Justiça manda prender Boris Berezovsky e bloqueia contas do Corinthians
O juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara da Justiça Federal em São Paulo, recebeu a denúncia do Ministério Público Federal contra oito pessoas envolvidas caso da parceria MSI-Corinthians. Foi determinado o bloqueio dos recursos creditados em contas correntes do Sport Club Corinthians Paulista, devido ao contrato que a agremiação possui com o MSI Licenciamentos e Administração Ltda. Também foi bloqueado o dinheiro da empresa MSI depositado em contas correntes, fundos, aplicações e investimentos de qualquer tipo junto ao Banco Bradesco S.A.
O Ministério Público Federal denunciou os dirigentes do Corinthians Alberto Dualib, Nesi Curi, Renato Duprat Filho, Paulo Sérgio Scudiere Angioni e o advogado Alexandre Verri por crime de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Além disso, o juiz decretou a prisão do russo Boris Berezovsky, e dos iranianos Kia Joorabchian e Nojan Bedroud. A decisão determina que a Interpol seja informada dos mandados de prisão. O juiz Fausto De Sanctis determinou a expedição de ofício ao Ministério da Justiça solicitando a prisão preventiva dos réus estrangeiros e a extradição deles para o Brasil.
O magistrado justificou a detenção dos acusados estrangeiros, que não têm nenhum vínculo com o Brasil, como forma de impedi-los de agir de forma a inviabilizar a ação criminal. De Sanctis disse que apesar da complexidade dos fatos narrados, a peça inicial deve ser tida por eficaz porque não somente discorre com concisão e exatidão, mas porque responsabiliza cada um dos denunciados. As prisões decretadas foram baseadas nos artigos 311 e 312 do Código de Processo Penal por suposta prática de crime de lavagem de valores ( Lei nº 9.613 /98 ) e formação de quadrilha ou bando ( Lei nº 9.034 /95 ).
Lavagem de dinheiro e outros ilícitos
Segundo diálogos monitorados, a suposta organização criminosa não somente se destinaria a lavar valores no futebol brasileiro, mas a praticar vários atos ilícitos. Para o juiz, é importante deixar claro o respeito que deve merecer os
cerca de 25 milhões de torcedores corinthianos. Não se trata de proteção de um clube de esportes e de seus fãs, mas de um símbolo que, ao ser supostamente atingido com ações inidôneas provocam nas pessoas, quando chega a público, sentimentos de pesar e de desesperança no Brasil, onde o orgulho nacional associa-se diretamente ao futebol.
O juiz determinou, ainda, que o Corinthians deverá fornecer, no prazo de dez dias, a relação de todos os jogadores adquiridos com dinheiro fruto da parceria com a MSI. Os acusados serão interrogados no mês de agosto e novembro. Alberto Dualib e Nesi Curi no dia 28/08, as 13h; Renato Duprat Filho e Alexandre Verri no dia 29/08, as 13h e Paulo Sérgio Scudiere Angioni no dia 30/08, as 14h. Boris A. Berezovsky será interrogado no dia 13/11 e Kiavash Joorabchian e Nojan Bedroud no dia 14/11, todos às 13h.
Desmentidos e retratação de Dualib
No dia 5 de agosto de 2004, Alberto Dualib e Nesi Curi, pelo Corinthians e Kia Joorabchian, pela MSI, assinaram um instrumento particular de pré-contrato, segundo o qual o clube manifestava interesse em firmar contrato de gestão exclusiva de seu departamento de futebol e licenciamento de propriedade intelectual com a MSI, que ficaria com 51 % do lucro líqüido auferido pelo "Timão". Muito embora o presidente do Corinthians, Alberto Dualib, tenha negado em diversas ocasiões que a MSI tivesse qualquer vínculo com o controvertido magnata russo Boris Berezovsky, a imprensa vinha especulando sobre as ligações do empresário com a empresa que firmou a parceria com o "Timão". Dualib apenas admitia ter "jantado" com Berezovsky em Londres, mas negou envolvimento do russo com a parceria.
Na época, o presidente do Corinthians dissera que os entendimentos com o grupo do magnata russo exilado na Inglaterra não tinham avançado. Ao ser ouvido em investigação, porém, Alberto Dualib retratou-se e declarou que Berezovsky, Badri e Pinni Zahavi eram os principais investidores da parceira MSI-SCCP.
