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17 de Junho de 2024

Abolicionista que libertou mais de 500 escravos será reconhecido pela OAB

há 9 anos

Negro liberto que se tornou libertador de negros, Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882) ficou conhecido como um rábula que conseguiu alforriar, pela via judicial, mais de 500 escravos. O rábula exercia a advocacia sem ser advogado.

Numa reescrita tardia da história, sua designação vai mudar. Na noite da próxima terça-feira (3), em cerimônia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Luiz Gama deve receber da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), 133 anos após a sua morte, o título de advogado. "No atual modelo da advocacia brasileira, é a primeira vez que tal homenagem é conferida", afirma o presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho.

"Já era hora de ele ter esse reconhecimento oficial", avalia o advogado Silvio Luiz de Almeida, professor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie e presidente do Instituto Luiz Gama (ILG). "Além de ter sido um homem importante na questão do abolicionismo, foi grande jurista e advogado de teses brilhantes."

"Embora não fosse advogado, Gama era um grande defensor da abolição e sua atuação como rábula livrou inúmeras pessoas dos grilhões escravistas", pontua o presidente da OAB.

Na cerimônia, Luiz Gama será representado por um tataraneto, um de seus 20 e tantos descendentes vivos, o engenheiro e empresário Benemar França, 68. "Tomei contato com a biografia desse meu antepassado quando estava no 2º ano ginasial e um professor de história pediu que pesquisássemos, cada um, sobre as nossas famílias, a nossa genealogia", conta. "O que descobri encheu-me de orgulho." Além da condecoração póstuma, o evento Luiz Gama: Ideias e Legado do Líder Abolicionista prevê dois dias de palestras e debates no Mackenzie.

Autor da biografia "Luiz Gama: O Advogado dos Escravos", publicada pela editora Lettera. Doc em 2010, o advogado Nelson Câmara acredita que a iniciativa da OAB é correta "embora serôdia", ou seja, tardia. "Era um sujeito de grande luminosidade", afirma Câmara.

Autodidata

Nascido em Salvador, filho de um português com uma escrava liberta, foi vendido como escravo pelo próprio pai quando tinha dez anos. Alforriado sete anos mais tarde, estudou direito como autodidata e passou a exercer a função, defendendo escravos. Também foi ativista político, poeta e jornalista.

Ele bem que tentou cursar direito no largo São Francisco. "Mas a aristocracia cafeeira da época não permitiu, porque ele era negro", atesta Câmara. "Mesmo assim, era assíduo frequentador da biblioteca de lá." No prefácio do livro, o jurista Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça, afirma que Gama foi "o negro mais importante do século 19".

Por complicações da diabete, o abolicionista Gama, entretanto, morreria seis anos antes de a Lei Áurea ser promulgada. Dez por cento da população paulistana, de acordo com estimativas da época, compareceu ao seu enterro - São Paulo contava então com 40 mil habitantes.

A multidão começou a chegar ao Cemitério da Consolação, onde ocorreu o sepultamento, ao meio-dia - o enterro estava marcado para as 16h. Não houve transporte oficial para o cortejo fúnebre. Do bairro do Brás, onde ele morava, o caixão veio passando de mão em mão até chegar à sepultura, num gesto coletivo. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

FONTE: UOL

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3 Comentários

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Eduardo Sefer
8 anos atrás

Engraçado... Se na época de Luiz Gama o IAB tivesse tanto poder e tantas resguardas como a sua sucessora OAB, teriam-no posto na cadeia, por "Exercício Ilegal da Profissão". Vai entender... continuar lendo

Luiz Otávio de Brito
8 anos atrás

Engraçado é a falta de debatedores para reconhecer esta realidade.

Assim sou a favor do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Furtado Coêlho:

“Racismo é um crime que reflete o pensamento autoritário que ainda povoa certos setores da sociedade brasileira, incapazes de aceitar e compreender o outro em sua integralidade e de respeitar a diversidade do ser humano”. (Marcus Vinicius Furtado Coêlho)

Clique e conheça mais.

http://www.afrodescendente.net.br/pdf/carolina.pdf continuar lendo

Eduardo Sefer
8 anos atrás

Das duas, uma: Ou você não entendeu meu comentário, ou fingiu não entender. Minha crítica não foi a Luiz Gama, que fez um valoroso serviço à sociedade, mas à OAB, que desde os tempos em que era IAB, busca, e efetivamente conseguiu, monopolizar a atividade advocatícia no país, e criminalizar quem não a atende, em detrimento da liberdade de contratação dos particulares.

Assim, mantenho: Se o IAB tivesse uma fração mínima do poder que a OAB tem hoje, Luiz Gama teria sido posto na cadeia por "exercício ilegal da profissão". Como, aliás, se faz hoje em dia. continuar lendo