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5 de Maio de 2024

‘A forma como tratam os advogados é bem cruel’, relata ex-advogada

Publicado por DR. ADEvogado
há 3 anos

Laura* abandonou a advocacia aos 28 anos, com seis de formada e experiência em dois escritórios. Como ela, quatro amigas deixaram o setor. Uma delas virou blogueira. Outra saiu do país. Duas são concursadas públicas. Todas passaram “a detestar advogar”. "A gente se sentava para conversar e a pauta sempre era o escritório. Não era algo pontual alguém dizer que ia largar a advocacia. Eu nunca trabalhei num escritório que tivesse um lado mais humano", conta ela, que mudou de profissão. Ela narrou ao CORREIO como a rotina de trabalho de até 12 horas, a falta de perspectiva e a desilusão com o mercado a levaram a deixar a profissão.

"A forma como tratam os advogados é bem cruel"

Tinha dias que eu ia trabalhar com vontade de chorar. Percebia que alguma coisa não estava legal, e eu fazia de forma muito automática. Alguma coisa não batia. A gente brincava que a única luz do prédio acesa era nossa, de noite. Mas, se você dissesse que não queria, outra pessoa ia entrar no seu lugar.

Largar a advocacia era uma coisa bem geral. Eu fiz outro curso, uma amiga virou blogueira, um colega foi morar fora, cada um foi buscando outras coisas. Todas passaram a detestar advogar. A gente se sentava para conversar e a pauta sempre era o escritório. Não era algo pontual alguém dizer que ia largar a advocacia. Não tinha esse cuidado de "vem cá, o que vocês estão precisando?". Eu nunca trabalhei num escritório que tivesse um lado mais humano.

No início, eu tinha bem essa visão folclorizada de que advogado ganha bem. Ok, ganha bem, se tiver seus contatos, talvez. Minhas amigas da faculdade, cinco, todas fizeram concurso, são concursadas, e só uma está na advocacia, mas também porque ela gosta mesmo e o padrasto era advogado. Mas todas viraram concursadas.

Eu fiquei nesse último escritório uns seis meses, mas comecei a me sentir desestimulada, tinham muitas amigas estudando para concurso, e sai. Parei e fui estudar para concurso, tive algumas aprovações, mas não entrava, e voltei a advogar, em 2016. Quando eu entrei, eu ganhava por produtividade. Era uma coisa insana, entrava cedo no escritório, e às vezes tinha que sair 22h. Tinha que bater meta nessa época, mas era essa coisa maluca.

Na nossa profissão, se você quer crescer, não consegue. São muitos advogados que saem para o mercado todos os semestres. Não me sentia rendendo, nem produtiva, o trabalho não tinha relação com serviço de advogado, era uma coisa automática e bem robotizada. Eu não estudei para isso e fiquei bem desestimulada.

Nos outros meses, meu rendimento foi caindo porque era produtividade. Era uma cobrança muito forte. Eu terminava o trabalho, às vezes 15h, e avisava que ia embora, a coordenadora dizia que eu não poderia. Ficava me sentindo muito desestimulada e comecei a fazer um curso. Eu ia trabalhar e de noite, fazia o curso.

Nunca falei disso para minha supervisora, porque ela deixava muito claro para todo mundo que se não conseguisse fazer o trabalho, que dissesse, porque outras pessoas fariam aquele trabalho. Voce não confronta porque sabe que pode ser desligada.

A forma como tratam os advogados é bem cruel. Eu tinha 22 quando sai da faculdade, eu tinha 26 quando voltei, e sai do escritório 28 anos. Advogado tem que estar sempre bem-vestido. Gente, é uma coisa que não bate. Você tem que manter o decoro, a roupa, mas para isso a gente precisa ser remunerado de acordo. São advogados que moram com os pais e o dinheiro é para comprar roupa para ir para o trabalho.

Tem essa coisa do sempre estar bem-vestido. É claro, se você está numa audiência, você tem que estar bem-vestido, tem muito disso. Mas, esse glamour não corresponde ao que os advogados, a massa, recebem.

Quando eu saí, eu me senti aliviada, por não estar naquela pressão, mas também naquele medo: o que fazer? Me dediquei completamente ao curso que eu estava fazendo.

*Nome modificado a pedido da entrevistada.

(Por: Fernanda Santana / Fonte: www.correio24horas.com.br)


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3 Comentários

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Eu sou advogado concursado e não só pelos motivos narrados, mas por outros, inclusive o descaso por parte do órgão de classe, estou quase jogando a toalha. Advogado atualmente só serve para cumprir tabela e "levar esculacho" com aval de entidades que deveriam estar ao nosso lado.

O jeito é deixar de levar a sério certas coisas consideradas sérias. Tenho 15 anos de advocacia e me sinto mais preso trabalhando do que aqueles que represento e estão reclusos nas unidades prisionais. Há momentos que no parlatório penso quais as diferenças estando do outro lado.

Vaidade, pseudo status e ganância tomaram conta, e os livros são "CTRL +F". É DESANIMADOR!

E ainda trabalhar se baseando numa piada de mau gosto - o artigo da Lei 8.906/94. Ninguém merece. continuar lendo

Conselho, o objetivo da advocacia é ser autônomo será neste patamar que você irá ter os melhores ganhos com o mínimo de esforço. Faça o máximo possível para não trabalhar em escritórios de advocacia 99% deles exploram os advogados, só serve para quem quer conseguir algum tipo de experiência na profissão. Outro local que vale a pena advogar é para setores jurídicos de empresas, a carga de trabalho e remuneração são compatíveis. Eu já tinha esta visão no último ano de me formar, trabalhava em um terminal portuário e juntei o máximo de dinheiro que consegui, para abrir e manter meu escritório, e Graças a Deus agora com 5 anos na profissão tenho pelo menos estabilidade financeira no ramo. Não fiquem apenas focando em concurso público, existe mais pessoas no mercado do que os concursos podem absorver. continuar lendo

Gostei do depoimento. Realmente também já passei por isso e já me senti sufocada com trabalhos massificados e robóticos. O importante é não ficar parado! Se não há identificação com o escritório ou a profissão: MUDE. Seja em outra área, outra profissão...

Parabéns pelo sincero, verídico e atualíssimo depoimento! continuar lendo