O polêmico Berezovski
A origem da fortuna do magnata é cercada de polêmicas. Conforme narra a denúncia do MPF, ele teria feito uma parceria com a Autovaz, empresa fabricante de automóveis, e a empresa italiana Logosystems, na qual teria aplicado o correspondente a cinco mil dólares. Outros quatro sócios teriam aplicado valores semelhantes. Cinco anos depois, em 1991, o patrimônio desses cinco afortunados investidores teria atingido a espantosa cifra de 20 milhões de dólares. "Ou seja, um rendimento de 80.000 % (oitenta mil por cento) em cinco anos. Sem dúvida uma cifra espantosa e insuperável mesmo para países de tradição capitalista" , destaca a denúncia do MPF.
De acordo com a denúncia, em um período de apenas dez anos, coincidente com a privatização de ativos da extinta União Soviética, Berezovsky "tornou-se de obscuro e mal remunerado professor de matemática em político influente e poderoso multimilionário". Os documentos recebidos pelo MPF da Procuradoria Geral da Federação da Rússia, traduzidos por tradutores públicos, indicam que Berezovski responde, naquele país, a três investigações policiais.
Berezovsky é também investigado na França por lavagem de capitais e utilização de documentos falsos, entre outros delitos, em reclacionados com a aquisição, em dezembro de 1996, do Castelo de Garoupe por 55 milhões de francos. "Em julho de 1997, também foi adquirido o Campanário de Garoupe por 90 milhões de francos, bem como móveis para o castelo num montante de 24 milhões de francos", narra a denúncia.
Quem é a MSI?
No site oficial do Corinthians, a MSI é descrita como "fundo que acredita no potencial do futebol no Brasil". O portal informa que a "Media Sports Investments MSI é um fundo de investimentos privado que foi constituído entre várias empresas associadas, interessadas em investir em futebol de primeira qualidade em várias partes do mundo". O site menciona que, antes de ser firmada a parceria, "há pelo menos dois anos a empresa mantinha seus observadores no Brasil".
Na versão do portal corintiano, o grupo MSI conta com escritórios em Londres e em São Paulo. "A base na Europa está empenhada na retaguarda das negociações e operações de compra e venda de jogadores de e para clubes europeus, asiáticos, americanos e outros". A MSI brasileira teria quatro sócias: Devetia Ltd, Just Sports Inc, MSI Group Ltd e Media Sports Investment Ltd.
Também quanto à origem do dinheiro, o site do "Timão" apresenta uma versão diferente das acusações do MPF. "Os recursos externos vêm ao Brasil por meio de bancos de primeira linha isto é, bancos que respeitam as normas financeiras internacionais e que cumprem, rigorosamente, as práticas para identificar a origem dos recursos. No Brasil, um banco brasileiro de primeiríssima linha e muito tradicional é utilizado pela MSI e, naturalmente, todos os recursos são sempre devidamente registrados junto ao Banco Central do Brasil" , resume o texto.
Muito embora o noticiário esportivo viesse registrando o "sumiço" de Kia Joorabchian do Brasil há muitos meses, além da falta de dinheiro do Corinthians, o portal corintiano chega a ser ufanista ao anunciar os ambiciosos planos da MSI para o clube: "O grupo pretende investir para o fortalecimento de uma estrutura que faça do Corinthians um time eficiente, tanto no campo quanto no mundo dos negócios esportivos. Entre os planos da MSI para os próximos anos estão: um canal de televisão para operadoras de TV fechada, transmitindo imagens exclusivas dos jogos e bastidores, inclusive pela Internet; um site oficial com todas as informações e notícias do clube; uma revista mensal; e um jornal gratuito a ser distribuído no estádio, em dias de jogos."
Apesar de o Corinthinas ter estado várias vezes às portas do rebaixamento para as divisões inferiores, o portal insiste em dar a entender que a MSI continuava investindo no clube ao mencionar que "é necessário formar um grande quadro de jogadores que é a alma e o principal motor do time".
Segundo a denúncia do MPF, porém, a primeira reunião de dirigentes corintianos, realizada no Hotel Fasano em São Paulo, Renato Duprat Filho apresentou ao grupo o iraniano Kia Joorabchian que, inicialmente, manifestou interesse na aquisição de direitos de transmissão das partidas do campeonato brasileiro de futebol tendo, em reuniões posteriores, proposto a formação de uma parceria entre a empresa que dizia representar, a MSI - Media Sports Investment Limited, e o clube. Embora Kia se apresentasse como procurador da MSI, empresa off shore sediada na Inglaterra, a empresa sequer existia, de fato ou formalmente. "Portanto, não possuía qualquer histórico que lhe conferisse credibilidade", afirma a denúncia.
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