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20 de Junho de 2024

Concurseiros trabalham com 'plano B' para 2016

Possível congelamento de mais de 40 000 vagas federais faz com que candidatos procurem concursos estaduais e municipais ou revejam planos de carreira

há 9 anos

Concurseiros trabalham com plano B para 2016 A possível suspensão de concursos públicos federais em 2016 frustrou os planos de muitos concurseiros, que, surpresos com a medida, buscam um plano B. Segundo o Ministério do Planejamento, são até 40 389 vagas em órgãos dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) que deixarão de ser criadas. A medida faz parte do controverso plano de ajuste fiscal elaborado pelo governo para tentar reequilibrar as contas públicas, que soma 66,2 bilhões de reais.

Os concurseiros, como são conhecidas as pessoas que se preparam para pleitear uma vaga no serviço público, tiveram que readequar prioridades. Entre as alternativas, eles falam em prestar concursos estaduais ou municipais, que não devem ser afetados, alimentar as esperanças de que os processos seletivos sejam retomados em 2017 - o congelamento dos concursos, com o qual o governo espera economizar 1,5 bilhões de reais, ainda depende do aval do Congresso - e até mesmo trocar de profissão.

"Temos que trabalhar com alternativas para não ficarmos dependentes dos concursos federais", diz a estudante Daíse Magalhães de Souza, de 25 anos. Ela quer disputar uma vaga para analista da Receita Federal, mas, com a possibilidade de suspensão, cogita prestar concursos estaduais ou municipais. Daíse é - ou seria - concorrente do comunicador visual Marco Antônio Costa, de 43 anos, que também sonha com uma vaga na Receita. Ele é mais um que pensa em voltar as baterias para concursos na esfera estadual. "Penso em prestar para analista do ICMS, do governo paulista", diz. Se nada der certo, Marco diz que trocará de profissão. "Preciso ter uma vida mais regrada, com carga horária reduzida e mais qualidade de vida."

O administrador César Fernandes, de 38 anos, conta que soube do possível congelamento dos concursos pela imprensa. Em seguida, questionou a direção de seu curso preparatório para saber o que fazer. Fernandes quer prestar concurso para trabalhar no Banco Central. Como está em seu primeiro ano como concurseiro do BC, vai aproveitar o congelamento para seguir estudando, até que a seletiva seja anunciada. "Os cortes sempre sobram para o povo. Mas ao menos vou ter mais tempo para me preparar melhor."

O incômodo com a possível suspensão dos concursos federais é acompanhado pela sensação de ter se transformado em bode expiatório do aperto das finanças do governo federal. "O brasileiro não tem culpa do que está acontecendo. A medida, anunciada de uma hora para outra, pode afetar os planos de muita gente, inclusive os meus", diz o técnico em informática Emanuel Trindade, de 26 anos.

Trindade tem razão: reduzir o tamanho do Estado e de seu funcionalismo, por meio de reformas administrativas cuidadosas, é uma tarefa a que governos sucessivos, desde a redemocratização, deveriam ter se dedicado. Mas o caminho percorrido foi o contrário. Não apenas a máquina pública inchou continuamente, como entraves ao empreendedorismo se encontram por todos os lados. Recentemente, o centro de pesquisas canadense Fraser Institute, divulgou seu ranking mundial de liberdade econômica, em que o Brasil aparece apenas em 118º lugar. Isso torna a estabilidade e os altos salários do funcionalismo ainda mais atraentes. Em 2015, mais de 12 milhões de pessoas disputarão vagas abertas em concursos públicos pelo país afora, um exército que representa mais de 11% da população economicamente ativa. Enquanto espera a retomada dos concursos - ele quer tentar uma vaga no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica -, Trindade, concurseiro prevenido, vai se dedicar com afinco a seu emprego atual. Em um outro Brasil, esse caminho na inicitavia privada poderia lhe bastar.

Esperança na 'imunidade' - O técnico em informática conta que, em seu curso preparatório, foi informado que concursos como os do BB e da Caixa são as "galinhas do ovos de ouro" do governo, o que pode deixá-los imunes à suspensão. É nessa "imunidade" que aposta Evandro Guedes, CEO da AlfaCon, um dos maiores cursos prepatórios para concursos públicos do país, com 792 mil alunos na internet. "Primeiramente, o governo deve suspender concursos para ministérios, de natureza não-obrigatória. Já as vagas de natureza essencial, como as da Receita ou da Polícia Federal, não devem ser congeladas porque garantem o funcionamento da máquina estatal", diz. Segundo ele, depois do anúncio do governo, apareceu uma enxurrada de perguntas nas redes sociais da escola. "Houve um pânico inicial, principalmente de iniciantes."

