Liberdade de expressão? A gente não vê por aqui
Ativistas foram detidos ao tentar fazer um protesto silencioso na sessão solene que homenageou os 50 anos da Globo na Câmara dos Deputados
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, cumprimenta João Roberto Marinho durante sessão em
Por Bia Barbosa*
Nesta terça-feira (14), a Câmara dos Deputados realizou sessão solene para homenagear os 50 anos da Rede Globo de Televisão. No plenário da Casa, ilustres autoridades, como o embaixador do Reino Unido e a representação da Unesco no Brasil. Os artistas Glória Menezes, Juca de Oliveira e Milton Gonçalves, que se definiu como um dos “fundadores” da emissora, também marcaram presença. O espaço, no entanto, ao contrário do que sempre ocorre em sessões solenes, foi fechado para os não-convidados. Estudantes de jornalismo que tentaram acompanhar a atividade foram retirados do plenário por seguranças, porque não tinham convite. As galerias, como começa a virar praxe na gestão Eduardo Cunha, também foram fechadas.
Ao longo de mais de uma hora, lideranças partidárias se revezaram para elogiar o grupo de comunicação, seu padrão de qualidade e sua contribuição “para a construção da história e da democracia brasileira”.
“Celebramos os 50 anos da Globo para prestigiar a maior emissora do Brasil, que sempre valorizou toda a nossa diversidade cultural”, disse o presidente da Câmara, destacando a “extensa pluralidade” que encontramos na sua programação, que leva “talento, informação e, principalmente, isenção à casa dos brasileiros”. “O comportamento histórico da Rede Globo pode nos ajudar a manter a democracia no Brasil”, acredita Cunha, cuja esposa é ex-apresentadora da empresa homenageada.
O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB/PR), um dos proponentes da sessão, lembrou o Globo Rural “e seu papel de divulgação da agricultura pujante do nosso Brasil”. Rômulo Gouveia (PSD/PB), outro proponente da homenagem, lembrou o “importante papel social da Globo na área da educação”, dizendo que teve a ideia da sessão solene para “imortalizar os 50 anos da emissora que tem um valor muito grande para o povo brasileiro”. Hildo Rocha (PMDB/MA) fez questão de contar as histórias de quando trabalhou na afiliada da Rede Globo em seu estado, e conseguiu levar o sinal da emissora para todo o interior do Maranhão, saindo de lá como diretor do canal.
“Devemos à Globo protestos de respeito e admiração pela valorização da arte e da cultura do Brasil, pela ampla difusão das notícias, pelo aperfeiçoamento das instituições democráticas, pela formação da opinião pública e pela contribuição para a ordem democrática no Brasil”, declarou.
O jornalismo da Rede Globo foi especialmente lembrado por Sergio Zveiter (PSD/RJ), por sua “ética, independência, imparcialidade, isenção, correção e agilidade”. Miro Teixeira (PROS/RJ) agradeceu ao departamento jurídico da Globo por contribuir nos embates sobre liberdade de expressão travados em julgamentos do Supremo Tribunal Federal. O líder do DEM, Mendonça Filho, assumiu o compromisso público de combater, na Câmara, qualquer tentativa de se limitar a imprensa livre e a liberdade de expressão no país. “Esta é a Casa da democracia”, garantiu.
A Polícia Legislativa retirou os manifestantes
Mas parece que a liberdade de expressão na Câmara só vale para quem concorda com os deputados. Durante a fala de Heráclito Fortes (PSB/PI), três militantes, entre eles Pedro Vilela, do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), tentaram abrir uma faixa com os dizeres “A verdade é dura: a Globo apoiou a ditadura” e foram imediatamente detidos pelos seguranças da Polícia Legislativa. A faixa sequer pode ser aberta. Ao serem retirados à força, protestaram: “cadê a liberdade de expressão, Mendonça Filho?”. Na sequência da expulsão dos ativistas, os deputados manifestaram toda a sua solidariedade à emissora.
João Roberto Marinho, presidente do Conselho Editorial da Globo, reagiu dizendo que sabe que a Globo não agrada sempre. “O que vimos aqui não poderia ser diferente. Toda democracia é barulhenta (…) A TV Globo não quer fazer barulho, mas é obrigada a exibi-lo. E temos consciência que ora desagradamos uns, ora outros. Mas não defendemos partidos, religiões, comportamentos. Defendemos a democracia, a república, o império da lei e do voto”.
Ao final da sessão solene, entrevistei o presidente da Câmara sobre a expulsão dos manifestantes do plenário:
Eduardo Cunha: Os protestos tem que ser feitos dentro da ordem. Eles estavam interrompendo um orador.Mas eles foram retirados a força antes de dizerem qualquer coisa. Era pra ser um protesto silencioso. Foram detidos no momento em que tiraram a faixa da mochila.Eduardo Cunha: Faixa tem que ser na galeria. Mas o senhor fechou as galerias, deputado.Eduardo Cunha: Foram distribuídas senhas e convites para esta sessão.Então era só pra convidados? Não havia possibilidade de um protesto silencioso?
Eduardo Cunha: Não foi silencioso. Eu vi bem lá de cima quando eles começaram a gritar.Mas isso foi quando eles foram retirados à força. Eduardo Cunha: Eles já estavam interrompendo o orador antes.
Vamos dormir com um barulho desses?
Protestos em diversas capitais estão sendo organizados para o dia 26 de abril, data oficial do aniversário da TV Globo. Que a liberdade de expressão seja um direito de todos em todas. Inclusive dentro da Câmara dos Deputados.
Atos fora Globo: 50 anos de mentiraSão Paulo: https://www.facebook.com/events/373059119549128/
Belo Horizonte: https://www.facebook.com/events/1434303450215252/Brasília: https://www.facebook.com/events/1422568291383735/
* Bia Barbosa é jornalista e integrante da Coordenação Executiva do Intervozes.
Foto: Bia Barbosa Homenagem à Globo
Por Intervozes
Maryanna Oliveira / Câmara dos Deputados
6 Comentários
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Excelente matéria! Mostra como tudo no Brasil é relativizado. Direito à expressão é relativizado para os Donos do Poder elogiarem a Globo. Que vergonha!!! continuar lendo
Globo foi lembrada por “ética, independência, imparcialidade, isenção, correção e agilidade”? Só podem estar de brincadeira! rsrsrs continuar lendo
Estranho um diretor da Globo dizer que é apartidária, que sempre foi objetivo da emissora a democracia...Liberdade de expressão? ou será que seus jornalistas tem que se submeter ao crivo de censura de suas matérias. Liberdade de expressão entendo como o direito do profissional mostrar a verdade da forma como ela é, sem maquiagens, sem subtrações de nomes que não interessam a emissora divulgar. Qual a valia dessa homenagem pelos nossos congressistas para o povo brasileiro?
Devemos agradecer a essa emissora que joga em nossos lares lixos importados além de novelas tendenciosas e sem graça?
Uma grande emissora tem que estar sim, a serviço do povo brasileiro e não voltado para seus próprios interesses e nem apoiar grupos políticos, além de garantir a implantação da ditadura militar. Temos coisas mais urgentes e importantes para serem tratadas pelos servidores do povo, e não perder tempo em homenagear quem sempre sugou do país. continuar lendo
Falar que a globo é apartidária é simplesmente jogar fora nosso passado e cuspir em nossa cara que esquecemos o "debate Collorido". Lamentável. continuar lendo