Filósofo fala sobre ética e administração pública no TCE/RJ
"Os governantes precisam ser educados a cuidarem de si e da cidade. Para poder governar a cidade, é preciso saber governar a si mesmo"
"Os governantes precisam ser educados a cuidarem de si e da cidade. Para poder governar a cidade, é preciso saber governar a si mesmo. Mas só quem é livre consegue controlar a si próprio. A corrupção, por exemplo, seria um descontrole dos desejos e afetos." A declaração do professor Pablo Azevedo, mestre em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi feita nesta quarta-feira (16/9), durante a quinta edição da Roda Filosófica sobre a história do pensamento político ocidental, que abordou Ética e Política na Antiguidade Clássica. O encontro foi promovido pelo Momento Cultural do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro em parceria com a Associação dos Servidores (Astcerj) e a Escola de Contas e Gestão (ECG), no Espaço Multiuso da Biblioteca Sergio Cavalieri Filho, no TCE-RJ.
A definição de ética, colocada no centro do debate por Azevedo, está ligada à produção do logos, que vem a ser a unidade entre agir, pensar e falar. "A liberdade é consequência da construção do logos e está relacionada à ética, ao trabalho de desafiar-se, de superar-se. É um exercício de luta contra si mesmo, de reorientar-se. Não tem a dimensão religiosa que atribuímos atualmente", explicou. O filósofo também enfatizou que os gregos não tratavam o logos como uma questão moral e, por isso, falavam em unidade e não em coerência.
Azevedo afirmou que o grego pensava a ética como algo que produzia liberdade comum, assim como a política. A emancipação de si estava atrelada à emancipação do outro. "A liberdade no mundo clássico não era poder fazer tudo, nem tinha a ver com o ditado atual 'minha liberdade termina quando começa a do outro'. Era produzida e conquistada", pontuou o filósofo.
A confusão feita entre ética e moral também foi dissolvida pelo professor que esclareceu que a moral é referente a hábitos, costumes e valores de uma determinada sociedade. "O problema da moral é que ela é um pensamento reprodutivo, ou seja, não é questionada. É fundada em pré-conceitos, regras dadas. Pode estar ligada à tradição, mas é sempre conservadora, não está aberta a modificações. Já a ética está atrelada à dimensão política, a uma tentativa de produção de racionalidade", colocou.
Ao citar as quatro escolas éticas clássicas – epicurismo, platonismo, estoicismo e cinismo –, Azevedo destacou que só o cinismo tratava a ética de uma maneira individualista, com uma absoluta autonomia em relação ao outro. "Eles abominavam o olhar do outro e precisavam do mínimo possível. Os pertencentes ao cinismo não compravam roupas, por exemplo, faziam suas próprias e, se não conseguissem, andavam nus", ilustrou. (Extraído do site do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - TCE/RJ)
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