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15 de Maio de 2024

Ao prestar queixa de agressão de namorado, vítima diz ter ouvido de delegado: "Vai pra casa, resolve na conversa"

Publicado por Lucas Bezerra Vieira
há 8 anos

Ao prestar queixa de agresso de namorado vtima diz ter ouvido de delegado Vai pra casa resolve na conversa

Aos 20 anos, Maria Fernanda* se viu vítima da violência do namorado e pai de sua filha de 10 meses de idade. Após dois anos e meio de agressões, ela decidiu denunciá-lo. Chamou a polícia quando o homem tentou enforcá-la, pressionando seu corpo na parede.

Na cabeça dela, a situação seria um flagrante. Ela levaria o agressor para a polícia, ele seria enquadrado pela Lei Maria da Penha e a jovem finalmente poderia se livrar daquela rotina de violências. Mas não foi o que aconteceu.

Leia o relato dela à BBC Brasil:

"Passei dois anos e meio com meu ex-namorado e, durante todo esse tempo, sofri violência tanto psicológica, quanto física. Ele me fazia sempre ser a culpada de tudo. Depois que eu engravidei, eu precisei sair do emprego, tive alguns problemas na gravidez e ele percebeu que eu estava 'presa' a ele - aí as agressões ficaram muito frequentes.

A última vez aconteceu quando ele chegou muito bêbado em casa e a minha filha, que estava com 10 meses, estava doente. Aí foi o ápice. Falei numa boa para a gente se separar. E aí ele se transformou, falou que não ia aceitar.

Eu estava com a minha filha no colo, ele ele veio me enforcando, me encostando na parede. Deixei minha filha cair no chão. Acordei nervosa e liguei pro 190. Tranquei-o dentro da casa. Demorou 45 minutos para a viatura vir até minha casa, e eu estava passando muito mal. Quando o policial chegou, ele veio apertando a mão do meu namorado, cumprimentando... Falou: 'Boa noite senhor, tudo bem?'. O cara tinha acabado de me bater, eu não podia acreditar.

Fomos até a delegacia da Polícia Civil. Colocaram eu e ele na viatura, ele não foi algemado, foi do meu lado. O policial foi falando várias coisas. 'Vocês estão de cabeça quente, não precisa fazer B. O., isso vai ferrar a vida dele', ele me falava.

Na delegacia, não foi diferente. O delegado ouviu meu depoimento na frente do meu namorado. E logo começou: 'Vocês vêm aqui todo dia por causa dessas coisas de mulher e depois fica tudo bem. Você vai fazer isso mesmo? Ele vai perder o emprego e não vai adiantar nada porque daqui a pouco vão pagar a fiança e ele vai sair ainda mais bravo com você. Essas marcas aí? Estão tão fraquinhas... Até você chegar no IML (para fazer exame de corpo de delito), já vão ter desaparecido'.

Ao prestar queixa de agresso de namorado vtima diz ter ouvido de delegado Vai pra casa resolve na conversa

Fiquei ainda com mais medo. Eles tentam de todas as formas fazer você desistir. E, no meu caso, eles conseguiram. 'Vai pra casa, resolve na conversa', o delegado me dizia. A raiva era tanta que eu comecei a chorar.

Voltei andando para casa, eles não se ofereceram para me levar. Fui caminhando, eu com a minha filha no colo e, por 40 minutos até em casa, ele (namorado) veio atrás de mim fazendo ameaças.

Depois até liguei para o 180 (Disque Denúncia) para poder me informar. A moça falou que não estava certo, mas que só poderia dar continuidade ao caso se eu fizesse B. O. Eu não tinha apoio da família e vi que também não tinha apoio do Estado.

Na minha interpretação, quando tem agressão, tem que ter uma conversa ao menos com o cara para dizer o que pode acontecer com ele. Bota ele numa palestra educativa ou qualquer coisa. Para ele entender que o que está fazendo é errado. Mas o que eles fazem é botar a culpa na mulher, ela fica pensando que vai ferrar a vida do cara.

