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3 de Maio de 2024

Desrespeitar diferentes formas de família não é cristão nem ético

Publicado por Consultor Jurídico
há 9 anos

A nostalgia das antigas utopias, da família ideal e patriarcal, as noções de esquerda e direita, gradativamente vêm sendo substituídas pelas noções de público e privado. Por isto a relação das pessoas com a pátria se inverteu: não são mais as pessoas que devem servi-la ou sacrificar-se por ela. É a pátria, a nação, que deve estar a serviço das pessoas. Por essa razão, a História e a Política hoje se escrevem e se inscrevem é a partir da vida privada, que começa e termina na família. E assim a principal razão política dos Estados democráticos contemporâneos está na vida privada e, portanto, na família.

Mas quando falamos de família devemos pensá-la em seu sentido maior e mais profundo: o núcleo formador e estruturador do sujeito. É ali, e a partir dali, que tudo se inicia. São os núcleos familiares que formam a nação. Pátria é a família amplificada. Mas não estamos mais no tempo da família singular. A família hoje é plural, aberta, fraterna, solidária, menos hierarquizada, menos patrimonializada, mais autêntica e mais verdadeira. Os políticos e legisladores que não entenderem isto, e ficarem paralisados em sua utopia saudosista já estão condenados a terminar a vida no “tal do bloco da saudade”, como diz a música do Martinho da Vila.

Há um descompasso entre a realidade das famílias e os textos legislativos brasileiros, que não traduzem e nem refletem a vida como ela é. Ainda há milhares de famílias à margem da legislação, como aquelas que se constituíram paralelamente à outra família, até então denominadas pelo Código Civil de 2002 pelo estigmatizante nome de concubinato. Essas e outras famílias continuam condenadas à invisibilidade jurídica e social, repetindo as injustiças históricas de ilegitimação, exclusão e expropriação de cidadanias, como se fez até pouco tempo com os filhos havidos fora do casamento, que recebiam a pecha de ilegítimos, espúrios, bastardos e outras designações discriminatórias. Foi neste sentido que o Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), após discutir com a comunidade jurídica, elaborou o Estatuto das famílias, apresentado ao Congresso Nacional pela Senadora Lídice da Mata (PSB-BA) e que tramita sob o número PLS 470/13. Ele vem no espírito de se construir micro sistemas para assegurar uma justiça mais ágil e próxima da realidade, a exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente, do Idoso etc. Assim, ele revoga todo o Livro de Família do CC/2002 e instala novas regras, mais modernas, e que realmente atendam a realidade e inclua e dê um lugar social a todos os núcleos familiares.

Copiando a ideia do nome “Estatuto das Famílias” foi apresentado na Câmara um Projeto Lei a que denominaram “Estatuto da Família”. Maliciosamente, e para tentar aprovar o tal projeto, têm feito circular nas redes sociais de computador pergunta que induz a resposta: família é formada por homem e mulher? A resposta é óbvia. Claro que sim. Mas não apenas por homem e mulher. E assim, a população induzida a erro tem respondido positivamente a este projeto, que na verdade deveria ser chamado de Estatuto contra a Família. Sim, porque ele pretende excluir milhares de famílias da ordem jurídica e social, “tapando o sol com a peneira”, como se essa realidade não existisse.

O Direito de Família contemporâneo está intrinsecamente ligado aos Direitos Humanos. Não é possível desconsiderar todas as conquistas sociais feitas a duras penas e às custas de muito sofrimento ao longo da história. É anticristão continuar marginalizando e excluindo pessoas e famílias em razão de suas escolhas diferentes dos padrões tradicionais. Os “fariseus” que dizem defender a “tradição, família e propriedade”, são os mesmos que condenam à morte milhares de mulheres pobres que fazem aborto. Ora, ninguém é a favor do aborto, mas tão somente ao direito de fazê-lo, ou não. O aborto é livre no Brasil, basta ter dinheiro para pagar por ele: “Deixemos de hipocrisia. Nossa legislação só não muda porque as mulheres de melhor poder aquisitivo abortam em condições relativamente seguras. As mais pobres é que correm o risco de morte e sentem na pelé os rigores da lei” (Drauzio Varella, Folha de S. Paulo, 7/3/15, p. E8).

