Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
6 de Maio de 2024

Doutrinação Ideológica, Escolas e Direitos Fundamentais

Publicado por Direito Legal
há 7 anos

Por Guilherme Alfredo de Moraes Nostre

A afirmação de que nenhum direito fundamental é absoluto se tornou lugar comum na doutrina brasileira, sobretudo após a extensa lista de garantias elencadas na Constituição Federal de 1988, mas está manifestamente equivocada. Se é verdade que alguns dos direitos essenciais afirmados em nível constitucional e em documentos internacionais podem ser relativizados pelo balanceamento com outros direitos com os quais se choquem em dadas situações, não se pode esquecer que um direito fundamental, pelo menos, deve ser sempre visto e tratado como absoluto.

E não é qualquer direito. Não se trata de algo que restou afirmado por questões ideológicas ou casuísticas. O direito fundamental absoluto é aquele fundante da sociedade livre e, consequentemente, da democracia: a liberdade de pensamento.

Ao longo da história da humanidade, os detentores do poder já buscaram e alcançaram a compressão ou o aniquilamento dos mais variados bens fundamentais. A vida e a liberdade, por exemplo, dois dos mais preciosos bens, foram (e são) objeto de inúmeros mandos e desmandos. Mas, o desejo secreto de todo tirano sempre foi controlar o pensamento daqueles que ousam pensar de forma diferente da sua. Surge, com esse desiderato, a doutrinação, que pode ser entendida como a manipulação do pensamento, buscando-se suprimir a liberdade de escolha, condicionando-se os juízos de valor do indivíduo a premissas estabelecidas por quem atua sobre ele em uma relação de poder.

Os juízos que levam o indivíduo às tomadas de decisões em sua existência são estabelecidos com base nos valores e conceitos absorvidos por ele durante a vida. É certo, também, que sempre pesou sobre o pensamento, a influência da família, da escola, do grupo social, da religião, dos meios de comunicação à sua disposição, etc.

Mas, mesmo nesse cenário, pode-se entender assegurada a liberdade de pensamento à medida que é dessa fragmentação de ideias, valores, conceitos, conhecimentos, opiniões, que poderá cada ser humano formar sua individualidade e manifestar seus juízos de valor e pensamentos críticos.

O que é inadmissível é submeter uma pessoa a um procedimento deliberado, sem seu consentimento válido, com o fim de moldar seu pensamento, tolhendo esse direito fundamental.

Por essa razão, a recente discussão sobre a doutrinação ideológica nas escolas padece de uma enorme confusão conceitual. De um lado, tentar coibir que um professor manifeste em sala de aula suas convicções ideológicas é um evidente atentado contra a liberdade de expressão (da qual a liberdade de cátedra é uma espécie), pois externar os valores e as ideias que estão impregnadas na forma de cada um pensar, nada tem a ver com doutrinação. Por outro, admitir que se estabeleça em sala de aula uma militância política ou partidária parece um desvio de finalidade da proposta educacional. Mas, definitivamente, o problema não se resolve por uma simplista e ilegítima norma proibitiva.

A solução está na reafirmação da liberdade de pensamento e de sua filha mais querida: a liberdade de expressão.

A sociedade que aprender a aceitá-la e protegê-la terá que desenvolver a tolerância e ganhará o maior dos prêmios: pessoas livres, capazes de pensar e formular seus próprios pensamentos de forma civilizada, gostem ou não os detentores do poder.

  • Sobre o autorRevista forense eletrônica
  • Publicações7438
  • Seguidores3202
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoNotícia
  • Visualizações1176
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/doutrinacao-ideologica-escolas-e-direitos-fundamentais/402620907

21 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

Professor está na sala de aula para ensinar seus alunos o conteúdo do plano de ensino, e jamais pode usar crianças e adolescentes como massa de manobra para alcançar seus objetivos políticos.
É inegável que há uma doutrinação ideológica perpetrada pela esquerda nas escolas e instituições públicas de ensino no país, notadamente se verificarmos essas invasões de escolas que estão ocorrendo no Brasil, que possuem nítido cunho político partidário..
Descordo do texto lançado pelo amigo. continuar lendo

que tal "discordo"? continuar lendo

Quem critica a manifestação ideológica de alguns professores realmente não conhece uma sala de aula e muito menos os alunos que a frequentam, seja pública ou privada. Com o Facebook, Whatsapp e MSN supor que os alunos são uma lousa em branco onde escreve-se o que quer é demonstrar total desconhecimento. Leciono a quarenta anos e candidatei-me por diversas vezes. Nunca fiz propaganda em sala de aula, mesmo porque o Estado e a direção estão de olho. O máximo que consegui foi um e meio por cento dos votos validos e olha que sou conhecido em todos os rincões de minha cidade. Sou cumprimentado por alunos e ex-alunos com carinho e respeito. Pode o professor afirmar que Adam Smith ou Marx estavam certos, o aluno faz que sim com a cabeça pensando em como conseguir um amasso com o (a) colega de classe. Ele não se preocupa com as "Teorias da Mais Valia" se é absoluta ou relativa. Se o mercado dita o preço frente a procura ou se ele ira comer no almoço. Não são e acredito que nos últimos quarenta anos não foram massa de manobra. Antes não posso afirmar. continuar lendo

Concordo! Infelizmente estão manipulando os jovens e adolescentes há muito tempo no nosso país. Usando um discursinho de tolerância (de gênero, religiosa, política, etc) manipulam o pensamento dos jovens, que muitas vezes não possuem uma opinião madura sobre os temas. A grande maioria que está contra as PEC´s, sequer sabem o que a sigla significa! continuar lendo

Manter a educação e a escola livre de ideologia seja ela qual for, é fundamental para manter as novas gerações livres para decidir em que ou no que irão acreditar ou seguir, pois é justo na fase escolar que uma criança ou jovem que ainda está em processo de formação está sujeito a ser moldado ao bel prazer deu qualquer um, claro que existem exceções mas no geral essa idade é no mínimo perigoso pregar doutrinas ou ideologias para quem ainda esta em fase de aprendizado e formação do raciocínio acerca do mundo e suas transformações, não é a toa que o EI prioriza o recrutamento de jovens.
Para formar pessoas livres e com capacidade de agir e pensar de maneira ímpar, a escola deve se ver livre de qualquer ideologia, até por que o propósito da educação é conhecimento científico, a pesquisa, o desenvolvimento da ciência e tecnologia e não militância.
Me arrisco a dizer que a ideologia é um passo para o conflito, e com a sociedade cada vez mais líquida, ela tende a nascer morta. continuar lendo

A posição hierárquica e a ascendência do professor sobre os alunos torna sua liberdade de expressão em doutrinação. Fim. continuar lendo

Acrescento que não há conhecimento que ideológico não seja. continuar lendo

Não concodo em seu comentário que o professor pode doutrinar livremente seus alunos, "De um lado, tentar coibir que um professor manifeste em sala de aula suas convicções ideológicas é um evidente atentado contra a liberdade de expressão." pois ao manifestar suas convicções estará ele influenciando seus alunos, pois ele está lá para instruir, e não par expor suas tendências, ainda mais quando elas são nocivas ao desenvolvimento mental dos alunos, como prova esta onde de jovens, levados por amus professores a invadirem escolas, sem saberem ao menos o motivo. continuar lendo