Primeira fase do Exame de Ordem tem recorde de candidatos reprovados
O mais recente Exame da Ordem dos Advogados do Brasil teve o menor índice de aprovação na primeira fase desde que a prova passou a ser unificada: apenas 14,98% dos candidatos seguiram em frente.
O recorde negativo revive o debate sobre os moldes da prova. Uma das reclamações feitas é de que o exame cobra conhecimentos que só profissionais experientes na área poderiam ter. Os críticos — deixando claro que o Exame de Ordem é necessário — afirmam que a prova deveria ser apenas para checar se o formado aprendeu o mínimo para exercer a profissão.
Para Claudio Lamachia, presidente do Conselho Nacional da OAB, a queda no nível de aprovação se deve à liberação indiscriminada de cursos de Direito. Para ele, o rigor exigido é fundamental para proteção da sociedade e será mantido.
“A OAB tem insistido, há anos, para que haja mais rigor na aprovação e no acompanhamento das entidades aptas a oferecer a graduação em direito. O exame da OAB manterá seu nível de dificuldade. Para aumentar o índice de aprovação, é preciso combater a mercantilização do ensino e garantir que os cursos tenham qualidade à altura dos sonhos dos estudantes e das necessidades da sociedade”, disse Lamachia à ConJur.
Para o jurista e professor Lenio Streck, o problema está também no modelo de prova. “Exames de Ordem e concursos em geral foram sendo transformados em quiz shows. Cai-se no dilema do biscoito Tostines: as provas são pegadinhas porque ensinam assim ou o ensino é assim por causa do que se cobra nas provas? O exame e os concursos têm muito mais poder do que pensam a Ordem e as instituições das carreiras jurídicas. Hoje, mudando a forma dos concursos (incluído o exame de Ordem), talvez seja a forma ou fórmula mais rápida de mudar o ensino jurídico e os cursinhos de preparação.”
Um desembargadora de São Paulo contou à reportagem da ConJur que os exames “têm a dificuldade de um concurso público, mas não têm um edital que defina as regras como os concursos, por isso é um processo sem transparência, que muda todo ano sem nenhum controle”.
Diretor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, José Rogério Cruz e Tucci concorda que a prova é difícil, mas afirma que é assim que deve ser. “Os alunos são muito dispersivos durante o curso, saem muito despreparados da faculdade. O exame é um momento para reflexão. Ele é muito amplo, aborda muita coisa, mas quem estuda passa”.
Correção e edital
À frente da faculdade de Direito da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), a professora Naila Nucci não acha que a prova da OAB seja muito rigoroso ou ampla nos temas que aborda. Mas reclama do processo de correção do exame.
“Existem sérios e graves problemas quanto aos critérios de correção, até porque, por mais que se esmerem os examinadores, observa-se que o Direito, ciência viva que é, dá margem a interpretações diversas, entendimentos controvertidos”, diz.
Naila Nucci também aponta o edital como um problema e afirma que é fundamental que haja sintonia entre o publicado no edital e o abordado pela avaliação, o que nem sempre ocorre, segundo ela.
No entanto, as críticas que apontam o exame como uma prova difícil, avalia, não se debruçam no problema central: "É cada vez mais eminente a necessidade de ser a profissão de advogado, valorizada e protagonizada por profissionais preparados e aptos a serem absorvidos pelo competitivo mercado de trabalho".
