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20 de Maio de 2024

Sobre Cleidenilson, pelourinhos e linchamentos

há 9 anos

Sobre Cleidenilson pelourinhos e linchamentos

Por Bruno Espiñeira Lemos

O estandarte do sanatório geral segue passando, Chico. Somou-se a tantos outros atos da turba enfurecida que tem banalizado os linchamentos em praça pública no Brasil (a Argentina também vive esse problema), o “tribunal popular” que acusou, julgou e condenou à MORTE cruel o réu das ruas Cleidenilson. A foto dantesca foi estampada em todos os jornais e veículos de comunicação conhecidos e anônimos.

O que nos resta? Analisar sociologicamente tais acontecimentos à luz de um embrutecimento da coletividade cansada com a intensidade da violência urbana? Uma violência justificando outra?

O poeta Renato Russo afirmava que “vivemos num mundo doente”. Vivemos? Antes ainda tentávamos chorar. Hoje a indiferença diante de tais atrocidades nos anestesia e sequer nos comove. Banalizamos mais uma vez o mal. O mal praticado por Cledenilson? Não. Tal qual os nazistas de outrora estamos banalizando o nosso “mal” de cada dia.

A cena do Cledenilson amarrado e alquebrado no poste nos remete a um Pelourinho revisitado diante de um corpo acessível (o ladrão da esquina encontra-se à mão para tortura e morte pelos transeuntes), o que não se pode dizer dos “ladrões” de colarinho branco, estes não nos são acessíveis.

Portanto, seguirão pagando os “Cledenilsons” diante do nosso frenesi coletivo de “horda primitiva”, que se delicia com sua carne fresca e mal nutrida, pois os outros inacessíveis, estes seguirão torturados pelos “Moros” da vida com a nossa torcida cada dia mais sedenta e punitivista.

Fonte: Canal Ciências Criminais

Sobre Cleidenilson pelourinhos e linchamentos

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/sobre-cleidenilson-pelourinhos-e-linchamentos/206973166

27 Comentários

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Este é apenas mais um dos frutos da impunidade reinante.
Este episódio deveria servir de um grande alerta a este pessoal dos Direitos Humanos que fica a proteger bandidos (menores ou não), o povo está perdendo a fé na justiça e isto poderá ser bem pior para o seus protegidos. Cuidado com o que vocês estão fazendo! Daqui um tempo poderá não haver mais ninguém para ouvir seus protestos! continuar lendo

Obrigado, Reinaldo, me poupou o trabalho de digitar praticamente a mesma coisa. A sensação de impunidade constante, em especial a criminosos com verba ("verba" foi um termo usado propositadamente) para pagar um sem-número de advogados muito bem preparados para livrá-los da justiça, seguindo a lei. Dá nisso. O povo enfurecido massacra o marginal mesmo que este já não ofereça risco imediato. "Em meia hora tá na rua" e exemplos abundam onde isso realmente ocorre.
Junte-se a isso o medo da retaliação - também não faltam exemplos - e tá feito o cenário para execução sumária. "Esse não rouba/mata mais".
Já ouvi dezenas de vezes que punição severa não necessariamente diminui a criminalidade. OK, mas a certeza da punição sim. continuar lendo

Esse anjo só estava utilizando um 38,qual mal poderia fazer?
Um horror! continuar lendo

Para comentar essa brutalidade, reedito, com adaptações, neste espaço, um artigo que escrevi, intitulado "Educação humanizadora", publicado aqui no JusBrasil (http://vitorgug.jusbrasil.com.br/artigos/113107452/educacao-humanizadora)

Se partirmos do ponto de vista da espiritualidade (no caso, sou espiritualista), devemos ser pacientes, pois o fim da bestialidade humana demandará ainda mais um milênio ou, quem sabe?, até mesmo mais umas tantas centenas de séculos de evolução espiritual

Todavia, estamos lidando com ciência, então lá vai minha opinião "científica" para explicar tamanha violência.

Tornou-se lugar comum dizer que a violência está relacionada à (falta de) educação. Inadvertidamente, todo mundo opina: - "Ah, a violência está grande porque o povo não tem educação." Sim, é verdade. Mas a qual educação as pessoas se referem? Será que é a essa educação formal/técnica/científica que é praticada no Brasil?

No meu modo de ver, a educação praticada no Brasil está longe de ser capaz de colaborar para a diminuição da violência; está longe de ser capaz de aumentar o IDH brasileiro a ponto de reduzir essa infeliz realidade.

Explico.

Na minha opinião, o brasileiro - assim como ocorre em tantos outros países sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento - é educado para competir, pra enfrentar o mercado. O brasileiro é treinado para ser uma máquina de moer a concorrência. O jovem brasileiro é ensinado a conquistar sua vaga o mercado de trabalho. Mas, isso não é importante? Sim, claro que é. Uma das vantagens da mentalidade competitiva é o desenvolvimento da autodisciplina.

