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3 de Maio de 2024

Legalização de aborto para grávidas com vírus zika em meio a surto de microcefalia gera debate

Publicado por Geovani Santos
há 8 anos

Legalizao de aborto para grvidas com vrus zika em meio a surto de microcefalia gera debate

Em meio à possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) voltar a ser palco do debate sobre a legalização do aborto no Brasil, pesquisadores ouvidos pelo O Globo divergem sobre a viabilidade jurídica da proposta de liberação do procedimento para mulheres infectadas com o vírus zika no momento em que o país vive um surto de casos de microcefalia.

Prestes a ser encaminhada ao Supremo pela ONG feminista Anis, a ação defende o aborto antes mesmo do diagnóstico de microcefalia e também uma política de assistência social às crianças nascidas com a malformação. O grupo de ativistas e acadêmicos que formula o pedido é o mesmo que encaminhou em 2004 a ação para a legalização do aborto em casos de anencefalia, aprovada em 2012 pelo STF.

"O fundamento principal de nossa defesa nesses casos é o direito à saúde e à dignidade da mulher e o direito ao planejamento reprodutivo", esclarece a antropóloga Débora Diniz, pesquisadora e professora da Anis e da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília.

Público e privado

Para o juiz do Tribunal de Justiça do Distrito Federal Álvaro Ciarlini, a tentativa de legalizar o aborto pelo risco de microcefalia não tem respaldo constitucional, pois a legislação prevê aborto apenas em casos de estupro e risco de morte da gestante. A microcefalia também não poderia ser comparada à anencefalia, já que não haveria incompatibilidade com a vida (argumento usado pelo STF para liberar o aborto de fetos anencéfalos), mas possível comprometimento de atividades cognitivas e motoras.

"Estamos dispostos a pagar o preço do alargamento das hipóteses para aborto em casos de crianças que apresentem algum comprometimento neurológico? É a lógica da eugenia."

Na contramão, o coordenador do Centro de Justiça e Sociedade da FGV Direito Rio, Michael Mohallem, acredita que há, sim, espaço para o Supremo adotar a decisão para casos de fetos anencéfalos como precedente para a microcefalia associada à epidemia de zika. Para ele, o tribunal tem ressaltado em decisões recentes a importância de valores como o direito à privacidade e à autonomia. Costuma-se ainda usar como parâmetro legislações liberais de países considerados desenvolvidos, especialmente daqueles onde o aborto para todos os casos já realidade, como Reino Unido, Canadá e França.

"No caso do vírus zika, não há 100% de certeza sobre impossibilidade de vida, mas há alto custo emocional para a mãe e pode caber a ela descontinuar a gravidez para evitar sofrimento. Proteção à vida não significa apenas proteger contra a morte, mas dar condições de vida digna", diz Mohallem.

Tese da negligência

Não existe regra para definir quais casos são ou não julgados pelo STF e a pressão pública pode agilizar a discussão. Para Mohallem, prevalece o poder de agenda e a sensibilidade do presidente para definir quais assuntos são mais relevantes:

"Se o STF não quiser adotar a ampliação de seu próprio precedente de 2012, ele pode adotar uma nova linha de interpretação, a da omissão estatal. Á mulher não pode ter a responsabilidade de carregar o ônus da omissão do Estado, que não cumpriu obrigação de evitar a epidemia."

Débora Diniz, da Anis, também vê negligência na atuação do Estado pela "incapacidade de exterminar o Aedes aegypti nos últimos 30 anos". "Por mais que o zika seja um vírus recente no Brasil, o descaso em conter seu vetor já é suficiente para caracterizar negligência do Estado", diz a antropóloga.

Para Ciarlini, o argumento não é consistente: o Estado não responde pela situação endêmica, pois não estaria demonstrado que o Brasil poderia ter erradicado o mosquito se tivesse tomado outras providências.

Ciarlini também argumenta que o Supremo deve se debruçar apenas sobre casos para os quais as normas jurídicas não apresentam uma solução. Não haveria respaldo para uma alteração tipicamente legislativa. Caberia ao Congresso tomar a decisão a partir do debate "completo" e "adequado" na esfera pública.

"É pouco provável que o STF vá errar nessa questão. Ser mais ou menos conservador não dá ao STF o poder e legitimidade para a exclusão de licitudes. Ele deve cumprir a Constituição e garantir a separação entre os poderes", conclui o juiz.