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13 Comentários
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Piorar eu não digo, mas manter o mesmo nível de exigência é necessário. Os alunos saem muito despreparados das faculdades. No entanto, nem sempre o verdadeiro problema está com os alunos, e sim, dos professores que não lidam com esse problema de mostrar aos alunos o norte que eles precisam dar para a vida de cada um, fundamental para o continuidade da profissão. Ainda existem muitos professores que não se dedicam a lecionar as matérias de forma a fazer compreender, eles simplesmente se preocupam mais com o quantum vão ganhar por aula. Lamentável. continuar lendo
Na verdade o que vivemos é um estelionato praticado no ensino pelas pretensas faculdades. Os bacharéis são “burros” ou as faculdades são uma “droga” em um universo de reprovação de 85,01% dos participantes da prova, aliados ao exame aplicado, dito com falta de transparência? A pergunta que não pode calar: Porque uma pessoa que frequenta uma faculdade aprovada pelo MEC e reprovada pela OAB continua a funcionar? Seria o caso dos “pretensos bacharéis despreparados”, que cursaram e pagaram por tais cursos segundo as normas do MEC poderem pleitear a devolução do seu investimento em tempo e valores pagos? Onde está a lógica disso tudo? Porque continuam a existir cursos medíocres? Quando se denomina alguém de “louco” não se pode cobrar razão em seus atos; portanto se os cursos são ruins, como cobrar o desempenho que não foi ministrado no curso? O resultado dos exames é um eufemismo em relação ao ensino, porém, o que se vê ano após ano é se criticar o péssimo ensino ministrado pelas faculdades; porém, elas continuam existindo e os alunos que as frequentam continuam a ser esbulhados, juntamente com a indústria dos "cursinhos", em sua maioria, caros e inúteis. Se as provas de hoje fossem comparadas a anos anteriores, onde grande parte dos advogados, hoje “medalhões”, ótimos advogados, foram testados em provas mais coerentes com o nível do ensino ministrado, não se poderia levantar a bandeira da dificuldade dos exames hodiernos Os cursos estão rumando para especialização, antigamente nos mesmos cinco anos o número de matérias da grade curricular eram menores. Hoje há muitas matérias mais ministradas no mesmo tempo de outrora. A grande verdade, é que hoje não existem estágios de forma satisfatória que depuram o aprendizado, e, é cobrado de forma “prática” aquilo que só a experiência propicia. Além de tudo, durante a prova há uma guerra psicológica no uso dos materiais permitidos/não permitidos, mesmo não sendo preparados com deslealdade. Além do tempo insuficiente, no caso da segunda fase, para serem revolvidas questões tão esmeradas. O que precisa é uma maneira digna, coerente de permitir a existência dos cursos e não cobrar daqueles que dentro da lei e da boa fé pagaram para estudar, financiaram seus cursos e caem no “limbo” não podendo exercer a profissão. Se há erros que se corrijam, e não simplesmente reprovar no exame de proficiência. Com certeza muitos não concordarão com estes comentários, porém, deverá haver uma discurso construtivo a respeito e não que os aprovados apenas critiquem os não aprovador por terem sido reprovados. Sem em algum exame de proficiência, apenas -- 14,98% -- foi aprovado, claro está que o erro não é dos bacharéis; eles apenas são vítimas de um sistema injusto. Deveria ser observado a justeza e punidos os culpados, sem culpar a "peneira" de permear o sol. continuar lendo
Lamentável, faculdades caça-niqueis e alunos tal e qual... Isso é apenas um espelho do sistema educacional no direito. Na minha turma, apenas 9% foram aprovados em SP... :( continuar lendo
Penso que a prova tenha que cobrar um nível bom dos candidatos, o que não pode ocorrer é uso de posições minoritárias nas respostas, sem contar que raramente acatam os recursos. No que tange a qualidade do ensino, mormente nas faculdades particulares, na minha opinião necessita de fiscalização mais efetiva, devendo ser em conjunto MEC E OAB, de fato a qualidade do ensino em algumas faculdades deixam a desejar, não querem professores com maior graduação, se a lei exige apenas um mestre para que contratar mais, se o especialista é mais barato? não que todo profissional mestre seja melhor do que o profissional especialista, mas deveria ser. Em relação aos alunos, todos fomos dia, não podemos deixar de falar a sua parcela de culpa, o aluno hoje não pode fazer uma graduação rasteira e depois jogar toda a culpa nos professores, a facilidade de encontrar boas aulas, bons livros e cursos gratuitos na internet é imensa, basta ter boa vontade e gostar de estudar. Faculdade nenhuma vai deixa-lo doutrinador, como dizia um jovem professor no inicio de minha graduação "o curso de direito é solitário, na maioria das vezes vocês terão que estudar sozinhos", de fato é o mais importante, estudo diário ou no mínimo aos finais de semana, para aqueles que trabalham na semana. continuar lendo
Eu acho que a OAB tem que piorar. continuar lendo
A julgar pela "qualidade" dos Cursos de Direito que proliferam Brasil afora - (há bacharelandos que sequer conhecem a Gramática ...) - a tendência é só PIORAR ... Ah: imaginem o que está acontecendo com os demais cursos. Geração PT = Perda Total (Não estuda - não aprende - só balada - e quer "sucesso e dinheiro". Qualquer semelhança com os "políticos vermelhos" e com a Cleptocracia brasileira dos últimos 33 anos NÃO É MERA COINCIDÊNCIA! continuar lendo