Mas isso não é tudo, e nem é o mais importante, a meu ver. O jovem brasileiro é preparado para ser um técnico. Não é preparado para a vida; sua educação não é humanizadora (ao menos não o suficiente). Prepara-se o jovem para conquistar mercados, ser o melhor na sua profissão, massacrar a concorrência. E o pior: o modelo adotado pelo governo brasileiro, em que o aluno não é reprovado, foi a "tampa do caixão". Se o ensino já era pobre, desestimulante e desinteressante, agora que o aluno sabe que não vai levar chumbo, piorou!

Veja-se, por exemplo, a educação praticada nas escolas que adotam a Pedagogia Waldorf, desenvolvida pelo antroposofista austríaco Rudolf Steiner, no início dos anos 1900. Tal metodologia objetiva, em primeiro lugar, desenvolver as aptidões físicas, artísticas (música, literatura, pintura) e espirituais do aluno. Estimula-se a criança a sentir o mundo à sua volta, interagir com as outras crianças, formar e estreitar laços humanos. Na metodologia Waldorf, o pensamento abstrato, isto é, o conhecimento estritamente técnico/científico é relegado a segundo ou terceiro plano. Em resumo, a educação praticada com o uso de tal metodologia é considerada humanizadora. Daí pode-se exclamar: - "Mas a escola 'comum' também ensina essas coisas!" Sim, mas não com a prioridade e intensidade da Pedagogia Waldorf, por exemplo.

Outro questionamento pode surgir: - "Quer dizer, então, que quem estudou em escolas cujos métodos são considerados humanizadores não cometerá crimes?"

Respondo: Absolutamente! O crime é um fenômeno que não escolhe classe social, nível educacional, posição social, convicções políticas etc. Vários "serial killers" famosos pertenciam até mesmo à nobreza. Há casos famosos, narrados por Fernando Jorge na obra "Pena de Morte: sim ou não?", como o do professor japonês Issei Sagawa: culto, poliglota, Ph.D, dotado de uma inteligência incomum. Revelou-se, inclusive, um canibal; devorava suas vítimas, chegando a cozinhá-las.

Contudo, trata-se neste breve texto do crime massificado; esse que vemos todos os dias na TV, banalizado; crimes muitas vezes levados a efeito por motivos torpes ou fúteis; alguns às vezes cometidos até mesmo sem motivo aparente! É sobre esses crimes que falo.

Em meio a esse pandemônio que está a nossa sociedade, é lamentável ver inúmeras pessoas criticando e rejeitando um sem numero de ideias propostas e debatidas por juristas, cientistas sociais, filósofos, pedagogos etc. Vejo várias pessoas emitindo declarações repudiando o discurso acadêmico, rechaçando-o, tripudiando das discussões levantadas por estudiosos brilhantes, os quais têm trabalhado para identificar as causas desses males sociais que estamos sofrendo. Infelizes aqueles que deveriam se rejubilar por poder contar com mentes brilhantes, e que trabalham para o bem, para a construção de uma sociedade melhor, mas que, de forma grosseira e carregada de ódio, rejeitam e criticam essas ideias, argumentando que o discurso acadêmico está "enchendo o saco", que não produz os efeitos desejados pelos adeptos da justiça pelas próprias mãos.

Pois é justamente pelo discurso acadêmico estar "enchendo o saco" que nosso país está essa baderna. De fato, o discurso acadêmico é capaz de "encher o saco" de quem não está disposto a pensar ou, no máximo, só se dispõe a "pensar" de acordo com os defensores da violência e da vingança privada. Não se constrói uma sociedade equilibrada com discursos radicais (nem só com o acadêmico, e muito menos com o da brutalidade).

Penso que o que falta é colocar em prática o que é pensado e proposto como solução pelos estudiosos do Direito, da sociologia, da Filosofia, da Pedagogia etc. Vejo o problema como uma questão muito mais de ordem política e de gestão, mas isso não significa que o discurso acadêmico deva ser ignorado ou abandonado. Temos uma Constituição considerada avançada, assim como muitas leis. Contudo, o tráfico de influência e os interesses escusos dos governantes é que impedem que esses importantes instrumentos produzam os efeitos neles previstos. Daí surge uma pergunta: contra quem a população deveria se voltar? Marginais e desordeiros não possuem ingerência na coisa pública, ao menos não de forma direta. É disso que muitos vêm falando; a população está se voltando contra as pessoas erradas; estão se voltando contra as consequências do sistema.

Quem repudia a educação, dificilmente se inclinará às mudanças harmônicas e verdadeiramente edificantes. Na verdade, e como prova a experiência, quem repudia a educação, provavelmente irá, sim, se deparar com o nosso pior lado: o da bestialidade. continuar lendo

Realmente muito triste e lamentável o ponto a que nossa sociedade chegou.
Triste o caso desse rapaz, linchado em plena rua.

De fato, um erro não justifica o outro. Ou seja, não é porque a pessoa roubou que isso dá o direito a quem quer que seja, lhe tirar a vida.

Mas cabe aqui uma reflexão: se o fato da pessoa ter roubado não justifica o linchamento - obviamente que não! - por que os "linchamentos" de estupradores, esfaqueadores, principalmente os "di menó" (digamos, 16/17 anos), são justificáveis com falácias do tipo "não teve oportunidade", "não pode frequentar uma escola", etc?

Se um erro não justifica o outro, temos de parar com extremismos e não usar dois pesos e duas medidas. continuar lendo