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2 de Maio de 2024

Privilégios os servidores do Judiciário são maiores do que dos outros Poderes

Publicado por Correio Forense
há 9 anos

Enquanto funcionários do Executivo recebem, em média, R$ 4,5 mil de auxílio-alimentação por ano, no Legislativo, o ganho é de R$ 8,7 mil; no Ministério Público, de 9,7 mil; e, no Judiciário, de R$ 10,8 mil. Reajuste não precisa ser especificado em lei.

No serviço público, alguns são mais iguais do que outros. O Tesouro Nacional desembolsou, em 2014, R$ 11,8 bilhões, para bancar quatro benefícios para os funcionários — auxílios alimentação, transporte, creche e assistência médica complementar — dos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo. Para este ano, a previsão inicial é de gasto de R$ 12,6 bilhões com esses itens, mas vários aumentos em discussão já indicam que a fatura será maior. De acordo com os dados apresentados pelo Ministério do Planejamento, porém, há uma profunda discrepância nos valores concedidos. Um servidor do Judiciário chega a embolsar 2,4 vezes a mais que seus colegas do Executivo.

Essa remuneração indireta engorda consideravelmente os ganhos do funcionalismo. Em alguns casos, representa praticamente um 14º salário. Se considerarmos o auxílio-alimentação, um servidor do Poder Judiciário recebe, em média, uma subvenção anual de R$ 10,8 mil. Entre os funcionários civis do Executivo, a quantia é de R$ 4,5 mil no período. Entre os militares, o valor é menor ainda: R$ 3,3 mil. Enquanto isso, os servidores do Ministério Público da União (MPU) recebem, no período, R$ 9,7 mil. E os do Legislativo, R$ 8,7 mil.

A fatura não para de aumentar. Haverá um salto anual de R$ 1,3 bilhão referente ao impacto causado pela correção de três desses itens, apenas para os trabalhadores civis do Poder Executivo, autorizada pelo Ministério do Planejamento (MPOG), no último dia 20. O auxílio-creche, desde 1995 sem correção, foi atualizado em 317,3%. O auxílio-alimentação e o plano de saúde suplementar tiveram índices de 22,5% e 23%, respectivamente, considerada a inflação de 2013 e 2014.

Apesar do montante que salta aos olhos, esses incentivos podem ser aprovados com certa facilidade. Basta autorização, que, no caso do Executivo, não é sequer do presidente da República: o próprio Ministério do Planejamento se encarrega disso. Diferentemente da concessão de reajustes para pessoal, os benefícios não precisam de autorização específica na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ou na Lei Orçamentária Anual (LOA). No caso do auxílio-alimentação e da assistência pré-escolar, a regra impõe obediência ao limite da inflação oficial do período considerado. Já para assistência médica e para o auxílio-transporte, não há limite. Ou seja, podem ser aumentados conforme o acordo entre as partes.

“Em qualquer das situações, é obrigatório que seja observado o disposto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), condicionando que a criação, a expansão ou o aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento de despesa deverá ser acompanhado, entre outras exigências, de declaração do ordenador da despesa de que o aumento tenha adequação orçamentária e financeira com a lei orçamentária anual”, complementou o MPOG.

Lista extensa A lista de benefícios é grande em alguns casos. Inclui assistências ou indenizações, como os adicionais noturnos, de insalubridade, de periculosidade, por serviço extraordinário, por tempo de serviço; auxílios funeral, natalidade e reclusão. Além de ajudas de custo e do polêmico auxílio-moradia, entre outros. E, ainda, há várias propostas de emenda à Constituição (PECs) tramitando no Congresso Nacional com pedidos de bônus de eficiência para ativos e até para aposentados. Governo e servidores entram em choque cada vez que uma delas é incluída na pauta de discussões do Legislativo.

A lógica da concessão de benefícios no setor público é difícil de ser entendida pelos analistas do mercado. Eles afirmam que qualquer tipo de bônus exige contrapartida. As vantagens não são de graça. São incentivos para o aumento da produtividade e da qualidade do serviço prestado. O que não acontece, dizem, na administração pública. “A princípio, sou contra penduricalhos. Acho que o servidor deve ter bons salários, plano de carreira e treinamento permanente. É isso que entendo como valorização”, afirmou Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas.

Ele lembrou que os servidores sempre apresentam dados unitários para mostrar que qualquer tipo de aumento tem pequeno impacto. “Quando a ótica é de apenas um servidor, parece pouco. Mas a quantidade é grande e a despesa, elevada”, assinalou. No entender de Castello Branco, os Três Poderes deveriam entrar em um acordo para fechar as portas para as regalias. “Cada vez que um privilégio é criado, as correções inflacionárias são inevitáveis. O grande problema no governo passa a ser fazer cortes. No caso do atual, não só nesses adicionais”, reforçou.

Inchaço Castello Branco lembrou que, até o momento, o governo não cortou “na carne”. Continua com os 39 ministérios e aumentando a mão de obra. Estudos do Contas Abertas apontam que, de 2002 a 2015, foram admitidos mais 124 mil servidores e criados 30 mil cargos e funções comissionadas – para servidores ou contratados. “O lamentável é constatar que esse inchaço da máquina não repercutiu em resposta à sociedade, em eficiência ou respeito ao contribuinte”, disse. Tudo, no entanto, é um reflexo da má gestão, assinalou.