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Foi vítima de venda casada em instituição financeira? Saiba os seus direitos​.

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28 Comentários

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Ou se é ou não contra o aborto e ponto final. Não existe meio termo.
Eu acho que não cabe o estado decidir isso, e sim cada pessoa. Cada um sabe de si, sabe dos seus problemas e condições.
Se uma pessoa não quer gerar ela tem todo direito de fazê-lo.
Enfim que cada um cuide da sua vida!!! continuar lendo

"Enfim cada um cuide da sua vida". Interessante, já que no aborto você está exterminando a vida alheia, não? continuar lendo

Pois é, na hora de decidir é "meu corpo, minhas regras", mas na hora do tratamento para a depressão pelo SUS, nós todos pagaremos a conta...! continuar lendo

David pagamos por todos os problemas, viciados, assassinos, etc etc etc etc Então se formos classificar passamos para o atendimento somente de quem contribui para o INSS.
E tem mais muitas pessoas em depressão, viciados são de nascimentos indesejáveis o que fazer com eles quando precisarem??? continuar lendo

Rafael Ah tá o Estado então pode interferir... mas na hora que estiver jogado na rua, sem amor, rejeitado, sem as minímas condições, sem educação, que é obrigação do Estado faremos o que????
Quer cuidar, controlar mas não faz o mínimo, a parte dele.
E sim a decisão é de quem está grávida. Quem depois vai ter que sustentar, muitas vezes sem condição esta "vida alheia"? Cada pessoa sabe da sua dor, das suas condições.
Será mesmo que jogarmos mais vidas neste mundo já tão conturbado, vidas indesejadas e muitas vezes fruto de irresponsabilidade de duas pessoas sendo que muitas vezes o homem simplesmente abandona a mulher e diz problema seu. continuar lendo

As pessoas que são contra o direito de cada uma decidir se quer ou não ter um filho, poderiam se unir e formar uma fila de adoção, claro que se comprometendo formalmente em dar a cada criança adotada todas as condições dignas de uma existência e a adotar todas que a mães não queiram, sem distinção.
É fácil decidir sobre o direito de outros, quando não pese sobre essa decisão a responsabilidade de assumir. Criar filhos dos outros, ninguém quer mas dar palpites na vida alheia, aí não se intimidam. continuar lendo

Aborto é assassinato. continuar lendo

A ser como você diz, um pai ou mãe que não quiser mais o filho de 10 anos, teria de ter o direito de matá-lo também.

Pergunta: Qual método você acha melhor para matar a criança no ventre? E fora do ventre? continuar lendo

Tomar pílula usar preservativos e menstruar então também é.
Masturbação masculina é genocídio.
O ato sexual só deveria servir para a procriação. Os animais ensinam isso.
Como eu disse, Alex, é fácil... continuar lendo

Voce considera isso igual, Eduardo?
Eu não disse isso. A conclusão foi sua.
No ventre e se tratando de uma célula embrionária, o aborto tem seu método.
Agora fora do ventre, muitos pais matam por muitos motivos diferentes, muitas pessoas chamam a polícia para matar e outras simplesmente deixam morrer, vítimas do descaso. continuar lendo

Pois é José, o problema é que SEM fecundação não há vida, logo sua explicação não faz sentido. Mas ficarei feliz se você me responder. continuar lendo

Respondo com prazer, Eduardo.
LI muito a respeito do momento em que se considera a existência de vida. Não existe consenso. Até a 8ª semana, ainda se considera embrião e só depois passa a ser considerado feto, quando sua formação está completa e daí para a frente apenas se desenvolverá, nada mais sendo acrescentado.
Existe muita diferença entre abortar e matar. Abortar é interromper um processo que formará uma vida.
"O bebe mais prematuro que já sobreviveu tinha 21 semanas de gestação. Amillia Taylor nasceu em 24 de outubro de 2006, pesava 280 gramas e media 24 centímetros. Cabia na palma da mão."
Baseado nessa estatística é possível se afirmar que até a 20ª semana o feto não é um ser independente? Se a mãe morrer até a 20ª semana o feto morrerá também. O que dizer então da fase embrionária?
Nós somos aquilo que nosso cérebro acumula de informações. Essa é a individualidade da pessoa. Por isso que mesmo clones ou gêmeos univitelinos não são pessoas absolutamente iguais. Até a 8ª semana de gestação não existe nenhuma informação acumulada, sequer o cérebro está em atividade para isso. Entendo como até esse momento você apenas interrompa o que poderia resultar em uma vida e entendo isso como uma escolha única e exclusiva da mãe. Segue um copia e cola do google:

Semana 1-2: O ovo é implantado na parede uterina, e que o projeto é considerado como duas semanas.