A verdade é que se você quiser levar isso para a frente, você vai passar por muita humilhação. Eu tenho certeza de que se hoje em dia ainda existem tantas mulheres que são agredidas e não denunciam, é por causa disso, porque ela sabe que vai ser humilhada. E quem viu o que eu passei, não vai denunciar, porque desestimula.

O pior é saber que ele vai continuar fazendo isso. Fez com a antiga namorada dele, porque ela me contou depois que nós começamos a namorar. E vai fazer de novo, porque sabe que não vai ser punido.

Minha filha ficou muito mal com isso, até hoje ela ouve qualquer barulhinho e já fica desesperada, chora copiosamente.

Minha sensação é que sou tão insignificante, tão pequena, que ele pode pisar o quanto quiser em mim que nada vai acontecer. Você não pode contar com ninguém. Você se sente sozinha.

Eu até ia voltar com ele porque não via saída. Fiquei sem dinheiro para criar minha filha. Mas eu tive força dos amigos e consegui ficar longe."

*Nome fictício


FONTE: BBC Brasil

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31 Comentários

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Como disse Renato Russo: "fala demais quem não tem nada a dizer". Meus senhores, têm coragem de dizer - "é até possível que seja verdadeira a atitude desidiosa do delegado" ??????????
Não meu senhor. Provavelmente ela inventou toda esta história, só para ferrar com o coitadinho do namorado, que só quer que ela seja uma mulher direita!!!!!!!
É por causa deste tipo de pensamento, arraigado na mente das pessoas, que leva a milhares de mulheres se calarem. Porque, sempre vai ter alguém que vai levantar a bandeira: "será que é verdade ou ela faz por merecer uma boa surra". Hipocrisia. Só quem já passou por esta situação sabe, a humilhação, o desprezo e o descaso com que é tratada uma mulher que é agredida e procura ajuda. Basta olhar o noticiário. Todos os dias, vemos mulheres assassinadas, que por diversas vezes procuraram ajuda da polícia. E nada é feito, continuamos a mercê de nossos algozes. Depois que o pior acontece, houve-se dizer: tinha B.O. ???????????????????
E nem mesmo a delegacia da mulher ajuda quando precisamos. Ficamos na rua com nossos filhos, por que é fim de semana, e a delegacia não funciona. Nos obrigamos a voltar para casa, conviver com o agressor debaixo do mesmo teto, enquanto estamos indo à Delegacia, fazer depoimento contra o acusado. Depois de dois meses, você recebe em casa um ofício, dizendo que ele não deve se aproximar a - de 200 metros de você.
Acorda!!!!! Dois meses depois pode ser tarde mais. continuar lendo

Prezada Giseli.

Você já sofreu tal violência?
Passou pelo expediente descrito no texto?
Estava lá no momento em que ocorreu o caso concreto e pode servir de testemunha?
No meu ver é obrigação da autoridade policial alertar sobre as consequências que poderão surgir com a queixa feita. Aqui não é os EUA onde um processo por suposta pedofilia pode ser retirado com um acordo de milhões de dólares. Por mais ineficiente que seja o nosso sistema no que diz respeito a punir, pelo menos, não temos essa, no meu ver "corrupção" onde dependendo da vontade do denunciante um crime ocorreu ou não; Ou seja, uma vez no papel ou seria agressão ou denunciação caluniosa, mas nunca passaria ao estado inexistente.
Obvio que a vítima instruída deve com certeza prosseguir com a denúncia. continuar lendo

Gisele, não é que não se acreditem na situação de violência. O que desestimula e faz essa lei ineficiente é que poucos dias depois a mulher (na ampla maioria dos casos) retira a queixa e volta a viver com o infeliz. E isso se torna uma rotina: Apanha, presta queixa, o cara é preso, ela faz as pazes com ele e retira a queixa, ela volta a morar com ele. Depois começa tudo de novo, até, infelizmente, ocorrer uma tragédia já anunciada. continuar lendo

PERFEITO Silvio exatamente isso.