Esta não será a primeira vez que o governo recorre ao cancelamento dos concursos para conter gastos. Em março de 2011, uma portaria do Ministério do Planejamento suspendeu a nomeação de concursados e a realização de novos processos seletivos. Naquela época, o governo esperava gerar uma economia de 3,5 bilhões de reais. A então ministra do Planejamento, Miriam Belchior - hoje presidente da Caixa -, chegou a dizer na ocasião que estava "olhando com lupa" para as novas contratações para saber se realmente eram necessárias.

O diretor da Central de Concursos, Jaime Kwei, citou o caso para minimizar o anúncio do governo feito na última segunda-feira. "Naquele ano, foram abertas 24 740 vagas. A máquina não pode parar. As pessoas morrem, se aposentam, pedem exoneração". Para os primeiros meses de 2016, estava prevista a seletiva para ingresso na Receita Federal, um dos concursos mais aguardados no ano. Trata-se do maior concurso da área fiscal, com 5 000 vagas para auditor e analista. "Num momento em que o Brasil está discutindo como reforçar seu caixa, como não contratar os responsáveis diretos pela arrecadação?", raciocina Kwei. De janeiro a agosto, a arrecadação federal acumulou queda de 3,7% em relação ao mesmo período de 2014.

Os dirigentes dos cursos preparatórios dizem que, em média, um concurseiro estuda de um a dois anos para passar nos testes. O congelamento pode criar um período adicional de preparação para os concurseiros, em particular para os trabalhadores incluídos na recente onda de demissões no setor privado. "A iniciativa privada não está em seu melhor momento", diz o coordenador da rede LFG, Nestor Távora. Os concurseiros que aliam estudos e trabalho se seguram nos empregos atuais - enquanto eles existem.

Fonte: Veja

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3 Comentários

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Eduardo Siqueira
8 anos atrás

Nos EUA os "gênios" formam empresas ou trabalham para elas. No Brasil, o gênio quer ser servidor público. E não há nada de errado nisso: é uma questão de sobrevivência. Como é que se pode pedir a alguém que procure o pior para si mesmo, se há opções melhores? Nos EUA, a busca pelas empresas não é por "asco de mamar nas tetas do governo" ou pelo "dever civil de ser uma das peças no crescimento econômico": é apenas consequência de se querer o melhor para si, já que as empresas lá é que pagam melhor.

Lá, quando o governo precisa contratar servidores, corre atrás deles, porque os melhores não querem trabalha para o Estado, que paga salários menores, além da possibilidade de ser demitido a qualquer momento, como qualquer trabalhador. Não vale a pena ser servidor público americano, principalmente porque você está à mercê de vontade política para permanecer no cargo.

Trabalhei para político anos atrás e perdi meu cargo na época para um sobrinho da vereadora. Assim mesmo, fácil, mesmo sendo melhor qualificado (claramente) que o rapaz, que ainda estava terminando o segundo grau. Na verdade, para mim, foi um alívio porque eu não estava encontrando uma maneira educada e adequada de dizer o quanto eu era mal remunerado pelo que fazia. Saí e encontrei coisa melhor.

No Brasil, infelizmente o "melhor", o modelo ideal que todos querem, encontra-se no serviço público, que não sofre do imenso ônus tributário/trabalhista (citando uma variável do problema) que as empresas.

Na época em que o serviço público brasileiro pagava salários baixos, da mesma forma ninguém queria ser servidor, com exceção dos que receberiam os cargos como verdadeiras sinecuras. Alguns desses ainda estão aí. Grande parte se aposentando. Gradualmente estão sendo substituídos, mas a população não percebe isso, permanecendo com a impressão ruim na mente.

Na Receita Federal, por exemplo, os salários eram tão baixos que o governo não conseguia atrair ninguém com as qualidades que queriam para o órgão. E não se preocupavam muito com isso. Trouxeram funcionários de nível inferior na estrutura administrativa para ascender forçadamente na carreira.

Muitos técnicos da receita (hoje analistas tributários) haviam entrado como datilógrafos através do velho e conhecido "QI"; e os auditores eram os que haviam entrado como técnicos. Isso ocorreu até o início da moralização do serviço público, iniciada no Governo FHC, que aumentou os salários de cargos considerados estratégicos, atraindo, finalmente, os profissionais que queriam.

Mas o negócio ainda não era tão atrativo, especialmente porque o governo FHC não conseguiu deixar as carreiras estratégicas atrativas. No começo dos anos 2000, por exemplo, muitos auditores concursados estavam saindo da RF por causa dos baixos salários. Pediam exoneração mesmo. E iam prestar seus serviços no mercado, como consultores ou professores.

