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5 de Maio de 2024

Condenado a 104 anos se forma em presídio e diz que saiu da escuridão

Homem de 55 anos tem uma das maiores penas de MS, segundo Agepen. 'Quero ajudar a acender luz no fim do túnel de pessoas que sofrem', afirma.

Publicado por André Ribeiro Leite
há 8 anos

Preso há 11 anos, Luiz César Santos, 55 anos, detento do Instituto Penal de Campo Grande (IPCG), comemora uma conquista que fora das grades achava impossível: ter diploma de ensino superior.

"Tem que ter iniciativa, dar o primeiro passo rumo à luz, tem que sair da escuridão, sair da caverna. Eu saí, vi [a luz], fui atrás dela e me encontro diante da luz agora. A escuridão ficou para trás. Quero ajudar a acender luz no fim do túnel das pessoas que sofrem", explicou Santos ao G1. Ele disse que escolheu sair da ociosidade e usou o tempo livre para ser produtivo.

Santos chegou à cadeia com o 6º ano do ensino fundamental concluído. Retomou os estudos em 2009, no ano seguinte concluiu o ensino médio e começou o curso superior de gestão de cooperativas em 2013. Por estar no regime fechado, as aulas foram a distância. Na sexta-feira (11), recebeu o diploma simbólico.

O 'preso estudioso' tem 104 anos de condenação por diversos crimes, entre eles roubo à mão armada e sequestro. O tempo de pena é um dos maiores do estado atualmente, segundo a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen).

Formatura Vestido com beca e capelo, no discurso de agradecimento, ele lembrou que chegou ao fundo "do poço de sofrimento" quando cumpriu parte da pena no Presídio Federal de Campo Grande e agradeceu a oportunidade de estudar e trabalhar.

Ele também pediu perdão para a família, pela ausência durante os anos presos, e disse que a graduação é uma forma de retribuir o apoio que sempre recebeu.

"Me sinto redimido, porque só deu trabalho para a minha família. Hoje, acho que ofereço alguma coisa possível e realmente atesta que estou de volta para a minha família", ressaltou.

Exemplo para filhas

Na quadra do presídio, foram colocadas cadeiras para os formandos e familiares. Na primeira fileira estavam duas filhas, o pai e duas netas.

Aline Santos e Elen Caroline Santos estavam mais emocionadas que o próprio formando e choraram durante o discurso. Orgulhosas do pai, as duas disseram ao G1 que a força de vontade dele foi incentivo para que elas também fizessem faculdade. Elen faz pedagogia e Aline direito.

"Ele sempre foi meio culto assim, gostava de ler. Antes de entrar para o crime, ele trabalhava de pintor, mas a gente acredita que as más companhias o levaram para esse caminho. Graças a Deus e com o nosso apoio, hoje ele está buscando evoluir para sair melhor", avaliou Aline.

Elen também não esconde a felicidade e diz que, diante do preconceito da sociedade, a estrutura familiar ajuda muito na recuperação e ressocialização do preso. "A sociedade lá fora julga e discrimina não só o preso, mas o filho do preso, o neto do preso e não deveria ser assim", afirmou.

A família agora faz contagem regressiva para que Santos tenha progressão de pena e possa continuar o cumprimento em regime semiaberto. "Ano que vem estarei de volta para a minha família e para a sociedade, agora com estudo, quero contribuir com meu país, meu estado [...]Acredito que a sociedade nos recebe de braços abertos para aqueles que buscam, através da educação, uma forma de mudar de vida", finalizou.

2ª vez Ao lado de Santos, outro interno também participou da colação de grau, depois de se formar em comércio exterior. Esta foi a segunda vez que a cerimônia simbólica foi feita dentro do presídio.

Em dezembro de 2014, outro preso do IPCG também recebeu diploma do curso de processos gerenciais. José Carlos de Santana Junior foi o primeiro interno do regime fechado de Campo Grande a se formar em curso superior durante o cumprimento da pena e o segundo de Mato Grosso do Sul.

Atualmente José Carlos faz pós-graduação em coaching e liderança e, nesta sexta-feira, acompanhou de perto a cerimônia e ajudou na organização, já que trabalha no setor de educação do IPCG. O ensino a distância no regime fechado começou há três anos em Mato Grosso do Sul, segundo a Agepen.

FONTE: G1

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A cadeia não devia ser tão marginalizada, como é, mas infelizmente, essa é a realidade da cadeia no Brasil, enquanto alguns se esforçam para sair do carcere com auxilio de um caminho justo, procurando as oportunidade que são dada, quando se busca, este é um caso exemplar de mudança de comportamento e não concordar com a mesmice, já que vai ficar preso mesmo, vamos dar finalidade para isso, usando o tempo a seu favor, e com isso, quando vier a oportunidade de mudança agarra--se com unhas e dentes para sair da escuridão, como foi dito pelo preso. Acorda...Brasil... continuar lendo

Concordo! Quando se analisa o sistema trazido pela Lei 7.210/84 - Lei das Execuções Penais, verificamos a ressocialização como principal fim, além da inafastável garantia dos direitos fundamentais do condenado. Contudo, o que constatamos na prática é um sistema indiscutivelmente falido, onde a perspectiva de ressocialização é risível. Casos como este trazido na notícia são, infelizmente, exceções. Por fim, digo que soa hipócrita a "ressocialização" aqueles indivíduos que sequer sentiram o gosto da "socialização". continuar lendo