Eles lidam com mulheres que sobre violência como agressões física de pessoas próximas, como marido, namorado, parentes. Mas em contra partida também lidam com aquele tipo de mulher que o cara segura o braço dela e faz maior drama sendo que o motivo de segurar o braço dela foi que ela estava sem controle quebrando tudo, as vezes ate agredindo a outra parte anteriormente.

Julgar ao ler um texto é fácil. Analisar cada caso na pratica é balancear a lei com a próprias INEFICIÊNCIA DAS LEIS visando o melhor para o solicitante é outra historia. continuar lendo

Gisele Goes, concordo com vc, e em que pese saber que muitas mulheres (muitas mesmo) voltam com os companheiros após denunciá-los, o Estado NUNCA poderia utilizar-se desse argumento para deixar de cumprir seu dever legal.

A confecção do B.O, a lavratura do flagrante, e a aplicação das medidas protetivas devem ser observadas SIM! Não importa se amanhã ou depois a mulher cederá as chantagens de seus agressores ...

Quanto ao fato da possibilidade de Denunciação Caluniosa por parte de algumas mulheres supostamente agredidas, cabe salientar que elas também estão sujeitas às penas da lei quando denunciam falsamente seus companheiros ... A apuração desse crime (quando alegado) deve também contar com o aparato (tão sucateado) do Estado.

O que realmente não pode, é deixar de atender uma vitima de violência doméstica, sob o argumento de que "em muitos casos não é bem assim..." , ou "que elas sempre voltam com os agressores...", ou (e o pior) "isso pode ferrar a vida dele". Isso é um Absurdo!

Conjecturas são apenas conjecturas, mas apuração do crime é dever legal do Estado. continuar lendo

Prezado Silvio, boa tarde, boa tarde a todos!

Sim, eu eu passei por isso. Eu fiquei um fim de semana inteiro na rua, com minhas filhas, sem poder voltar para casa e sem ser atendida nem na delegacia, que fecha no fim de semana, e nem na delegacia da mulher, por que estava fora da jurisdição. Fui ameaçada de morte e agredida, frente a várias testemunhas, as quais aliás, me salvaram da morte.

Na segunda-feira, quando fui a delegacia prestar queixa, achando que a polícia o faria sair, para que eu pudesse retornar para casa com minhas filhas, tive que ouvir do escrivão que era para eu voltar para casa e aguardar a intimação do juiz. Nem sequer uma busca pela arma que ele possuía foi efetuada, nada.

Tive que tirar o que pude da casa, colocar em um caminhão e sair em busca de abrigo, com duas filhas pequenas.

Apenas dois meses depois do episódio, chegou a intimação do juiz para que ele comparecesse à delegacia para prestar depoimento.

Eu não estou questionando a ineficiência, tão conhecida tanto da justiça quanto da polícia.

Eu questiono a mudança de pensamento, de atitude, de realmente respeitar o ser humano, seja ele homem, mulher, criança, de qualquer cor, ou de qualquer raça.

Quando vamos aprender que somos da mesma raça, somos todos seres humanos e que todos nós merecemos ser tratados com respeito e dignidade?

Até quando, vamos continuar com esta hipocrisia de dizer que não, nós não somos preconceituosos ou racistas, tratamos o outro como queremos ser tratados?

