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16 de Junho de 2024
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    A testemunha que caiu do céu

    Publicado por Espaço Vital
    há 4 anos

    Manhã fria e a caminhada de sempre entre o único hotel da cidade e a Junta de Conciliação e Julgamento localizada à frente da praça repleta de plátanos.

    Nas calçadas homens de bombacha, boina ou chapéu, lenço no pescoço, botas e pala.

    O juiz havia sido designado, não fazia muito, para atuar na pequena cidade, sede da jurisdição. Ainda despertava a curiosidade, especialmente dos advogados. A assistência era plena na sala de audiências. Era preciso “tirar a febre”.

    Dando início às ditas instruções, na pilha dos autos um processo no qual um empregado rural, entre outros direitos, postulava o adicional de insalubridade, alegando o contato com graxa e óleo.

    Colhido o depoimento, o autor confirma a versão que mantinha contato com graxa é óleo em decorrência da lubrificação do trator.

    No transcorrer, ingressa na sala a sua única testemunha. Um homem simples, visivelmente desconfortável com a situação.

    Na qualificação a testemunha declara o seu endereço que é em outro município, na vizinha cidade.

    O juiz pergunta:

    - Seu Carlos Henrique, o senhor é parente ou amigo íntimo do reclamante?

    - Não doutor, não conheço ele. E nem sei onde mora...

    - O senhor trabalhou ou trabalha na fazenda do Passo Largo?

    - Não doutor, não tenho nem ideia onde ela fica e de quem é.

    - Então como o senhor conheceu o reclamante?

    - É muito simples doutor, eu estava abastecendo a minha camionete Pampinha no posto do Vidigal, aquele ali na rótula da BR. Enquanto o frentista abastecia, me fixei em um trator laranja que estava parado e no homem que estava engraxando a suspensão. É justamente aquele homem ali - e apontou para o reclamante.

    O juiz antevendo o que estava pela frente, para, respira, passa a mão na barba e decreta:

    - Bem, vamos em frente. Acho que, para o senhor, apenas mais três perguntas.

    E veio a primeira, para saber se de fato a testemunha não havia conversado com o reclamante no posto. A negativa foi peremptória, reafirmando que jamais conheceu o reclamante.

    Diante disso, vem a segunda pergunta: se era correto afirmar que os dois não sabiam dos respectivos endereços residenciais?

    Com satisfação, a testemunha eleva o tom da voz para enfatizar que não era parente e muito menos amigo do reclamante, o que parece que finalmente havia sido compreendido pelo julgador.

    Sala repleta, o juiz olha para a testemunha e resume:

    - O senhor viu um homem que não conhecia, lubrificando um trator em um posto de combustível. Não falou com ele, não sabe onde ele mora e vice-versa. Se não teve qualquer contato com ele, pergunto: como chegou até aqui para prestar depoimento, em dia e horário designados?.

    Antes que o depoente respondesse, o magistrado desfiou mais uma rápida interrogação:

    - O senhor caiu do céu?

    O homem parou, olhou vagarosa e pensativamente para os lados, para cima, para baixo. E fitando firme para o juiz, definiu a situação:

    - Doutor, agora o senhor me pegou!

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