É inconcebível que em pleno século XXI, após o desenvolvimento e compreensão das noções de sujeito de direitos e desejos, da dignidade humana, e de Estado laico, alguém ainda queira excluir o próximo da ordem social e jurídica em razão de suas preferências sexuais e formas de constituir família. A religião que deveria ensinar o amor ao próximo, a tolerância, compreensão e solidariedade, tem sido invocada para interpretações constitucionais equivocadas. Será que esses defensores da moral e bons costumes realmente acreditam no que estão “pregando em nome de Deus”, ou fazem isto apenas por interesses de mercado ou razões eleitoreiras? Pode-se até não gostar, não querer que a família tenha mais liberdade e mais autonomia, mas ninguém tem o direito de excluir e não permitir que as pessoas possam escolher as formas de viver sua conjugalidade e parentalidade.

É preciso parar de legislar em causa própria e aprender a conviver com a alteridade, isto é, respeitar as diferentes formas de viver e não querer impor ao próximo o seu próprio ideal. Isto não é cristão e nem ético. Quer gostemos ou não, queiramos ou não, a família transcenderá sempre a sua historicidade, pois ela é da ordem da cultura, e não da natureza. Portanto novas estruturas parentais e conjugais estão em curso. E, por mais que variem, por mais diferentes que sejam ou venham a ser, ela terá sempre consigo aquilo que ninguém quer abrir mão, que ela seja o locus do amor do companheirismo, da privacidade. E o Estado deve respeitar e proteger todas as formas de constituição de famílias, parentais e conjugais. Esta é a verdadeira política de um Estado laico e democrático.

Desrespeitar diferentes formas de famlia no cristo nem tico

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49 Comentários

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Essa afirmação de que há diversas formas de família é de uma preconceituosidade monstruosa com a família tradicional, sobre a qual a sociedade mundial foi formada e é a única forma de perpetuação da espécie humana e transmissão de poder. Pretender substitui-la por pseudos modelos alternativos é entrar numa senda perigosa e incerta, que desembocará numa geração altamente solitária e totalmente desfragmentada da sua identidade como pessoa. Agora é possível entender porque ongs poderosíssimas e famílias dinásticas estão envolvidas, financiando movimentos de substituição do modelo tradicional. Eles bem sabem que destruindo a família patriarcal, tradicional o cidadão estará sozinho e dessa forma se torna uma presa fácil de qualquer metodologia de controle. Esses proponentes querem destruir a família alheia, mas não a deles, que está com toda a estrutura fortalecida porque sabem muito bem que o poder e a estabilidade está na manutenção da célula familiar tradicional, que é o único modo de constituição familiar. Por isso servem-se de idiotas e inocentes uteis, pseudos intelectuais para execução do seu plano funesto e diabólico. Precisamos acordar para a realidade que devemos o que somos ao modelo tradicional de família e que a sociedade precisa defender esse modelo se quiser preservar a sua liberdade e independência.
as continuar lendo

Prezado Paulo, parabenizo pelo seu comentário.
Permita-me, faço das suas palavras as minhas. continuar lendo

Fiz algumas observações sobre o seu comentário...

"sobre a qual a sociedade mundial foi formada e é a única forma de perpetuação da espécie humana e transmissão de poder" isso não é motivo para exclusão das outras famílias. Você está me dizendo que casais inférteis não são considerados família. Ridículo!

"Pretender substitui-la por pseudos modelos alternativos é entrar numa senda perigosa e incerta, que desembocará numa geração altamente solitária e totalmente desfragmentada da sua identidade como pessoa." melhor deixar isso para os psicólogos, não? Aliás, foi o tema da minha monografia e o seu comentário diz EXATAMENTE o contrário do que dizem os psicólogos, haha. Estudei e conversei com vários deles. Então... se "a felicidade dos outros" é a sua preocupação, meu caro colega Paulo de Tarso, pode respirar aliviado!

"Eles bem sabem que destruindo a família patriarcal, tradicional o cidadão estará sozinho e dessa forma se torna uma presa fácil de qualquer metodologia de controle." comecei a rir, sério! haha

Tá bom, parei por aqui, porque simplesmente não dá para ler o resto...

Um abraço. continuar lendo

Paulo, Bom dia! Se seguirmos seu raciocínio temos que excluir todo tipo de família que não siga o modelo tradicional, certo?
então vamos forçar homossexuais a mudar sua opção sexual? vamos jogá-los em buracos? ou vamos exterminá-los?
Felizmente seu raciocínio não foi lógico e não abrange todas a variáveis sobre o assunto!
"Odiar e apontar erros é fácil, difícil é cuidar, amar e respeitar as pessoas..." continuar lendo

Apesar de realmente ocorrer uma revolução cultural gramsciana, em uma tentativa bem sucedida de substituir os valores judaico-cristãos, isso não significa que as famílias formadas por casais do mesmo sexo não compõem um núcleo familiar!
Na maioria dos casos muito mais seguro do que muitas famílias dilaceradas por problemas sociais e afetivos...
Imagine o que seria melhor para um menor abandonado: viver nas ruas ou ser criado por um casal gay. Pense nisso! continuar lendo