Quem sabe o valor de seu funcionário é a empresa. E o governo sabe que precisa reter os talentos, pois foram eles que conseguiram (citando a RF) fazer com que a arrecadação fiscal brasileira fosse uma das melhores do mundo, em termos de eficiência, eficácia e efetividade.

Dai, você, que não percebe nada disso, trabalha para uma empresa que exige até seus finais de semana, seu sangue; pagando mal pelo valor que v. percebe deveria ser maior, e começa a querer atacar o servidor público achando que ele é vagabundo e desqualificado, porque você, que trabalha no limite, ganha menos.

O ruim de tudo não é o governo pagar bons salários, mas as empresas não conseguirem seguir no mesmo rumo, essencialmente por causa dos encargos tributários e trabalhistas, coisa que o governo não sofre, afinal, tudo volta para ele. Para o empresário é despesa mesmo, sem retorno. Daí que pagar R$ 15.000,00 a um profissional é tão massacrante para quem é empresário, porque seus encargos tributários e trabalhistas fazem com que a despesa quase dobre (indo para quase R$ 30.000,00); e é ruim para o empregado, porque sua empresa vai arrancar seu sangue para poder justificar a remuneração. Você trabalha como um semi-escravo.

É um movimento natural esse empregado querer outra coisa, não? Quem discordaria disso?

Para o Estado não há esse ônus. Um servidor que ganhe R$ 15.000,00, vai custar efetivamente uns R$ 11.000,00 como despesa, porque o resto fica retido para o próprio Estado (Previdência e IR).

Compare os custos efetivos de um e de outro: R$ 11.000,00 para o Estado e quase R$ 30.000,00 para o empresário. A diferença é gritante. Mas a culpa é do servidor? Claro que não. Não é caro para o Estado pagar a remuneração desse profissional (veja o custo efetivo), já para as empresas...

Tenho certeza absoluta que as empresas não negariam um salário desses a um profissional de mesma qualificação se tivessem as mesmas vantagens que o Estado tem ao empregar. Talvez pagassem até mais, como nos EEUU e Europa. continuar lendo

Paul Cliver
8 anos atrás

Discordo quando diz que a moralização do servidor público começou na era FHC. Para quem tem boa memória os anos da era FHC foram os piores para os servidores públicos. Naquele tempo, FHC perseguiu o servidor de tal forma que até a estabilidade ele queria minar.

Para ser justo, temos que admitir que a cultura dos concursos públicos só ficou sedimentada neste país com a era Lula. Hoje o acesso aos cargos públicos se dá tão só por concurso público, com algumas exceções. Na era FHC, dificilmente havia um concurso público.

É estarrecedor pensar que em um eventual governo do PSDB pós 2018, tenhamos que conviver com a cultura do acesso aos cargos público por apadrinhamento politico. continuar lendo

Não sei em que país esse Sr. Paul Cliver "Petista" vive ou viveu, mas não é no país em que todos vivemos.
A EC 19/98 implantou um início da moralidade administrativa, juntamente com a LRF. Pena que o PT e os Sindicatos na época fizeram tantas passeatas (isso eles eram bons de fazer na oposição) que não deixaram que diminuíssem mais ainda a quantidade de cargos na esfera federal, como o governo queria. E ainda não deixaram que fosse implantado um sistema de mérito na administração federal, pois alegaram que podia haver demissões. Demissões de servidores federais improdutivos não poderia ocorrer. "Parece que eles já se viam!"
O apadrinhamento político, "nunca antes na história desse país foi tão grande". Cite fontes reais para argumentar o que diz. Não faça discursos com base em ilusões de campanha. Elas já se mostraram sem pé nem cabeça e estão levando o Brasil ao abismo.
Concurso Público quem estabeleceu foi a Constituição de 88, não o Lula, por favor!
Alguns anos foram ruins para os servidores públicos, com certeza, pois havia um cenário de crise internacional e ninguém confiava no Brasil. Foi preciso haver austeridade fiscal e que se colocassem as contas públicas no lugar. Com isso o Brasil ganhou o grau de investimento e foi possível receber muito dinheiro em investimento internacional para financiar os projetos de que o país precisava.
O problema é que depois o PT recebeu o país já com esses ajustes e abriu a torneira dos gastos públicos de forma irresponsável.
Esmola com o chapéu alheio é fácil.
Comprar apoio é fácil.
Administrar seriamente já é difícil.
Vejam a situação do país. Ela fala por si.
O PT construiu uma crise que está afundando o Brasil. Este é o seu legado.
Qual o seu programa de governo? Quem é capaz de dizer?
O da campanha política já se demonstrou mentiroso. Não estão colocando aquilo em prática. Só defendendo cada um o seu. continuar lendo