Até nos concursos públicos, o Brasil está no rumo errado. “Há estudos que apontam que, em comparação com países desenvolvidos, estamos ainda com um número de servidores muito abaixo do necessário. Porém, por conveniência, não se confronta também os métodos de avaliação. Nos Estados Unidos, por exemplo, o concurso é rigorosíssimo e o perfil do candidato é levado em conta na análise do cargo que ele pretende ocupar. Aqui, só é preciso marcar xis na prova e a maioria nem sabe o que vai fazer depois de aprovada”, criticou.

José Matias-Pereira, especialista em finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB), sugeriu que os benefícios fossem negociados com o reajuste salarial, e atrelados à exigência de compensações para o público. “O custo desses benefícios, privilégios e regalias é alto para a sociedade. O governo deveria ficar de olho nas gratificações. Se for constatado compromisso do servidor com o atendimento à população, o valor deve aumentar. Se houver piora, tem que haver mecanismos para reduzi-lo.”

Mas, para isso, Matias-Pereira acha que seria preciso uma profunda reforma política, assunto que está fora do radar do governo. “Temos uma administração desconectada, que cria coisas que nem sabe para o que servem ou nem sequer consegue avaliar seus impactos no futuro”, criticou. “Não é que eu seja contra. Vejo esses benefícios com bons olhos. Mas não dá para fazer concessões, sem retorno claro, e com falta de gestão”, reforçou.

“Sou contra penduricalhos. O servidor deve ter bons salários, plano de carreira e treinamento permanente. É isso que entendo como valorização” Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas

“O governo deveria ficar de olho nas gratificações. Se for constatado compromisso do servidor com o atendimento à população, o valor deve aumentar. Se houver piora, tem que haver mecanismos para reduzi-lo” José-Matias Pereira, professor da UnB

CORREIO BRAZILIENSE, por VERA BATISTA

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SOLUÇÃO DEFINITIVA PARA OS SALÁRIOS DOS SERVIDORES DO JUDICIÁRIO FEDERAL (mas que não quer ser proposto pelo DG do STF, nem sindicatos (formados por Técnicos Judiciários), nem agrada ao Poder que valoriza o servidor, mas perde o poder politico de controle. So se pode igualar os iguais e logo, so podemos igualar salários e equiparar a outras carreiras do Executivo se aproximarmos os salários do Judiciário ao do Executivo.

1 - modelo remuneratório: SUBSIDIO - cria transparência, evita que haja altos valores incorporados e vantagens altas dispares de outros poderes. Subsidio da transparência e moralidade aos salários.
2 - Redução do valor das chefias, TODAS, desde fc5 a CJ4, sendo extintas as FC 1 a fc4. Isto liberaria milhares de reais para que o impacto seja extremamente reduzido.
3 - Os cargos de gestão sejam exercidas por quem, por lei, tem incumbência de elaborar pareceres, trabalhar em funções de alta complexidade e este cargo é o Analista Judiciário. Quem contrataria um advogado para atender balcão e um com segundo grau (técnico) pra ser o gestor de uma empresa, seção, etc? Pois bem, no serviço público, no Judiciário, isso é regra e não exceção. Desperdício do dinheiro público, eficiência comprometida, gastos absurdos!!
4 - Mudança do nome do cargo de Analista Judiciário para Gestor Judiciário e Consultor Judiciário, adequando a sua função legal.
5 - Auxilio alimentação idêntico ao dos outros poderes, ajustando ao valor REGIONAL DE ALIMENTAÇÃO, independente do poder a que esta ligado.
5 - FINALMENTE SIM, equiparação total da carreira de analista as análogas aos outros poderes. O cargo de segundo grau do judiciário, ou seja, técnicos judiciários, equiparados aos de segundo grau dos outros poderes. Se o Judiciario entender que ha necessidade de mais cargos de alta qualificação, como Analistas (chamados gestores e consultores) que concurso para este cargo e não coloque o técnico em desvio de função, que deve ser PROIBIDA para AMBOS os cargos POR LEI!!. continuar lendo

Vá tomar no orifício mediano central rugoso!! continuar lendo

Enquanto era para existir um teto constitucional, o que se ve na verdade são as mais variadas manobras para conseguir ultrapassa-lo. No TJ de Santa Catarina tem Desembargador que recebe salário médio na casa dos R$ 50.000,00 por mês, sendo que o salário base é de R$ 30.000,00. continuar lendo

As pessoas só lembram de fazer "profunda reforma política" quando é para prejudicar. Senhores desde 2001 que o art. 37, inciso X da constituição não é cumprido. Onde está a nossa revisão geral anual que ali se encontra determinada?
Agora que temos um projeto pronto para ter o veto derrubado os senhores e senhoras demagogos do plantão querem fazer uma reforma urgente, francamente.
Direitos trabalhistas precisão ser respeitados e somos trabalhadores em busca de nossos direitos violados!
Não queremos o quando pior melhor pois, afinal, também será ruim para todos nós, mas exigimos respeito, dignidade e cumprimento da Constituição Federal. continuar lendo