Neste mundo é cada um por si, Deus por todos. E se for mulher, negra e pobre, então meu amigo, boa sorte! continuar lendo

Vou contar uma história verdadeira e tirem suas conclusões. Mulher jovem chega ao Pronto Socorro devido à violenta agressão sofrida. Nós estavamos em 3 médicas e ficamos revoltadas com o estado físico da mulher e após o atendimento médico tentamos convencê-la à denunciar. Resposta "doutora se denunciar fico na miséria, não tenho como trabalhar porque tenho 3 filhos de 5, 3 e alguns meses e não há creche, não tenho parentes aqui, e ele não me dá dinheiro na mão, a polícia já foi em casa chamada por vizinhos e ouvi que se apanhei alguma eu aprontei, deixa pra lá". Enquanto a lei não vier acompanhada de reais medidas protetoras, esquece, se não mudar a cultura machista, esquece, ou alguém acha que o relato acima (ainda que fosse fantasioso) não é o cotidiano de milhares de mulheres Brasil afora. Eu pessoalmente tive que ir para a casa de uma amiga para ela entregar o filho na visita do pai porque na vez anterior ele chegou a bater na empregada, e isto com medidas judiciais já tomadas... continuar lendo

Dá vergonha do serviço público prestado em nosso país. Tive oportunidade de apreciar alguns crimes de menor potencial ofensivo em juizado criminal, e de fato, muita coisa era levada na preguiça, vi muitos caso de conciliação forçada só para dar produtividade a juiz. Não sei se é mais difícil sobreviver a uma agressão ou a má vontade do administração públicas... É mais um tapa na cara. continuar lendo

É até possível que seja verdade. Além do problema da violência doméstica, que parece estar enraizado em nossa cultura (infelizmente), temos uma onda de políticos oportunistas, que legislam em troca de votos e não a favor da sociedade.
A Lei Maria da Penha é um grande exemplo disso. Dentre as ineficientes alterações contidas nela, a vítima não "perde" o direito de desistir da queixa, como acontecia com frequência nas delegacias; apenas o momento em que isso ocorria foi postergado, da delegacia, para a audiência perante o juiz, fato que ocorre com espantosa frequência, na vigência da referida lei, o que pode ser verificado em qualquer juizado criminal do país.
Não querendo justificar a atitude desidiosa do delegado, que, se verdadeira, mereceria reprimenda, mas a ineficiência das leis talvez gerem essa consequência danosa. continuar lendo

"É até possível que seja verdade". "Não querendo justificar a atitude desidiosa do delegado, que, SE VERDADEIRA...". Por isso as mulheres continuam sendo agredidas continuar lendo

Rafael Tadashi, parece que você não entendeu meu comentário. Leia novamente e repita a leitura tantas vezes sejam necessárias para você entender. Não vou explicar o que já está claro o suficiente. continuar lendo

Cezar, você que não está entendendo a violência do deu comentário. continuar lendo

Vitor você que não entendeu o Cezar.

"ineficiência das leis talvez gerem essa consequência danosa"

Um delegado, ou qualquer outro da área policial sabe o desfecho de uma ocorrência, a quantidade de pessoas que se arrependem dos atos, a quantidade de casal que se reconcilia antes mesmo da lavratura dos autos.

Isso é cotidiano, isso e rotina da área penal que vive a situação pratica, a mulher quer a morte do homem quando a policia chega, ao chegar na delegacia diz que ama e jura a amor eterno e investe ate contra os representantes do estado.

O delegado que conhece a lei e conhece a pratica, nada mais justo que orientar a parte, que em momento de nervosismo liga para policia ou escreve um texto para blog.

Eles lidam com mulheres que sobre violência como agressões física de pessoas próximas, como marido, namorado, parentes. Mas em contra partida também lidam com aquele tipo de mulher que o cara segura o braço dela e faz maior drama sendo que o motivo de segurar o braço dela foi que ela estava sem controle quebrando tudo, as vezes ate agredindo a outra parte anteriormente.

Julgar ao ler um texto é fácil. Analisar cada caso, na pratica e balancear a lei com a INEFICIÊNCIA DAS LEIS visando o melhor para o solicitante é outra historia. continuar lendo

Cezar as leis não são ineficientes, ineficientes são as pessoas que dela fazem uso sem entender. No caso em pauta, a questão é de negligência funcional, tanto do PM quanto do delegado. continuar lendo