Prezado Paulo, és uma pessoa que enxerga além das aparências. Levarás como inúmeros outros que veem para além do famigerado politicamente correto (utilização de argumentos e ideias aparentemente de cunho moral e social, mas que, na verdade, tem função ideológica) muitas chibatadas de zumbis. Mas, meu amigo, não ligue para isso, pois melhor é estar certo sozinho ou com a minoria (palavra da qual os esquerdopatas gostam tanto), do que ser emburrecido com a maioria. Pensando bem.... A maioria neste pais é frouxa e não se manifesta, e é por isso que os defensores dessas ideias nefastas e desinformantes prosperam. Não se cale, pois vc é dos bons. continuar lendo

Parabéns Paulo de Tarso, faço minhas suas palavras! Não existe "diversas formas" de família. O que existe é a FAMÍLIA e ponto final. Não há variação do relacionamento humano de acordo com a "cultural", mas, sim, há regra imutável ditada pela própria NATUREZA. A própria anatomia já determina quem é quem: Homem x Mulher! O resto, é pura depravação humana... continuar lendo

Raras vezes vi comentários tão desprezíveis. continuar lendo

Paulo, desde quando o modelo familiar cristão é o tradicional? Se olharmos pelo viés natural, a reprodução só exige a fecundação dos gametas, enquanto a família vai além disso. O casamento em si é uma construção que não existe na natureza, é apenas um modelo proposto entre seres humanos.
Tendo em vista só o lado reprodutivo e de transmissão de poder, os casamentos poligâmicos aceitos no Oriente também são eficientes, mas rejeitados pela moral cristã.
A família envolve outros fatores, como cuidado e sentimentos compartilhados, e o Direito deve atender à população como um todo, não apenas a visão cristã de mundo. continuar lendo

Desrespeitar forma diferente de família, como o título do seu artigo propõe, realmente não é cristão, aliás, qualquer desrespeito ao próximo não é cristão e nem ético e, em nome do respeito que devemos ter ao próximo, deve-se entender que os que não concordam com a proposta de diferentes famílias, também devem ser respeitados, afinal, a discordância é um direito inerente a qualquer indivíduo e o respeito às suas convicções éticas, religiosas, morais, políticas, etc. deve ser o marco de qualquer discurso.
Entretanto, prezado Sr Rodrigo, entenda-se que discordar não é sinônimo de desrespeitar. E eu, respeitosamente, discordo da forma com a qual o senhor redigiu seu artigo, pois, desrespeitou a consciência dos que discordam, mas, nunca desrespeitaram.
Além do mais, sua redação desrespeitosa combina muito com o PNDH-3 do Governo Federal. Apesar de ser um "Programa Nacional de Direitos Humanos", este documento propõe a “desconstrução” da família tradicional e ainda se propõe ser base para garantir justiça social.
O PNDH-3 de 2010 – Programa Nacional de Direitos Humanos 2010, traz em seu Objetivo Estratégico V, na sua alínea d o seguinte texto:
“d) Reconhecer e incluir nos sistemas de informação do serviço público todas as configurações familiares constituídas por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), com base na desconstrução da heteronormatividade.”
Sugiro ao senhor criticar de forma imparcial seu discurso em seu artigo, pois, defender valores e idéias não podem resultar em desrespeito aos que concordam e tão pouco com os que discordam. continuar lendo

Assino embaixo, Sr. Michael. continuar lendo

Muito bem, boa defesa. Precisamos disso continuar lendo

Parabéns, Rodrigo. Muito bem exposto!

Aparentemente, pelos comentários, alguns colegas juristas precisam frequentar mais os grandes centros das principais capitais do País, debruçar sobre o assunto e "sair do mundinho fechado" em que vivem. Podem ainda parar de achar que o mundo gira tão-somente em torno deles.

Um país tão grande com tantas diversidades e perder tempo defendendo os interesses do próprio umbigo... quanto egoísmo, não? continuar lendo

Me parece que esta na hora de aprender a lidar com opiniões divergentes Luís! A imposição perpetrada pelos defensores de famílias homossexuais, vai ao ponto de disseminar o ódio entre as pessoas. Tudo tem o seu tempo. continuar lendo

Por isso que eu disse: "debruçar sobre o assunto". continuar lendo

Texto que dispensa qualquer comentário e resume, com exatidão, os sentimentos de um Estado verdadeiramente democrático e que respeita a dignidade da pessoa humana. Parabéns! continuar lendo