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2 de Maio de 2024

A mudança do regime de bens durante o casamento pode ter efeito retroativo, decide o STJ.

Mudança de entendimento.

Publicado por Wander Fernandes
ano passado
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A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por unanimidade, decidiu em 25/4/2023, no Agravo Interno em REsp nº 1671422/SP, relatado pelo Ministro Raul Araújo, que a mudança superveniente do regime de bens do casamento pode ter efeito retroativo (“ex tunc”).

No caso concreto analisado, o casal que havia contraído matrimônio no regime de separação total de bens decidiu, de comum acordo, pela mudança para o regime de comunhão universal, sob o argumento que a relação está consolidada e de que o patrimônio foi construído em conjunto.

De inicio, em decisão monocrática, o relator havia decidido pelo não provimento do Recurso Especial, considerando que o acórdão recorrido estava em consonância com o entendimento do STJ que, em julgamentos anteriores ( REsp nº 1947749/ SP, REsp nº 1533179/ RS e REsp nº 1300036/ MT), decidiu que os efeitos da modificação do regime de bens do casamento não retroagem (“ex nunc”), devendo vigorar apenas a partir do trânsito em julgado da sentença homologatória.

Inconformados, os recorrentes discordaram da decisão, alegando que o entendimento do STJ viola o artigo 1.667 do Código Civil e, portanto, o novo regime de bens deve ter efeitos retroativos.

O Ministro Relator Raul Araújo, ao reformar a decisão inicial, afirmou que a autonomia da vontade das partes deve ser respeitada e que, se a decisão do casal pela mudança beneficia a coletividade, não prejudica terceiros e não causa desequilíbrio às relações patrimoniais, pode ser admitida.

Referido julgado figurou no Informativo de Jurisprudência nº 772 do STJ, de 02 de maio de 2023, com o seguinte Destaque:

"Os efeitos da modificação do regime de separação total para o de comunhão universal de bens, na constância do casamento, retroagem à data do matrimônio (eficácia ex tunc)."
Tema: "Casamento. Regime de bens. Modificação. Separação total para comunhão universal. Eficácia ex tunc. Corolário lógico."

Informações do inteiro teor do julgado supra:

"A modificação do regime de bens foi admitida pelo Código Civil de 2002, especialmente no seu art. 1.639, § 2º. Nos termos da literalidade da norma, a alteração do regime de bens não poderá prejudicar os direitos de terceiros. Constata-se, assim, a preocupação de se proteger a boa-fé objetiva, em desprestígio da má-fé, de modo que a alteração do regime não poderá ser utilizada para fraude em prejuízo de terceiros, inclusive de ordem tributária. Assim, em qualquer hipótese, havendo prejuízo para terceiros de boa-fé, a alteração do regime de bens deve ser reconhecida como ineficaz em relação a esses, o que não prejudica a sua validade e eficácia entre as partes e de modo geral.
Na hipótese do presente recurso, as partes casaram-se pelo regime da separação eletiva de bens e, valendo-se da autonomia de vontade, optaram por alterá-lo para o regime da comunhão universal de bens (o que supera, portanto, a comunhão parcial), manifestando, expressamente, a intenção de comunicar todo o patrimônio, inclusive aquele amealhado antes de formulado o pedido de alteração.
Nesse caso, a retroatividade (efeitos ex tunc) não teria o condão de gerar prejuízos a terceiros, porque todo o patrimônio titulado pelos recorrentes continuaria respondendo, em sua integralidade, por eventuais dívidas, conforme inteligência do art. 1.667 do Código Civil de 2002, que dispõe que o regime da comunhão universal de bens importa a comunhão de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas. Com efeito, na hipótese de alteração do regime de bens para o da comunhão universal o próprio casamento se fortalece, os vínculos do casal se ampliam e a eficácia ex tunc decorre da própria natureza do referido regime.
Nessa linha, é possível que os interessados requeiram ao juiz que estabeleça a retroação dos efeitos da sentença, optando pelos efeitos ex tunc. No que tange à esfera jurídica de interesses de terceiros, a lei já ressalva os direitos de terceiros que eventualmente se considerem prejudicados, de modo que a modificação do regime de bens será considerada ineficaz em relação a eles.
A vedação, em caráter absoluto, à retroatividade implicaria inadmissível engessamento, retardando os benefícios que adviriam de um regime presumivelmente mais vantajoso para as partes e terceiros. O que não se pode fazer é retroagir para prejudicar, para alterar uma situação do passado em prejuízo da sociedade. Ao contrário, se a retroatividade é benéfica para a coletividade, se não viola o patrimônio individual, nem prejudica terceiros, ou seja, se o retroagir não produz desequilíbrio jurídico-social, deve ser admitido.
Havendo alteração da separação eletiva de bens para a comunhão universal, só haveria de fato uma comunhão" universal "se os bens já existentes se comunicarem. Sendo o regime primitivo o da separação de bens, com a alteração para comunhão universal, todos os bens presentes e futuros devem entrar para a comunhão. Como a própria lei já ressalva os direitos de terceiros (a alteração do regime de bens será ineficaz perante eles) não há por que o Estado-juiz criar embaraços à livre decisão do casal acerca do que melhor atende a seus interesses.
É difícil também imaginar algum prejuízo aos credores, visto que esses, com a alteração do regime para comunhão universal, terão mais bens disponíveis para garantir a cobrança de valores. Independentemente de constar na decisão judicial, o patrimônio continuará respondendo pelas dívidas existentes. Quanto a eventual credor prejudicado, vale a ressalva feita pela lei que diz respeito à ineficácia em relação a direito de algum terceiro que venha a alegar prejuízo.
Como regra, a mudança de regime de bens valerá apenas para o futuro, não prejudicando os atos jurídicos perfeitos. Mas a modificação poderá alcançar os atos passados se o regime adotado (exemplo: alteração de separação convencional para comunhão parcial ou universal) beneficiar terceiro credor pela ampliação das garantias patrimoniais. Aceitável, portanto, a retroação decorrente de explícita manifestação de vontade dos cônjuges.
A mutabilidade do regime de bens nada mais é do que a livre disposição patrimonial dos cônjuges, senhores que são de suas coisas. Não há sentido proibir a retroatividade à data da celebração do matrimônio livremente manifestada pelos cônjuges de comunicar todo o patrimônio, inclusive aquele amealhado antes de formulado o pedido de alteração do regime de bens, especialmente no caso em que a retroatividade é corolário lógico da mudança para a comunhão universal."

- Fonte: Superior Tribunal de Justiça (STJ), Legislação: Artigos 1.639, § 2º e 1.667 do Código Civil, Imagem: Canva.

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3 Comentários

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A questão envolvendo a retroatividade do regime, ao que me´parece, não contempla quando o casamento se dá pelo regime da separação total DECORRENTE DA LEI, ou seja, o cônjuge que possuía à época do matrimônio mais de 70 anos e obrigatoriamente o regime deveria ser o da SEPARAÇÃO LEGAL. Pergunta-se: A decisão alcança tais situações ou, por questão de hierarquia da norma, poder-se-ia entender que não se aplica? continuar lendo

Pois é, aqui na minha cidade o juiz entendeu que não... continuar lendo

Artigo esclarecedor! É uma decisão que cabe ao casal desde que não prejudique terceiros. continuar lendo