Justiça estadual para a federal em novembro de 1988 e teve uma demorada tramitação. Em dezembro de 2000, o juiz Cândido Alfredo Silva Leal Júnior, então na 5ª Vara Federal de Porto Alegre, poucos meses depois de ter os autos conclusos, proferiu a sentença, mandando indenizar a viúva. A União recorreu.

    * Com os recursos, os autos foram remetidos ao TRF-4 em 16 de novembro de 2001. No tribunal, os autos passaram por distribuição, redistribuições, conclusões, impedimento, aposentadoria etc. que consumiram mais três anos e meio de espera. A última relatora designada (juíza federal Vânia Hack de Almeida, convocada para atuar no TRF-4) recebeu os autos conclusos em 11 de julho de 2005, levando o processo a julgamento em breve tempo. Em dois meses, ela leu os autos, julgou o recurso, improveu o recurso da União e manteve a indenização concedida.

    * Uma das frases candentes da então relatora foi que "Justiça depois de 30 anos não é mais possível". Desde então, a sucessão de recursos consumiu mais quatro anos e meio.

    * Segundo a sentença e o acórdão da JFRS, Elizabeth teria direito à pensão vitalícia, retroativa a 1966, com base na remuneração integral de 2º sargento, compensando-se os valores que ela já recebia mensalmente, pelo óbito do marido. O tribunal concedeu tutela antecipada neste item, permitindo que a viúva recebesse desde logo a correção monetária anual do pensionamento.

    * A reparação pelos danos morais foi fixada em R$ 222.720,00 - valor nominal, a ser corrigido monetariamente. A correção retroage à data da sentença (dezembro de 2000) e os juros de mora de 12% ao ano seriam contados desde a data do crime até hoje, mas o percentual foi agora reduzido pelo STJ para 0,5% ao mês, durante o período de vigência do Código Civil anterior.

    Até morrer, a viúva recebia R$ 1,5 mil de pensão mensal. Não viu a cor do restante! Com o julgamento pelo STJ, a execução de sentença torna-se definitiva e a filha de criação deverá habilitar-se para - possivelmente em 2011 - receber via precatório a ser pago pela União.

    • Publicações23538
    • Seguidores515
    Detalhes da publicação
    • Tipo do documentoNotícia
    • Visualizações1105
    De onde vêm as informações do Jusbrasil?
    Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/43-anos-depois-caso-das-maos-amarradas-vai-chegando-ao-fim/1858791

    Informações relacionadas

    Espaço Vital
    Notíciashá 13 anos

    Caso das mãos amarradas vira patrimônio histórico da humanidade

    Espaço Vital
    Notíciashá 15 anos

    Morre a viúva do sargento das mãos amarradas sem receber a indenização

    0 Comentários

    Faça um comentário construtivo para esse documento.

    Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)