Semana 3: Apesar de ainda ser um embrião em sua definição e formação, coluna vertebral, sistema cardiovascular (coração batendo) e do cérebro começam a se formar.

Semana 4: Neste estágio, o embrião se desenvolve em três seções do cérebro; forebrain, mesencéfalo e rombencéfalo, ao longo da haste óptica.

Semana 5: Como o cérebro continua a desenvolver, outros órgãos, como o sistema circulatório começar a trabalhar com os quatro quartos do coração. As características faciais começam a desenvolver, com uma visão distinta clara (com ultra-som) dos braços e pernas, completas com os dedos.

Semana 6: Esta semana vê a formação dos hemisférios cerebrais e até mesmo um pouco de atividade das ondas ". Tubo neural que conecta o cérebro e a medula espinhal, também está fechado neste momento.

Semana 7: Esta semana, o cérebro está a crescer a um ritmo rápido e o treinamento está quase completo.

Semana 8: Esta semana, a cabeça é muito grande em comparação com o resto do corpo. O desenvolvimento do cérebro posterior, responsável pela regulação da frequência cardíaca, respiração e todos os movimentos dos músculos afetados também começam agora. continuar lendo

Mentira. Sem fecundação também há vida. O espermatozóide é uma célula viva que após expelida do corpo masculino e não fecundada morre. Assim como o óvulo em situação análoga. O que voces deveriam mudar é o discurso. Vocês são a favor do parto, do nascimento. Porque vocês não convencem ninguém com essa baboseira de serem a favor da vida. Vocês não se importam com as vidas das pessoas que nasceram vão levar. Não se importam com os cuidados que os país terão que ter com a criança e com as privações que essa doença trará a vida de todos os familiares. Ou seja, a vida como será vivida pouco importa. continuar lendo

Acho que ele se referia a vida na forma humana Adinam.
De qualquer forma é apenas um discurso vazio. continuar lendo

As pessoas que são contra maridos e companheiros espancarem suas mulheres deveriam formar uma fila para se unirem a tais mulheres espancadas, dando-lhes condições dignas também. É fácil decidir sobre o direito dos homens espancarem mulheres quando não se tem nenhuma responsabilidade de assumir a mulher espancada. Unir-se à mulher espancada ninguém quer, mas dar palpite na vida alheia, aí não se intimidam.

Isto é a transposição pura e simples do seu argumento para outra situação fática. Argumentar que para ser contra o aborto de fetos com alguma anomalia só é válido se as pessoas que criticam estejam dispostas a adotar tais crianças quando nascerem é tão bizarro quanto dizer que para ser contra o espancamento de mulheres é preciso antes estar disposto a se casar com elas. continuar lendo

Que resposta infantil Rafael.
Infantil e apelativa.
Não pretendo transformar minha opinião em praça de guerra.
Sou a favor da liberdade da mulher, se você não é, lute por seus princípios.
Abraços continuar lendo

No caso do vírus zika, não há 100% de certeza sobre impossibilidade de vida, mas há alto custo emocional para a mãe e pode caber a ela descontinuar a gravidez para evitar sofrimento. Proteção à vida não significa apenas proteger contra a morte, mas dar condições de vida digna", diz Mohallem.
Por favor né, filhos que usam droga, que estão no mundo do crime, que desapontam seus pais também causam grandes problemas emocionais e nem por isso esses pais decidem matar seus filhos, e muitas vezes é até o contrário como tem mostrado a mídia suja.
Nossa fico revoltada com isso, querem prever o futuro das pessoas.
PURA ALIENAÇÃO! continuar lendo

"Sou a favor da vida". Eu também. Mas, em uma necropsia o 1º quesito é : Houve morte? No caso de um bebê não ter respirado a resposta é não pois não houve vida. Então juridicamente ninguém pode matar um um concepto no ventre da mãe. E mais nas primeiras semanas ainda não tem cérebro ou seja mais morte cerebral impossível. Interromper uma gravidez não está matando alguém. continuar lendo